03 Mai 2025
"Os briefings da Sala de Imprensa da Santa Sé se concentram nas questões em discussão. Mas os cardeais estão examinando o caráter uns dos outros, não apenas suas posições sobre uma determinada questão. Pode-se argumentar que esses julgamentos podem ser mais importantes do que qualquer questão específica", escreve Michael Sean Winters, jornalista e escritor, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 02-05-2025.
Esta semana, os cardeais estão discutindo uma variedade de questões, desde as finanças do Vaticano até a sinodalidade. O Conclave é, como esperado, um referendo sobre os esforços de reforma do Papa Francisco.
Mas os cardeais elegerão uma pessoa na próxima semana, não uma plataforma. Portanto, enquanto discutem questões enfrentadas pela Igreja e pelo mundo, também avaliam a personalidade e o caráter uns dos outros.
Essa avaliação se encaixará na dinâmica da votação. Um favorito como o Cardeal Pietro Parolin pode ser criticado por sua falta de carisma. Para aqueles que desejam uma correção de rumo por parte de Francisco, alguém que não corre riscos, o temperamento gerencial de Parolin pode ser atraente. Alguém que surge como uma alternativa a Parolin, como o Cardeal Robert Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, compartilha o temperamento discreto de Parolin, mas é mais claramente favorável à continuidade das reformas de Francisco. A escolha, nesse caso, é uma questão de política, não de personalidade.
Será que os cardeais vão querer alguém com mais carisma?
Se um conclave parecer empatado, com nenhum dos favoritos aparentemente conseguindo garantir os votos necessários, os cardeais podem optar por apostar em alguém menos conhecido, ou até mesmo em alguém mais jovem. No conclave de outubro de 1978, quando se tornou evidente que o Cardeal Giovanni Benelli, de Florença, jamais obteria os dois terços mais um dos votos necessários para a eleição, os cardeais ampliaram sua busca e a estrela do Cardeal polonês Karol Wojtyla brilhou até sua eleição no terceiro dia do conclave.
Como observei anteriormente, se o conclave for para o terceiro dia, todas as apostas serão canceladas. Aí, um candidato mais jovem ou menos conhecido poderá surgir. Os cardeais não querem outro pontificado de 27 anos como o de João Paulo II, mas se os favoritos mais velhos tropeçarem, a busca se ampliará. Um candidato mais jovem ou menos conhecido só se tornará um concorrente se fizer uma intervenção convincente durante as congregações gerais.
Dois nomes que surgem na lista de outsiders que recebem atenção são os cardeais Pierbattista Pizzaballa, Patriarca de Jerusalém para os Latinos, e Pablo David, das Filipinas. Pizzaballa tem apenas 60 anos, o que é considerado jovem para um cardeal, e David só foi criado cardeal em dezembro passado, portanto, não é muito conhecido. Ainda assim, se causarem boa impressão e nenhum outro candidato parecer convincente, um desses dois homens pode se tornar um candidato.
Pizzaballa também é franciscano. Cardeais que vêm de ordens religiosas "se dão bem", disse-me um cardeal. Eles têm um senso de missão eclesial que é internalizado como parte de sua formação em sua ordem religiosa. No consistório de dezembro passado, metade dos novos cardeais pertencia a uma ordem religiosa. O Cardeal Leonardo Steiner, de Manaus, também é franciscano e seu nome consta em algumas listas de papabiles. Prevost é agostiniano. Em Newark, Nova Jersey, o Cardeal Joseph Tobin é redentorista. O Cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat, Marrocos, outro cardeal cujo nome é mencionado com certa frequência, é salesiano.
Um cardeal que pertence a uma ordem religiosa não só tem uma boa reputação, como também é conhecido por outros cardeais que pertencem à mesma ordem. Há oito cardeais franciscanos entre os eleitores e cinco salesianos. Eles se conhecem e vêm de diferentes continentes. É uma rede que pode ser útil quando outros cardeais querem saber sobre alguém cuja contagem de votos está aumentando.
Às vezes, quando há um impasse, os cardeais não procuram alguém novo e empolgante, mas sim alguém seguro e estável, ou pelo menos alguém com quem possam conviver. Essa escolha é especialmente atraente para cardeais eleitores que são mais transacionais e têm um interesse específico em relação ao novo papa. Por exemplo, se um cardeal está se aproximando dos 75 anos, da idade de aposentadoria compulsória, ou mesmo um pouco além disso, sua principal preocupação pode ser garantir um sucessor que desejam. Outros cardeais podem ter uma questão inegociável e, se tranquilizados sobre esse ponto, votarão em um candidato de compromisso que seja visto como competente, senão carismático.
Independentemente de quem surja, uma pergunta pairará sobre qualquer candidato que comece a subir na votação: como ele lidou com os abusos sexuais cometidos pelo clero? É difícil imaginar algo pior para o papado do que eleger um homem que, em pouco tempo, é descoberto por ter acobertado abusos ou, pior ainda, que pode ser acusado de abuso. Suspeito que os cardeais queiram alguma garantia a esse respeito.
Perguntas sobre personalidade vêm com um asterisco enorme. Ser eleito papa é uma responsabilidade enorme, mas desfrutar da confiança de dois terços mais um dos cardeais certamente proporciona mais do que um pouco de autoconfiança à pessoa escolhida. É difícil encontrar uma foto do Cardeal Jorge Bergoglio sorrindo quando esteve na Argentina. Sua eleição como papa o transformou. Os cardeais que elegeram o Papa João XXIII em 1958 pensaram que estavam contratando um velho que não faria nenhuma mudança radical. Em vez disso, ele convocou o Concílio Vaticano II.
Todos nós adoraríamos ser uma mosca na sala do sínodo onde as congregações gerais estão acontecendo. Os briefings da Sala de Imprensa da Santa Sé se concentram nas questões em discussão. Mas os cardeais estão examinando o caráter uns dos outros, não apenas suas posições sobre uma determinada questão. Pode-se argumentar que esses julgamentos podem ser mais importantes do que qualquer questão específica.