A diplomacia prudente de Leão XIV para sediar as negociações entre Ucrânia e Rússia

Foto: Vatican News

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21 Mai 2025

Como na época da Guerra Fria, a solenidade pública da cerimônia papal foi acompanhada pelo trabalho de bastidores da diplomacia pontifícia.

A informação é de Giacomo Galeazzi, publicado por La Stampa, 19-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.

Em São Pedro, de acordo com o fundador da comunidade de Santo Egídio, Andrea Riccardi, “o senso de unidade da Igreja se irradia para todos os conflitos, inclusive o da Ucrânia”. Mas a expressão “paz justa” incomoda o Kremlin e, por isso, faz meia volta o avião da ministra da Cultura da Rússia, Olga Liubimova, que esteve presente no funeral de Francisco. Mensagem no estilo soviético e substituição in extremis pelo embaixador Ivan Soltanovsky.

Por trás das “razões técnicas” estava a irritação de Vladimir Putin pelo reposicionamento da Santa Sé em relação à era Bergoglio (segundo a qual “a OTAN está latindo às portas da Rússia” e existe a “coragem da bandeira branca”). Um ministro do Vaticano explica ao La Stampa: "Francisco era mais impulsivo, logo após a invasão da Ucrânia ele fez uma visita surpresa à embaixada russa na Via della Conciliazione. Para se mostrar equidistante, ele às vezes colocou a diplomacia do Vaticano em dificuldades. Leão, por outro lado, é mais institucional. Ele imediatamente disse aos embaixadores para se dirigirem à Secretaria de Estado e, depois de consultá-la, se ateve aos encontros bilaterais para entender a situação, embora no início pensasse em um encontro a três com JD Vance e Volodymyr Zelensky. Ele não quis cortar as pontes com Moscou do ponto de vista político e ecumênico".

O Patriarca Kirill (com suas conexões na Bulgária, na Sérvia e na própria Ucrânia) continua sendo um interlocutor precioso, o primeiro na história a se encontrar com um papa. O prelado da Cúria continua: “Leão XIV quer continuar a falar com todos e se mostrou atento à doutrina social da Igreja ao falar de uma paz duradoura e justa, enquanto as negociações tratam de questões humanitárias, da troca de prisioneiros e da infância”. Portanto, nada de encontro a três ontem, para “não comprometer a indispensável ampliação à contraparte russa”. Enquanto forem bilaterais (ontem Zelensky, hoje Vance), o papa não parece tomar partido e pode, portanto, desempenhar um terceiro papel. Mas o fracasso da cúpula de Istambul leva a Santa Sé a não ter ilusões sobre a viabilidade de um bis na Cúria. “Não é provável que isso aconteça, Vance será informado sobre o resultado da exploração feita pelo Vaticano nas conversações à margem do encontro”, apontam na Cúria. A Santa Sé está pronta para se tornar o espaço físico e garantidor das negociações.

“O legado de Francisco, exceto por alguns mal-entendidos, é ter boas relações com todos para criar um clima e um contexto favoráveis ao entendimento e à paz”, observa o professor Agostino Giovagnoli, historiador da Universidade Católica do Sagrado Coração. Isso funcionou na Colômbia, em Cuba para o fim do embargo dos EUA e no encontro entre Abu Mazen e Simon Peres nos Jardins do Vaticano.

Também importante, no sábado, foi o encontro entre Parolin e seu colega estadunidense Marco Rubio e entre este último e o enviado papal na Ucrânia, Matteo Zuppi. Com o primeiro, os temas foram vários, e com o segundo, especificamente a guerra. Ao retornar a Washington, o resultado da mediação será informado a Donald Trump. O Vaticano tem seu próprio timing, mas sabe como ler os sinais além do mero viés propagandístico. Isso é demonstrado por ter entendido que a eleição dos dois bispos chineses após a morte de Francisco não foi uma afronta de Pequim à Santa Sé, mas uma decisão tomada há tempo". Ontem, Zelenski esperou uma hora para que Leão cumprimentasse todas as delegações e, em 45 minutos, houve a conversa com o novo pontífice.

Um encontro positivo, tanto que o presidente ucraniano agradeceu a Leão e ao Vaticano “por sua disposição de servir como plataforma para negociações diretas entre a Ucrânia e a Rússia”. Hoje, há encontro com Vance para colocar mais uma peça no difícil mosaico da paz, no qual Leão se engajou pessoalmente com agostiniana prudência e cartesiana meticulosidade. Uma diplomacia “comedida e gradual” para não frustrar a esperança de sediar as conversações entre a Ucrânia e a Rússia no Vaticano, mantendo aberto um canal de diálogo com Moscou também através das relações ecumênicas ainda em curso com a Igreja Ortodoxa.

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