15 Abril 2025
"A história de Jesus Cristo – [...] – não permite ao homem construir abstratamente, fora da história, uma figura geométrica de Deus, que então – assim que você a mergulha na história e em contato com suas contradições – imediatamente se despedaça. Ele é a figura do Deus dos amigos de Jó. Ele é a figura ainda difundida entre os cristãos, de um Deus incapaz de suportar o impacto das contradições da existência. A figura de Deus revelada por Jesus está, ao contrário, na história e nas suas contradições – das quais a cruz é a explosão – que revelam o seu verdadeiro rosto, e não o negam", escreve Roberto Mela, teólogo e professor da Faculdade Teológica da Sicília, em artigo publicado por Settimanna News, 13-04-2025.
Para Ludwig Monti, ex-monge de Bose e atualmente professor nas escolas secundárias de Milão e conferencista procurado, o "cristão essencial" é Jesus Cristo, o Filho de Deus. É Ele que amou e evangelizou com a sua palavra e a sua vida.
O autor não pretende deter-se nas afirmações da cristologia "alta" dos Concílios de Nicéia e Constantinopla, elaboradas com as categorias da cultura grega, mas seguir a vida concreta de Jesus como é narrada pelos evangelistas. Neste volume, depois de seguir Marcos em um trabalho anterior, ele faz uso dos testemunhos de Mateus e Lucas.
A vida de Jesus se desdobra em encontros, relacionamentos, pregações, paixão pelo homem concreto. Sua pró-existência é apaixonada que revela sua pré-existência com o Pai.
Il Figlio, Gesú, livro de Ludwig Monti (Foto: Divulgação)
Jesus é o Filho de Deus encarnado, que assume sobre si a nossa humanidade, mesmo nas suas feridas e nas consequências do pecado, para fazer com que Deus se cruze com a vida concreta do homem e para deixar entrever o seu amor e o do Pai, mesmo na maior das contradições, a Paixão e a Cruz.
Deus não é estranho a nenhuma situação humana e n'Ele o homem pode encontrar sentido nos seus próprios acontecimentos, mesmo no enigma do sofrimento e da morte.
Monti considera o estudioso bíblico Bruno Maggioni um de seus professores de referência e o cita várias vezes.
No Apêndice do volume (p. 191-195) o autor cita algumas páginas de Maggioni que resumem bem o pensamento que Monti desenvolve em sua obra. Nós os seguimos de perto.
Maggioni afirma que o evento cristológico não diz apenas o que Deus revelou sobre si mesmo ao homem, mas também como ele o revelou. Jesus comunicou Deus e tornou-o credível através da sua dedicação até ao martírio.
A centralidade de Jesus Cristo não pode ser reconhecida apenas alinhando todos os seus mistérios (Encarnação, vida oculta, vida pública e missão, palavras e milagres, Cruz e Ressurreição, retorno glorioso), mas é necessário compreender o centro hermenêutico que os une e os esclarece.
Para Maggioni (e para Monti) o centro é a Cruz/ressurreição, com particular ênfase na Cruz. É ali que se revela a novidade do rosto de Deus, a sua identidade escondida e imprevisível: o rosto do amor que se doa e salva o homem partilhando a sua derrota.
Maggioni lembra que Jesus usou todas as funções da palavra: anúncio, ensino, denúncia e polêmica, diálogo, paradoxo, escuta, parábola, milagre, silêncio. Em seu livro, Monti enfatiza e ilustra esses diferentes modos de expressão no exame de algumas perícopes evangélicas.
O acontecimento Jesus Cristo traz consigo uma grande "inversão". O Evangelho não diz antes de tudo o que o homem deve fazer: dar a vida por Deus. O Evangelho narra, em primeiro lugar, que um Filho de Deus deu a vida pelo homem. O Senhor lavando os pés dos discípulos: isso é bastante surpreendente. Esse fato força o crente a virar de cabeça para baixo sua maneira de pensar sobre Deus e sua glória.
Morrer por Deus é desafiador e admirável. Que o Filho de Deus foi crucificado por nós - e morreu entre dois malfeitores - é algo absolutamente inesperado.
