19 Mai 2025
Na atual era digital, o Papa Leão XIV afirmou: “devemos redescobrir, enfatizar e cultivar o nosso dever de formar outros no pensamento crítico, combatendo tentações em sentido contrário, que também podem ser encontradas em círculos eclesiais.” Ele também declarou que devemos nos comprometer “a encontrar e ouvir os pobres, que são um tesouro para a Igreja e para a humanidade.”
A informação é de Gerard O’Connell, publicada por America, 17-05-2025.
Observando que “há tão pouco diálogo ao nosso redor; os gritos frequentemente o substituem, muitas vezes na forma de fake news e argumentos irracionais propostos por poucas vozes barulhentas,” o Papa Leão disse que “reflexão e estudo mais profundos são essenciais.” Ele acrescentou que os pobres são “um tesouro para a Igreja e para a humanidade. Seus pontos de vista, embora frequentemente ignorados, são vitais se quisermos ver o mundo com os olhos de Deus.”
Ele fez essas observações em 17 de maio, em seu discurso aos membros da Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice, criada por João Paulo II em 1993 para estudar e divulgar a doutrina social da Igreja. A fundação realiza sua conferência internacional anual em Roma e está focada no tema “Superando Polarizações e Reconstruindo a Governança Global: Os Fundamentos Éticos.”
Um documento conceitual da conferência observa que a ordem internacional, construída desde o fim da Segunda Guerra Mundial, corre o risco de colapsar, em parte porque “os princípios éticos que sustentaram a ordem internacional nos últimos 80 anos estão hoje sob ataque” — princípios que “refletem amplamente os valores universais do Pensamento Social Católico, desde o bem comum até a solidariedade, do desenvolvimento humano integral à ecologia integral, da subsidiariedade e erradicação da pobreza aos direitos humanos, liberdade e supranacionalismo.” O documento afirma que a conferência busca mostrar que o abandono desses valores causa “polarização crescente e conflitos que ameaçam a paz e o desenvolvimento.”
O Papa Leão XIV disse que o tema da conferência “nos fala da finalidade mais profunda da doutrina social da Igreja como contribuição para a paz e o diálogo a serviço da construção de pontes de fraternidade universal.” Durante este tempo pascal, ele afirmou, “percebemos que o Senhor Ressuscitado sempre vai à nossa frente, mesmo nos momentos em que a injustiça e a morte parecem prevalecer.”
Repetindo o que disse em seu primeiro discurso ao mundo da sacada central da Basílica de São Pedro após sua eleição, em 8 de maio, ele convocou os fiéis “a construir pontes por meio do diálogo e do encontro, unindo-se como um só povo, sempre em paz.”
Ele recordou que o Papa Leão XIII (1878–1903), em uma época de “mudança profunda e disruptiva”, buscou “promover a paz incentivando o diálogo social entre capital e trabalho, entre tecnologia e inteligência humana, entre diferentes culturas políticas e nações.”
Mais recentemente, disse ele, o Papa Francisco, em uma mensagem à assembleia plenária da Pontifícia Academia para a Vida, em março passado, “falou de uma ‘policrise’ ao descrever a natureza dramática da nossa época, marcada por guerras, mudanças climáticas, crescentes desigualdades, migrações forçadas e contestadas, pobreza estigmatizada, inovações tecnológicas disruptivas, insegurança no trabalho e precarização dos direitos trabalhistas.”
Sobre questões tão importantes, afirmou Leão XIV, “a doutrina social da Igreja é chamada a oferecer insights que facilitem o diálogo entre ciência e consciência e, assim, dar uma contribuição essencial para uma melhor compreensão, esperança e paz.” Ela nos ajuda a compreender que “mais importante do que nossos problemas ou eventuais soluções é o modo como os abordamos, guiados por critérios de discernimento, sólidos princípios éticos e abertura à graça de Deus.”
Ele disse que a doutrina social da Igreja, “com sua abordagem antropológica específica, busca incentivar um engajamento genuíno com as questões sociais.” Explicou que “ela não pretende deter o monopólio da verdade, seja na análise dos problemas ou na proposição de soluções concretas.” Quando se trata de questões sociais, “saber como melhor abordá-las é mais importante do que dar respostas imediatas ao porquê das coisas ou a como lidar com elas. O objetivo é aprender a enfrentar os problemas, pois eles são sempre diferentes, já que cada geração é nova e enfrenta novos desafios, sonhos e perguntas.” Acrescentou: “Este é um aspecto fundamental de nossas tentativas de construir uma ‘cultura do encontro’ por meio do diálogo e da amizade social.”
O papa agostiniano observou que, para muitas pessoas hoje, as palavras “diálogo” e “doutrina” podem parecer incompatíveis, porque elas pensam na doutrina como “um conjunto de ideias pertencentes a uma religião.” Ele explicou, no entanto, que a palavra doutrina pode ser sinônimo de ciência, disciplina e conhecimento, e “pode ser vista como o produto de pesquisa, e, portanto, de hipóteses, discussões, avanços e retrocessos, todos com o objetivo de transmitir um corpo de conhecimento confiável, organizado e sistemático sobre uma questão.” A palavra deve ser entendida como “uma busca comum, coletiva e até mesmo multidisciplinar da verdade.”
O Papa Leão denunciou a “doutrinação” como “imoral” porque, segundo ele, “sufoca o julgamento crítico e mina a sagrada liberdade de respeito pela consciência, mesmo que errônea. Resiste a novas ideias e rejeita o movimento, a mudança ou a evolução do pensamento diante de novos problemas.”
Por outro lado, disse ele, a doutrina, no que diz respeito ao ensinamento social da Igreja, “visa nos ensinar principalmente como abordar os problemas e, ainda mais importante, como abordar as pessoas. Ela também nos ajuda a fazer julgamentos prudenciais diante dos desafios.”
O papa missionário nascido em Chicago, que trabalhou por muitos anos entre pessoas empobrecidas no Peru, afirmou que “os que nasceram e cresceram longe dos centros de poder não devem apenas ser ensinados sobre a doutrina social da Igreja; eles também devem ser reconhecidos como aqueles que a promovem e colocam em prática.” Ele explicou que “indivíduos comprometidos com o bem comum, movimentos populares e os diversos grupos católicos de trabalhadores são uma expressão dessas periferias existenciais onde a esperança resiste e renasce.” E disse: “Exorto vocês a deixar que a voz dos pobres seja ouvida.”
Ele lembrou aos participantes da conferência que o Concílio Vaticano II afirma, em sua “Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mundo Atual”, que “em cada época, cabe à Igreja o dever de examinar os sinais dos tempos e de interpretá-los à luz do Evangelho, se quiser cumprir sua missão. Em linguagem compreensível a cada geração, ela deve ser capaz de responder às perguntas recorrentes que as pessoas fazem sobre o sentido da vida presente e da futura, e como uma se relaciona com a outra” (Gaudium et Spes, n. 4).
O Papa Leão concluiu encorajando os católicos “a participarem ativamente e com criatividade desse processo de discernimento e, assim, contribuírem, com todo o povo de Deus, para o desenvolvimento da doutrina social da Igreja nesta época de mudanças sociais significativas, escutando a todos e dialogando com todos.”
O Papa Leão disse que, no mundo atual, “há uma sede generalizada por justiça, um desejo por uma paternidade e maternidade autênticas, um profundo anseio por espiritualidade, especialmente entre os jovens e os marginalizados, que nem sempre encontram meios eficazes para expressar suas necessidades” e, além disso, “há uma crescente demanda pela doutrina social da Igreja, à qual precisamos responder.”