10 Junho 2025
Na vida e na fé, não sejam mornos. Não pratiquem, como os ignavos dantescos, a arte do compromisso discreto, mas sim o seu oposto, a "honestidade intelectual". O Apocalipse diz isso e o teólogo Vito Mancuso nos lembra: "Melhor seria que você fosse frio ou quente! Assim, porque você é morno, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca". Uma citação, que é também uma declaração de intenções e um método de trabalho, e marca o ritmo do diálogo com Carlo Petrini, fundador do Slow Food, sobre uma Igreja em profunda crise e em transformação.
A reportagem é de Miriam Massone, publicada por La Stampa, 05-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Do Papa Francisco ao Papa Leão XIV, os dois editorialistas de La Stampa, "antimornos", confidenciam memórias e oferecem uma bússola para tentar não se perder em um mundo cada vez mais obscuro e desprovido de referências espirituais, entre passado e presente: "Nunca aconteceu na história do homem de estarmos, como hoje, em uma sociedade sem religião", diz Mancuso, questionado pelo vaticanista Giacomo Galeazzi, que lhe pergunta sobre o atual pontificado, no palco do evento para o lançamento do novo design gráfico do La Stampa. "Hoje não sabemos onde prender o nosso coração, nem mesmo os nossos medos", alerta Mancuso. "Políticos e intelectuais" não sabem como interceptá-los. Estamos nos debatendo em um mar de ansiedade, violência, guerras, sem paz nem sentido. Um vazio que a Igreja "poderia preencher, se fizesse bem o seu trabalho. Pelo menos, esse é o papel da religião. Mas o problema “é que hoje a Igreja está em crise. Crise. Crise", repete três vezes: "O cristianismo está agora em agonia."
Mas, no entanto, aquele coração, em perpétuo sofrimento, Francisco, o "papa do povo", era capaz de vê-lo e acariciá-lo. "Mais próximo dos distantes do que dos próximos", recorda Galeazzi, aludindo aos conflitos internos da Igreja, dos quais foi objeto, mas também à sua extraordinária popularidade e empatia com os últimos, o Papa Bergoglio estava habituado a telefonemas inesperados.
Fez isso também com Petrini: "Em outubro de 2013, eu estava em Paris. O telefone toca, número desconhecido, eu atendo. É o Papa Francisco. E eu sou Carlin Petrini, prazer em conhecê-lo. Conversamos por vinte minutos sobre economia de subsistência: ambos concordávamos que as nossas sociedades a haviam abandonado precipitadamente em favor de uma economia da acumulação cujo único efeito é criar desigualdades irreparáveis”.
A partir daquela conversa começou uma longa amizade. No pano de fundo, as origens piemontesas compartilhadas e as raízes camponesas como um elo. Eles frequentemente falavam em dialeto: “Também lhe contei sobre minha avó, que tinha se casado com um comunista e quando o padre, sabendo que ela votava como o marido, não quis lhe dar a absolvição, ela lhe disse: ‘Então fique com ela!’"
Conscientemente insatisfeito, Petrini, que define “Cristo, o primeiro socialista”, frisa: “Eu lhe revelei um provérbio da minha região: ‘Quem faz o que o padre diz, vai para o paraíso; mas quem faz o que o padre faz, vai para a casa do diabo’". Resposta? “Aí, ele me disse: ‘Bem, sim, na verdade isso é um pouco anticlerical, mas de qualquer forma o Evangelho também fala disso...", daqueles que pregam o bem e praticam o mal.
É impossível, porém, e talvez até injusto, cair na tentação de comparar os dois Papas, com personalidades e perfis tão diferentes. Um parecer sobre Leão XIV? Mancuso suspira e sorri, passa por cima do telefonema entre o novo pontífice e Putin (do qual lhe é pedida uma interpretação) e concentra-se, em vez disso, nos "desiderata", ou seja, sobre aquelas que ele acredita serem as qualidades imprescindíveis, hoje, para dar uma nova direção à Igreja e ajudar o cristianismo a sair da agonia: “Como se julga um Papa? Com base na sua capacidade de ser líder da Igreja ou na sua capacidade de ser profeta de um mundo que precisa de esperança e também de disciplina? Porque não se trata apenas de tranquilizar, mas também de não ser mornos, precisamente, de saber bater com os punhos na mesa, saber falar do bem e do mal, saber criticar. E conseguir falar de ‘genocídio’, Francisco fez isso”.
Francisco, primeiro entre todos, também compreendeu a importância de cuidar do meio ambiente, daquela Mãe Terra que, invertendo as palavras, é a missão de Petrini: "O Papa me contou que em 2007 esteve na Conferência dos bispos latino-americanos e, diante de alguns prelados que falavam sobre meio ambiente, desmatamento e exploração de recursos, se perguntou onde estava. Mas não deveríamos falar de espiritualidade? Oito anos mais tarde, escrevia a Laudato si'." A melhor lembrança? "O Sínodo Pan-Amazônico, onde vi Bergoglio acolher as lutas dos indígenas e das mulheres que reivindicavam mais espaço."
Petrini, o agnóstico declarado. E Mancuso é cristão? "Sem o cristianismo, eu não seria quem sou, mas o cristianismo não me define, e acho que essa é a tarefa da espiritualidade em nosso tempo."