O Filho de Deus veio ao mundo para salvar o mundo. Ele não passou por ele, evitando contradições, mas compartilhando-as. Ele assumiu a morte, as consequências do pecado, morrendo não apenas pelos pecadores, mas como pecador, entre dois malfeitores.
O Filho de Deus partilhou o drama e o escândalo da mentira e viveu-o não antes de tudo para mostrar o preço que era necessário para a justiça de Deus redimir o pecado do homem, mas para mostrar até que ponto Deus ama o homem. O Crucificado fala da medida do amor de Deus, não apenas da gravidade do pecado.
A história de Jesus Cristo – continua Maggioni, compartilhada e citada por Monti em sua obra – não permite ao homem construir abstratamente, fora da história, uma figura geométrica de Deus, que então – assim que você a mergulha na história e em contato com suas contradições – imediatamente se despedaça.
Ele é a figura do Deus dos amigos de Jó. Ele é a figura ainda difundida entre os cristãos, de um Deus incapaz de suportar o impacto das contradições da existência. A figura de Deus revelada por Jesus está, ao contrário, na história e nas suas contradições – das quais a cruz é a explosão – que revelam o seu verdadeiro rosto, e não o negam.
Maggioni sugere uma escolha: não uma viagem de Deus a Cristo, e nem mesmo (principalmente) do homem a Cristo, mas de Cristo a Deus e ao homem. Trata-se de um caminho que oferece duas vantagens: uma forte ênfase na novidade cristã e a possibilidade de fazer emergir a questão do encontro, como aliás acontece nas coisas da vida.
Se partirmos das perguntas que o homem já sente dentro de si, corremos o risco de chegar a Jesus aprisionado em nossas próprias perguntas, sem a possibilidade de que ele possa corrigi-las ou mudá-las. Se partirmos da figura de Jesus e da sua história, então existe a possibilidade de que o encontro suscite questões mais amplas e oportunas.
As notas de Maggioni no Apêndice concluem afirmando que a narração da história de Jesus prossegue em três níveis, um no outro, quase sem interrupção.
O fio condutor é a figura de Jesus (pessoa e história), que procede numa alternância de sinais de poder e fraqueza (poder de dizer que Jesus é o Filho de Deus, fraqueza de mostrar que é o Filho de Deus).
No espaço de Jesus revela-se o rosto de Deus (um Deus surpreendente!) e neste mesmo espaço revela-se também a verdade do homem e o projeto de vida ao qual ele é chamado.
Este modo de proceder oferece vantagens: a compactação do discurso e a profunda unidade entre a revelação de Deus e a vida do homem.
O projeto, de fato, não encontra sua figura antes de tudo em uma série de mandamentos, mas na vida de Jesus, até mesmo nos traços do rosto de Deus que ele revelou. Trata-se, portanto, de uma moral muito profunda – sublinha Maggioni – enraizada na "boa notícia".
O hoje também está continuamente presente no discurso, mas não ao lado da narrativa cristológica, nem simplesmente justaposto a ela, mas dentro da narrativa. A atualidade está na história de Jesus, na figura de Deus e discípulo que ela revela.
Ludwig Monti estrutura sua obra sobre a figura de Jesus com toda a novidade que ele traz consigo, dividindo o tratamento em cinco passagens e ilustrando seu discurso com comentários sobre cerca de quinze passagens do Evangelho.
Quanto aos primórdios, Monti analisa o momento do batismo, no qual Jesus é revelado como o Filho de Deus, o Amado. O próprio Jesus revelará sua dimensão profética com a afirmação de que o Espírito do Senhor está sobre ele, o que cumpre a profecia de Is 61.
O encontro e a cura do leproso (Mc 1, 40-45) mostram claramente como Ele assumiu sobre si as nossas fraquezas, como diz o evangelista Mateus (cf. 8, 16-17).
Jesus está sempre em movimento. Lc 17, 11-19 mostra-o atravessando deliberadamente a Samaria, curando dez leprosos, dos quais apenas um regressa para dar graças, louvar a Deus e venerar Jesus. "Sua fé o salvou", diz Jesus: salvação, vida plena e não apenas cura física.
