27 Setembro 2019
Passa por ser um fiel amigo e defensor do Papa e não esconde. O cardeal alemão Walter Kasper esteve há pouco tempo em Madrid, no Encontro Internacional pela Paz, da arquidiocese de Madrid e da comunidade Santo Egídio, e nos concedeu essa entrevista exclusiva. Simples e próximo, responde a todos sem rodeios, nem falsa prudência. Crê que o Papa não tem medo do “espantalho do cisma” que levantam “muito poucos”, assegura que a ordenação de homens casados, depois do Sínodo, dependerá da decisão unanime dos bispos da região, e ameniza o atrito da Igreja alemã com Roma, afirmando enfaticamente, que o Papa está preparando sua sucessão, com a nomeação de novos cardeais, e que “o povo não aceitaria que o próximo conclave elegesse um Papa “ao contrário”.
A entrevista é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 26-09-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Acabastes de estar com o papa Francisco, segue com a força de sempre?
Sim, o Papa segue tendo muitíssima força. Tem uma moção interior que o impulsa a seguir adiante e não tem medo das críticas que circulam contra ele, inclusive dentro do mundo católico. Ele segue seu caminho e está muito bem, inclusive fisicamente, para um homem de 82 anos. E a prova é que segue trabalhando incansavelmente.
Nem sequer tem medo do cisma, como acabou de dizer.
O Papa não tem medo algum do cisma.
E você?
Eu tampouco creio que vá se produzir um cisma. Os que agitam esse espantalho são pequenos grupos que estão abertamente contra o Papa, porém há que saber e ter em conta que são poucos, muito poucos, ainda que fazem muito barulho pelos meios de comunicação. Não tem que dar importância a eles.
O que espera do Sínodo da Amazônia?
Esse Sínodo da Amazônia será muito importante e significativo para as igrejas encarnadas nas culturas daquela zona do mundo.
Será aprovado no Sínodo o acesso de alguns homens casados ao sacerdócio?
O problema da falta de vocações na Amazônia é muito sério e esse tema da ordenação de homens casados, como outros, dependerá da decisão e da unanimidade dos bispos da região. O Papa, com seu espírito sinodal, colocará em marcha suas decisões, se há um consenso suficiente entre os bispos.
A Igreja alemã também vai celebrar um Sínodo e parece que tem problemas com o Vaticano.
Sim, alguns tem problemas com o Vaticano. Sempre houve uma tensão entre Alemanha e Roma. É algo histórico, porém nesses momentos posso dizer que imensa maioria da Igreja alemã está em sintonia total e profunda com Roma. Há alguns nervos no ambiente, porém creio que serão superados.
Você passa por ser um dos pilares no quais Francisco se apoia.
Sim, eu estou encantado com esse Papa. Creio que esse Papa é o Papa justo para esse momento da história do mundo.
Com os cardeais do próximo consistório, os eleitos por Francisco serão já maioria. Assegura assim, o Papa, sua sucessão?
Sim. Dá a impressão que com as nomeações cardinalícias o que quer o Papa é assegurar sua sucessão.
Em que sentido?
Creio que, no próximo conclave, não se pode escolher um Papa que engate a “marcha ré”. O povo não o aceitaria.
Crês em alguém que possa suceder ao papa Francisco?
Essa é uma questão aberta e que ainda não procede.
Está, então, convencido que, depois de Francisco, não pode haver marcha ré?
Não, não é possível. O povo não o aceitaria, porque quer um Papa normal, humano e não um Papa imperial, como os do passado.
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“Creio que o povo não aceitaria que o próximo conclave elegesse um Papa que engatasse a ‘marcha ré’”, afirma o cardeal Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU