05 Mai 2025
“Não, não é verdade”. No briefing de ontem, o diretor da sala de imprensa do Vaticano, Matteo Bruni, respondeu dessa forma àqueles que perguntaram, pois havia circulado em sites tradicionalistas estadunidenses e também em alguns sites italianos, se o cardeal Pietro Parolin tinha problemas de saúde. Perguntado se médicos ou enfermeiros haviam intervindo para atendê-lo durante uma congregação geral, Bruni respondeu: “Não”. Isso também é o conclave. Fake news que circulam em sites e redes sociais para desacreditar candidatos papáveis para a sucessão de Francisco. Sobre o secretário de Parolin, tentaram dizer que ele teve uma queda de pressão. No final das contas, é uma manobra que revela como o cardeal veneziano causa medo e provavelmente ainda está na pole position para a eleição.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por Il Manifesto, 03-05-2025.
Mas não é apenas Parolin que é objeto de atenção especial das franjas mais tradicionalistas. O filipino Tagle, por exemplo, foi acusado de não ser ortodoxo por ter se atrevido a cantar Imagine, de John Lennon, em público algum tempo atrás. E Pizzaballa? Ele é jovem demais para ser eleito, disseram. Já o arcebispo de Marselha, Aveline, foi acusado de não conhecer bem o italiano.
É desde 2013 que o mundo conservador, particularmente EUA, intimamente ligado aos republicanos estadunidenses, vem atacando a Igreja Católica mais afinada com as aberturas de Francisco. E até hoje o jogo continua. Há algum tempo, determinados círculos tradicionalistas vêm enviando seus perfis dos papáveis a todos os cardeais presentes em Roma. O critério com o qual os cardeais são analisados é um só: a suposta defesa da doutrina. Trata-se de um mundo pequeno, mas aguerrido, que tem como ponto de referência o Cardeal Burke, dos EUA, uma espécie de kingmaker da ala tradicionalista.
Há alguns dias, o site conservador The College of Cardinals Report também está se movimentando, enviando missivas traduzidas para o italiano. Apoiado pelo Sophia Institute Press, com sede nos EUA, o site descreve, de um ponto de vista pastoral e espiritual, a predisposição governamental dos candidatos a papa. Para cada um deles, é especificado se é a favor ou contra as questões mais sensíveis relativas à doutrina, à ordenação de diaconisas, à bênção de casais do mesmo sexo, à abolição do celibato sacerdotal, à missa em latim, ao acordo do Vaticano com a China, às questões de mudança climática, à comunhão para divorciados novamente casados. E muito mais. O objetivo dessa operação é claro: reprovar os cardeais que, de acordo com o site, não se importam com a doutrina e a liturgia e promover aqueles que de fato se empenham nesses temas. No banco dos réus está obviamente Francisco: é ele, com seu estilo aberto e inclusivo, que traiu. É ele que deve ser superado.
Burke, patrono emérito da Ordem Soberana e Militar de Malta, outrora ligado a Steve Bannon, aponta o caminho. No X, para seus mais de 75 mil seguidores, transmite uma mensagem clara: “A Igreja e o mundo chegaram a um dos momentos mais turbulentos de suas histórias, histórias que estão intimamente conectadas, uma vez que a Igreja, como Corpo Místico de Cristo, é o instrumento pelo qual o Senhor continua sua missão: a salvação do mundo”.
E ele convida a se unirem “em uma novena de nove dias para o conclave, a Nossa Senhora de Guadalupe, para que ela possa interceder pela Igreja em um tempo de grande provação e perigo”. Burke e seus colaboradores consideram vários cardeais papáveis: de Péter Erdő a Timothy Dolan, de Fridolin Ambongo Besungu a Albert Malcolm Ranjith e Robert Sarah. Mas para saber se seus desejos serão atendidos, será preciso aguardar o conclave.
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