21 Mai 2025
Dom Roberto Repole é arcebispo de Turim e bispo de Susa.
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 19-05-2025.
Cardeal Roberto Repole, Arcebispo de Turim, muitos se perguntam se Leão XIV estará em sintonia com o pontificado de Francisco ou se seguirá caminhos diferentes. Que sinais estão surgindo dos primeiros dez dias?
Parece-me claro que o Papa Leão continuará nas linhas básicas propostas por Francisco. No entanto, ele o fará à sua maneira. Um Papa é sempre o sucessor de Pedro, tem a tarefa de confirmar os irmãos na fé e ser um sinal de unidade na Igreja; não é e não deve ser o clone do seu predecessor. Creio que Leão poderá ajudar toda a Igreja a consolidar algumas das opções do Papa Francisco e a compreender o seu significado teológico. Parece-me igualmente claro que o Papa está bem ciente da crise do ser humano que caracteriza o mundo contemporâneo.
Foram dias históricos para a Igreja e para o mundo. Como o senhor explica a imensa multidão que se reuniu na Praça de São Pedro e conectada em todo o planeta no dia da eleição do Papa?
É sempre difícil dizer o que anima milhões de pessoas. Penso, porém, que num mundo em que crescem os tiranos e em que somos cada vez mais escravizados por sermos reduzidos a consumidores e objetos de cálculo, há uma imensa necessidade de pais. Fiquei impressionado, olhando de cima para a imensa Praça de São Pedro tão lotada, pelo entusiasmo contagiante à simples notícia de que havia Papa, mesmo antes de saber quem ele era. Vê-se nele um pai, como se pode ver em bispos ou em padres que realmente dão a vida. Um pai que se reporta ao Pai celestial, por quem nos sentimos protegidos, orientados e habilitados a sermos realmente livres. Os tiranos seduzem e nos devoram. Os pais nos permitem ser e nos tornarmos nós mesmos.
A eleição também era esperada por seu peso geopolítico.
Certamente. No entanto, essa forma de ler a eleição do Papa, que dominou nos infinitos comentários, antes e depois, me parece muito parcial e, portanto, pouco inteligente.
Por quê?
Não se consegue ler a realidade senão segundo a lógica do poder, reduzida, em grande parte, a um substantivo (quem comanda) e não a um verbo (o que pode ser iniciado e feito). É uma leitura pobre para compreender até mesmo a vida real das pessoas. Se as pessoas não vão mais votar, é também por isso: tem-se a impressão de que se trata de buscar o líder, quem deveria ter o poder, e não de abordar os problemas reais que agitam a vida concreta de milhões de pessoas. É uma leitura ainda mais pobre e inadequada quando se trata da Igreja, na qual têm primazia as palavras de Jesus: os poderosos deste mundo comandam, mas entre vocês não é assim, porque o primeiro é o servo de todos.
A eleição do Papa estadunidense é uma derrota para os episcopados da Itália e da Europa?
Veja, penso cada vez mais que algumas leituras político-sociológicas são fortemente inadequadas, porque não conseguem apreender algo fundamental. O princípio da socialização da Igreja não é a nação, a raça, o censo, a cultura... mas é a fé em Jesus Cristo. Uma leitura incapaz de compreender isso não será capaz nem mesmo de apreender o que significa que a Igreja é católica, que está aberta a todos e à totalidade do homem. E, portanto, que não importa de que país venha o Papa. Parece-me que essa é uma visão vítima da secularização do nosso mundo ocidental. Aliás, também pode ser defendida por aqueles que se professam cristãos, mas cujo conhecimento do cristianismo se reduz ao que aprenderam no catecismo ou pouco mais. Fala-se muito em interdisciplinaridade. Sei que muitos teólogos leem sobre outras disciplinas. Duvido que aqueles que comentam a realidade da Igreja conheçam, por exemplo, o pensamento dos Capadócios, de um Doroteu de Gaza ou de Efrém, da Síria, dos Vitorinos medievais ou dos grandes Teólogos do século XX da escola de Lyon-Fourvière ou Le Saulchoir.
Nos dias que antecederam o Conclave, falou-se muito sobre grupos concorrentes entre os cardeais. Depois, o Papa foi eleito em 24 horas. O que isso significa?
É um sinal de que a Igreja está muito mais unida do que aparenta a partir dos meios de comunicação, especialmente nas novas mídias. É um sinal de que talvez um certo mundo midiático seja muito barulhento, mas isso não significa que interpreta a realidade, nesse como em muitos outros aspectos. É o sinal de que a Igreja é una, porque a fé em Cristo é capaz de criar unidade entre pessoas diferentes por cultura, origem e até mesmo rito... fazendo resplendecer as diferenças e não as sufocando.
O centro de gravidade do mundo cristão está em outros continentes. O que o senhor diria ao novo Papa sobre o estado de saúde do cristianismo na Europa e o papel da Igreja?
Eu lhe diria que estamos em um momento em que devemos perceber, em termos concretos, o que o Concílio Vaticano II nos ensinou: a Igreja é missionária sempre e em toda parte, não há lugares onde a missão possa ser suspensa. A Europa não é exceção. Trata-se de ver hoje como redescobrir isso, parando de dar como certo que nascemos e crescemos normalmente como cristãos. Não somos uma minoria, mas não podemos mais dizer que somos normalmente cristãos. Precisamos rever nossa própria maneira de estar presentes neste mundo, para que as energias se concentrem em transmitir o Evangelho àqueles que não o encontraram ou àqueles que têm um conhecimento superficial e até enganoso dele. Sabendo que existem possibilidades fascinantes.
O que o senhor pensou quando o primeiro Papa estadunidense aceitou o cargo diante de vocês, cardeais?
Que o Espírito de Deus estava e está agindo, e que Prevost era um homem de Deus, generoso e profundamente eclesial. Acima de tudo, continuei a rezar, como antes.
O senhor que conheceu o Cardeal Prevost, o que espera de seu pontificado?
Espero que ele infunda em todos nós e no mundo inteiro um pouco daquela paz e serenidade que o distinguem. Ele convidou desde o início à paz, mas esse anúncio tem autoridade porque vem de um homem autenticamente em paz, porque está unido ao Cristo ressuscitado.