Jesus requer um seguimento exigente. Em Lc 14, 25-33 afirma que quem não está disposto a deixar tudo não pode ser seu discípulo. Ele é o Filho do Homem que veio para servir e dar a sua vida (cf. Mc 10, 35-35). Uma verdadeira inversão da imagem de Deus e da salvação.
Em Jerusalém, na primeira polêmica (cf. Mt 22, 15-21), Jesus instrui os escribas e fariseus a dar a César o que é de César – as realidades humanas a administrar – e a Deus o que é de Deus – o homem todo, a imagem de Deus (como sugere a imagem gravada na moeda do imposto).
Na segunda disputa – com os saduceus que não acreditam na ressurreição e aceitam apenas os cinco primeiros livros da Bíblia – ele enfatiza que Deus não é um Deus dos mortos, mas dos vivos. O vínculo que une Deus com os patriarcas no presente revela que Deus ama os homens para sempre, numa aliança que vence o abismo da morte.
Em outra controvérsia (Mt 27,41-46), Jesus revelará que ele é o Filho de Davi, mas também seu Senhor, o Filho de Deus. Uma realeza de um teor completamente diferente do humano. Uma realeza que encontra sua expressão mais alta no dom da própria vida.
No que diz respeito à paixão e à morte, Monti reflete, em primeiro lugar, sobre o lava-pés (cf. Jo 13, 1ss), que mostra como Jesus vive em liberdade e por amor, servindo os seus discípulos como escravo.
No Jardim do Getsêmani, ele ora ao Pai para que não seja feito como ele quer, mas como o Pai quer. Jesus resiste à morte e à dor, mas na oração abandona-se com confiança ao desígnio que o Pai enxertou no seu coração de Filho.
Ao "bom ladrão", Jesus promete: "Hoje estarás comigo no paraíso" (cf. Lc 23, 35-43). Jesus morre como malfeitor, mas revela que é o paraíso, a vida plena para aqueles que compartilham seu projeto e a "boa nova".
Quanto à ressurreição, Monti habita sobre o túmulo vazio (cf. Mc 16, 1-8), com a admiração e o medo que as mulheres sentem diante do mistério e do inédito de uma vida nova que tocou a pessoa do seu Mestre.
Na sua primeira conclusão, o Evangelho de João narra o encontro de Jesus ressuscitado com os seus discípulos encerrados no Cenáculo por medo. Ele infunde neles paz, alegria, missão, a capacidade de perdoar sempre.
Tomé – sem tocar nas chagas de Jesus – pronuncia a mais alta das profissões de fé do Novo Testamento: "Meu Senhor e meu Deus!" E o autor final do Evangelho recorda que as palavras e os acontecimentos de Jesus narrados no Evangelho foram escritos "para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus" (cf. Jo 20, 19-31).
Na versão de Lucas dos encontros pascais de Jesus com os discípulos, Jesus afirma, entre outras coisas, que "é necessário que se cumpram todas as coisas escritas a meu respeito" (cf. Lc 24, 44). Deste modo, ele revela-se o Filho de Deus profetizado pelas Escrituras, mas à maneira do Crucificado e Ressuscitado, que traz consigo para a vida divina definitiva os sinais concretos da sua paixão.
O Ressuscitado não abandona os homens e as mulheres que vivem as contradições e os dramas da história, mas assume-os sobre si e transfigura-os em Deus, dando-lhes não uma explicação teórica, mas um sentido concreto, derivado de uma profunda partilha da vida vivida com os homens, com paixão, amor e liberdade.
Na conclusão (p. 173-190), Monti medita sobre o tema "Crianças no Filho", comentando a passagem escatológica de Mc 13 e paralelos, destacando os verbos de vigilância, como atitude própria do discípulo que espera o retorno de Cristo na glória.
É preciso ser aderente à vida do mundo e à vida dos homens, com relações apaixonadas e empáticas. Só assim podemos ser discípulos d'Aquele que derrubou para sempre a imagem de Deus e a sua relação com os homens.
Um belo texto de meditação, escrito com paixão e simplicidade, que vai ao âmago da novidade cristã: um Deus que em Jesus ama os homens a ponto de dar a própria vida.