23 Julho 2024
"Com a visita do Card. Parolin como enviado especial de Francisco [à Ucrânia], aquele nó [nas relações Vaticano-Ucrânia-Rússia] em parte se desata, inclusive porque, nesse meio tempo, os cenários internacionais também estão mudando", escreve Francesco Peloso, jornalista, em artigo publicado por Domani, 20-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Secretário de Estado Pietro Parolin está na Ucrânia desde sexta-feira e permanecerá lá até 24 de julho; trata-se da visita do mais alto representante do Vaticano a Kiev desde o início do conflito em fevereiro de 2022.
A ocasião da viagem é de tipo espiritual, mas, sem dúvida, os conteúdos político-diplomáticos da viagem também são relevantes. De fato, o cardeal foi enviado pelo papa como seu representante para a celebração conclusiva da peregrinação dos católicos ucranianos de rito latino, que acontecerá em 21 de julho no santuário mariano de Berdychiv, na província de Zhytomyr, a oeste de Kiev, um lugar que é destino de peregrinações de fiéis católicos de toda a Ucrânia e também de outros países.
Parolin também fará uma parada em Lviv, Kiev e Odessa, e provavelmente também visitará uma das cidades mais afetadas pelo conflito. Durante a visita, o Secretário de Estado do Vaticano se reunirá com o chefe da Igreja Greco-Católica, o Arcebispo Maior Sviatoslav Shevchuk, e também deveria manter uma série de conversas com as autoridades políticas do país, a começar pelo Presidente Volodomyr Zelensky.
Sabe-se que os ucranianos pediram repetidamente ao papa para ir a Kiev em sinal de solidariedade e proximidade com o país agredido, mas a Santa Sé sempre informou que isso só seria possível se, ao mesmo tempo, fossem criadas condições para ir também a Moscou, para uma dupla peregrinação em sinal de paz e reconciliação.
Posição criticada pela Ucrânia, que via nessa abordagem - por motivos diplomáticos - o risco de que todas as partes envolvidas na guerra fossem colocadas no mesmo plano. Agora, com a visita do Card. Parolin como enviado especial de Francisco, aquele nó em parte se desata, inclusive porque, nesse meio tempo, os cenários internacionais também estão mudando.
Em primeiro lugar, porque o impasse no confronto militar no terreno está determinando uma dificuldade para ambos os lados em obter com as armas progressos significativos, o que aumenta as chances de uma verdadeira negociação direta entre Kiev e Moscou. Não por acaso o presidente ucraniano Zelensky propôs, pela primeira vez, a participação dos russos na conferência de paz que deveria ser realizada em outubro e novembro próximos e, até o momento, o Kremlin não se disse contrário (na última conferência de paz na Suíça, realizada em junho, não havia representantes de Moscou).
Além disso, aquele encontro será precedido por três conferências temáticas sobre o conflito em andamento a serem realizadas entre agosto e setembro: a primeira no Qatar sobre "segurança energética", a segunda na Turquia sobre "liberdade de navegação e segurança alimentar", a terceira no Canadá dedicada à questão da troca de prisioneiros e da restituição das crianças ucranianas sequestradas pelo exército russo (fato que determinou à emissão de um mandado de prisão pelo Tribunal Penal Internacional contra Vladimir Putin por crimes de guerra, a acusação diz respeito à "deportação ilegal de população").
Além disso, justamente sobre a troca de prisioneiros e o problema das crianças ucranianas se concentrou a ação diplomática e humanitária da Santa Sé no último ano. Sem mencionar que, sem muito alarde, o Vaticano retomou recentemente relações de alto nível com Moscou e Kiev.
Em 11 de julho passado, por exemplo, o papa recebeu em audiência Antonij, Metropolita de Volokolamsk, presidente do Departamento de Relações Exteriores do Patriarcado de Moscou. Antonij havia estado no Vaticano pela última vez em maio de 2023. Também deve ser ressaltado, no entanto, que no dia anterior, em 10 de julho, a vice-presidente do parlamento ucraniano, Olena Kondratiuk, que estava na Itália para uma série de encontros institucionais, teve uma reunião no Vaticano com o arcebispo Paul Richard Gallagher, responsável pelas relações com os Estados na Secretaria de Estado.
"A vice-presidente do Parlamento", explicava um comunicado ucraniano, "expressou gratidão pelo apoio constante e inabalável do Vaticano à Ucrânia diante da agressão armada da Rússia. Em particular, nas organizações internacionais e no fornecimento de ajuda humanitária".
Em seguida, a representante de Kiev enfatizou a importância "dos esforços da Santa Sé para o retorno dos prisioneiros de guerra ucranianos e das crianças deportadas. A recente libertação de dois padres greco-católicos ucranianos do cativeiro russo se deveu aos esforços e à mediação do Vaticano".
Olena Kondratiuk também se reuniu com o cardeal Matteo Zuppi, enviado especial do papa para o conflito ucraniano, que está profundamente envolvido na questão do sequestro de crianças. "Em meu nome e em nome do parlamento ucraniano", Olena Kondriatuk escreveu no X, "agradeci ao Cardeal Zuppi por seu grande empenho numa missão de mediação muito importante". Depois explicou que a atuação do presidente da Conferência Episcopal Italiana "está gradualmente dando frutos. Trata-se principalmente de humanidade e valores cristãos. Esperamos ansiosamente por sua visita à Ucrânia em um futuro próximo". O card. Zuppi, em suma, logo estará aprontando as malas para partir para Kiev.
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Parolin na Ucrânia, os esforços do Vaticano para abrir um diálogo. Artigo de Francesco Peloso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU