23 Mai 2025
Até que ponto o caminho da paz emerge da frequência do adjetivo “humanitário” na Cúria.
O artigo é de Giacomo Galeazzi, publicada por La Stampa, 21-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Trump, “como um elefante em uma loja de cristais”, prevê uma iminente cúpula Ucrânia-Rússia, mas a Secretaria de Estado continua a “trabalhar nos bastidores”, explica um diplomata papal ao La Stampa. O modelo é o das iniciativas humanitárias realizadas na Terra Santa e na África para ajudar os civis: “Começa pelos corredores de alimentos e continua com a negociação de um cessar-fogo”.
No momento, “não se trata de entrar em questões políticas, mas de colocar na pauta o sofrimento das crianças, a troca de prisioneiros, a liberação das ajudas. Discutir fronteiras, arranjos geopolíticos e concessões territoriais não é tarefa da Santa Sé, a menos que as partes lhe atribuam uma tarefa específica, como na Colômbia, no Canal de Beagle, em Cuba (para o fim do embargo dos EUA)”. Não há um cronograma, mas nos palácios sagrados estão pensando em um período de dez dias: primeiro a parte humanitária para começar a conversar, depois as questões mais ligadas a acordos. “Não somos uma alternativa a Istambul, mas uma plataforma humanitária paralela e complementar ao espaço de negociação mais rigoroso e desafiador criado por Recep Erdogan”.
Enquanto isso, na Casa Branca, chovem outras solicitações. “Gosto do Papa e de seu irmão que é Maga”, diz o magnata, ”não consigo pensar em um lugar melhor para as negociações entre a Ucrânia e a Rússia do que o Vaticano. O envolvimento do Papa nas negociações não significa um papel menor para os Estados Unidos. As conversas em Roma teriam um significado grandioso”. O Ministro da Defesa polonês, Wladyslaw Kosiniak-Kamysz, também falou à margem do Conselho de Defesa da UE: “O envolvimento do Santo Padre dá esperança para a paz, mesmo que sejam necessários muitos esforços para um cessar-fogo incondicional de 30 dias em terra, no mar e no ar”.
Para Alexander Baunov, ex-diplomata russo e pesquisador do Carnegie Eurasia Center, em Berlim, a proposta de realizar as conversações de paz no Vaticano é “uma improvisação de Trump, perplexo pelo fato de que, após as boas relações entre Putin e Francisco, o novo Papa é estadunidense e favorável a Kiev”.
Portanto, Putin “não considera conveniente transferir as negociações de Istambul para a Santa Sé” porque ele “compartilha com Erdogan a agenda de potência emergente na periferia do Ocidente”. E as negociações sobre o trigo já foram realizadas na Turquia”. Leão XIV já havia expressado sua disposição de se envolver no diálogo quando Volodymyr Zelensky indicou o Vaticano como um local adequado para quebrar o gelo. O Kremlin está “ciente da oferta da Santa Sé para sediar as negociações, mas nenhuma decisão foi tomada ainda”, adverte o porta-voz do presidente russo, Dmitry Peskov: “O lado russo é grato a todos aqueles que estão dispostos a contribuir. Mas ainda não foram tomadas decisões específicas sobre o local continuar possíveis negociações futuras”.
Se para Trump “Leão pode ajudar a alcançar a paz”, no Palácio do Governo italiano a linha direta com a Cúria ajuda a se manter no jogo nas mesas internacionais mais quentes. A começar justamente por aquela sobre a crise ucraniana. Até porque, nos dias 10 e 11 de julho, a Itália sediará a “Conferência de Recuperação da Ucrânia”. E se as condições para um cessar-fogo prolongado e estável forem confirmadas, o evento terá um significado ainda maior. O novo curso de Prevost devolveu centralidade à Secretaria de Estado e, com o Jubileu em andamento, as relações entre as duas margens do Tibre são constantes. O cardeal Pietro Parolin e o subsecretário Alfredo Mantovano cooperam institucionalmente para o Jubileu e removem obstáculos em matérias compartilhadas, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, coopera com a Santa Sé nas iniciativas humanitárias no Oriente Médio, a última das quais é a ponte sanitária com Gaza para crianças com câncer implementada com o Patriarcado de Jerusalém e a Comunidade João XXIII.
A própria primeira-ministra Giorgia Meloni, cujo “baixo perfil” foi apreciado no Vaticano na delicada fase da passagem de pontificado em relação aos endossos pré-Conclave de seus homólogos dos Estados Unidos, da França e da Hungria, “considera positiva a disponibilidade do Santo Padre de sediar as conversações no Vaticano”. E garante que “a Itália está pronta para fazer sua parte para facilitar os contatos e trabalhar pela paz”. Em muitos casos, os poderes civil e religioso reforçaram juntos obras e projetos geopolíticos. Desde as estratégias sobre o Oriente Médio conciliadas por Paulo VI e Aldo Moro até a ajudas da “galáxia branca” ao Solidarnosc durante a guerra fria.
“Não existe mais o colateralismo eleitoral como nas épocas da DC e Ruini”, afirma ao La Stampa o sociólogo Massimo Introvigne, fundador do Cesnsur e ex-delegado da OSCE para os cristãos discriminados. “Mas, no plano internacional, o jogo pelos lados funciona”. Ou seja, “Meloni ajudas Prevost a se livrar do incômodo Trump. E o Papa a coloca de volta no jogo contra aqueles que, como Macron, tentam marginalizá-la na Europa. A primeira-ministra sabe que muitas realidades católicas olham para a esquerda, mas ela tem bom trânsito no Vaticano, especialmente graças a Mantovano, que presidiu a fundação pontifícia Acs em apoio à Igreja em áreas onde ela é perseguida. Uma tragédia que alarma o ex-superior mundial dos agostinianos e que agora encontra escuta no Trono”.