07 Novembro 2024
Herdeiro do movimento Make America Great Again e autor do livro "Era uma vez um sonho", o senador de 40 anos passou de crítico a apoiador fervoroso de Trump.
A reportagem é publicada por DW, 06-11-2024.
A ascensão de J.D. Vance nas fileiras republicanas foi confirmada em julho, quando o então senador foi escolhido por Donald Trump para ser vice em sua chapa na disputa à Casa Branca. Muitos especialistas o veem como herdeiro do movimento Make America Great Again (Faça a América Grande Novamente) e favorito para ser o candidato presidencial republicano em 2028.
Vance, de 40 anos, está em seu primeiro mandato no Senado. A nomeação completa sua vertiginosa transformação em um novo rosto do Partido Republicano, já que, em sua recente vida política, o senador passou de opositor a aliado fervoroso de Trump. Sua ascensão à vice-presidência não foi convencional para os padrões republicanos.
Crítico da ajuda americana à Ucrânia e apoiador de regimes mais restritivos contra a imigração, o senador tem apelo entre eleitores da classe trabalhadora do Meio Oeste americano, região importante para a eleição presidencial.
Nascido e criado em Middletown, em Ohio, Vance foi criado pelos avós maternos, enquanto sua mãe lutava contra o vício em drogas e álcool. Ele cresceu em uma família operária no chamado "cinturão da ferrugem" americano, região profundamente marcada pelo declínio industrial nos EUA. Depois de terminar a escola, ele se juntou aos fuzileiros navais e serviu no Iraque. Mais tarde, se formou em direito pela Universidade Yale e iniciou uma carreira no Vale do Silício antes de entrar na política.
Em Yale, ele conheceu sua esposa, a advogada Usha Chilukuri Vance, filha de imigrantes indianos. O casal se casou em 2014 e tem três filhos.
Vance ganhou destaque nacional com o livro de memórias Era uma vez um sonho, best-seller lançado em 2016, ano em que Trump estava concorrendo pela primeira vez à presidência. O livro descreve a origem familiar caótica de Vance e faz uma reflexão sobre as comunidades majoritariamente brancas da região da cordilheira dos Apalaches, marcadas pela pobreza, abuso de drogas, violência doméstica e falta de perspectiva.
A obra foi especialmente aclamada pela classe trabalhadora branca, a mesma que ajudou o ex-presidente a se eleger naquele ano e alçou Vance a uma condição de "porta-voz" dessas comunidades.
Embora aclamada em vários círculos por lidar com temas considerados tabus, a obra também rendeu algumas críticas negativas, especialmente por Vance atribuir parte significativa dos problemas dessas comunidades a uma cultura autodestrutiva e más decisões individuais, e não a barreiras econômicas.
Depois que Trump venceu a eleição de 2016, Vance voltou para seu estado natal, Ohio, e criou uma instituição de caridade contra o uso de opioides. Ele também começou a dar palestras e passou a ser convidado a jantares do Partido Republicano, onde sua história pessoal – incluindo as dificuldades que enfrentou por causa do vício em drogas de sua mãe – ganhou fôlego.
Vance usou suas aparições públicas para vender suas ideias para consertar o país e lançar as bases para entrar na política. Até então, evidenciava um perfil mais moderado, com vocação social, e se colocava como um republicano, mas "nunca Trump". À época, o empresário chegou a chamar Trump de "perigoso", "idiota" e "inapto" para o cargo.
Na época, Vance também criticou a retórica de Trump, dizendo que ele poderia ser "o Hitler da América".
Mas quando Vance conheceu o ex-presidente em 2021, mudou sua opinião, e passou a citar as conquistas do bilionário como presidente. Ambos minimizaram as críticas feitas no passado, e Vance acabou vencendo a primária republicana e a eleição geral naquele ano com o endosso do ex-presidente.
Com o tempo, ele desenvolveu uma forte afinidade com Trump e passou a defendê-lo após eleito, classificando suas críticas passadas como um erro. Carismático, Vance virou figura popular na televisão, onde passou a ser um enérgico e leal defensor de Trump.
Para os democratas, Vance é um extremista. Chamado por Biden de um "clone de Trump", Vance ecoou a alegação falsa de que as eleições presidenciais em 2020 foram fraudadas. O senador disse que não teria certificado os resultados imediatamente se fosse vice-presidente e disse que Trump tinha "uma queixa muito legítima". Uma série de investigações governamentais e externas, porém, não encontraram qualquer fraude eleitoral que pudesse ter mudado o resultado da derrota de Trump para o presidente democrata Joe Biden.
Vance também sinalizou apoio a um impedimento nacional do aborto após 15 semanas durante sua campanha para o Senado, por exemplo, mas suavizou essa posição uma vez que os eleitores de Ohio apoiaram esmagadoramente uma emenda de direitos ao aborto em 2023.
No Senado, porém, Vance às vezes abraça o bipartidarismo. Ele e o senador democrata de Ohio, Sherrod Brown, promoveram um projeto de lei de segurança ferroviária após um descarrilamento de trem em seu estado natal. Ele defendeu uma legislação que estende e aumenta o financiamento para a restauração dos Grandes Lagos e ainda apoiou uma legislação bipartidária que beneficia trabalhadores e famílias.
Pouco dias depois de seu anúncio como vice, Vance se viu no centro de uma tempestade de críticas feitas por celebridades, políticos democratas e até fãs da cantora Taylor Swift, após uma entrevista concedida por ele em 2021 voltar a viralizar nesta semana. Na ocasião, ao falar num programa do canal de direita Fox News, Vance descreveu os EUA como um país que sofria nas mãos de "um bando de mulheres amarguradas que têm gatos em vez de filhos".
Na mesma entrevista, Vance identificou seus rivais democratas como o principal veículo de dominância dessas "amarguradas" que, segundo ele, "estão infelizes com suas próprias vidas e com as escolhas que fizeram, e por isso querem deixar o resto do país infeliz também".
Ele ainda despertou a ira de comunidades em sua terra natal, Ohio, ao compartilhar alegações falsas de que imigrantes haitianos estariam raptando os cães e gatos dos vizinhos para comer. Trump propagou ainda mais essa mentira durante um debate contra Kamala Harris.
Enquanto Trump dominará as manchetes como presidente, um olhar atento será mantido na abordagem de Vance a temas importantes como aborto, imigração e política externa, além de como suas posições podem moldar o Partido Republicano na era pós-Trump.
Embora o vice-presidente raramente esteja evidência, com Trump assumindo a Presidência aos 78 anos, há uma grande chance de Vance acabar ocupando o Salão Oval em algum momento nos próximos quatro anos.
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Quem é J.D. Vance, o ambicioso e polêmico vice de Trump - Instituto Humanitas Unisinos - IHU