12 Abril 2025
"Em resumo, desde o Concílio de Niceia até o fracasso do Concílio de Creta, o caminho é muito longo e tortuoso, pontuado por reviravoltas e surpresas".
Artigo de Gian Guido Vecchi, jornalista italiano, e Giovanni Maria Vian, historiador e ex-diretor do L'Osservatore Romano, em Domani de 06-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Os bispos reunidos em Niceia de 20 de maio a 19 de junho de 325 estabeleceram pela primeira vez uma regra de fé geral que ainda hoje é idealmente aquela de todos os cristãos. Mas ela não conseguiu resolver as divisões. A conclusão do livro de Vecchi e Vian, “La scommessa di Costantino. Come il concilio di Nicea ha cambiato la storia” (A aposta de Constantino. Como o concílio de Niceia mudou a história, em tradução livre)
Os fatos que relatamos mostram como o primeiro concílio ecumênico mudou a história. Graças à aposta ganha por Constantino, os bispos reunidos em Niceia de 20 de maio a 19 de junho de 325 estabeleceram pela primeira vez uma regra de fé geral que ainda hoje - mil e setecentos anos depois - é idealmente aquela de todos os cristãos. No entanto, a intenção de chegar a uma data comum para a celebração da festa mais importante, a Páscoa, não se concretizou e teve o efeito de distanciar ainda mais o cristianismo de sua raiz “sagrada” fundamental e ineliminável, o judaísmo, com consequências graves e dolorosas.
Essa longa história remonta precisamente aos fundamentos constituídos pelas Escrituras hebraicas e, por meio de suas traduções para o grego, ao encontro com o pensamento helenístico: Jerusalém e Atenas, se quisermos sintetizar em um título. O grego é a língua comum que Jesus e alguns de seus discípulos mastigam um pouco, que é usada para reler os livros sagrados hebraicos traduzidos, interpretá-los como anunciação de Cristo e escrever todos os livros que hoje compõem o Novo Testamento.
São os três séculos anteriores a Niceia que moldam o cristianismo no qual Constantino aposta, assumindo um risco. Um cristianismo - cada vez mais distante do judaísmo, cujas Escrituras, no entanto, preserva - muito diversificado e animado, apesar das perseguições que só se generalizaram em alguns momentos; até a última, que é também a mais sistemática e dura: aquela de Diocleciano.
Os anos de ascensão e conquista do poder por Constantino são decisivos para a história do império e terão consequências duradouras. Justamente naquela época - enquanto as perseguições fracassam e uma política de tolerância se consolida - o imperador, que venceu no Ocidente e está cada vez mais de olho no Oriente, almeja o domínio absoluto. Diante das rivalidades entre os cristãos no norte da África, Constantino é chamado em causa por aqueles que se opõem ao bispo de Cartago, mas a crise não se resolve e o cisma, que receberá o nome de Donatista, durará muito tempo. O soberano, que desde sua vitória sobre Magêncio decidiu jogar a carta cristã, não quer que sua aposta seja prejudicada por outras divisões dentro das igrejas.
Informado da situação crítica em Alexandria devido à pregação do sacerdote líbio Ário, condenado pelo bispo Alexandre, dessa vez é Constantino quem toma a iniciativa em 324. A iniciativa - de convocar um concílio mundial – se revelará sem precedentes. Embora muitos concílios e sínodos já tivessem sido realizados anteriormente. Niceia, nas intenções de Constantino, devia resolver a divisão causada pela pregação de Ário, que acabava por esvaziar a divindade de Cristo, e fixar a data da Páscoa. E, inicialmente, parece que o governante tenha alcançado seus objetivos. Mas não é assim. Precedida dez anos antes por medidas legislativas hostis ao proselitismo judaico, a decisão sobre a Páscoa, agora completamente separada da data da celebração judaica, terá o efeito de ampliar o fosso - já muito grande - que dividia os cristãos dos judeus. Além disso, a partir do século V, a separação e as medidas antijudaicas serão acentuadas pela legislação eclesiástica e imperial e crescerão durante toda a Idade Média. Um pouco antes, o próprio Constantino deixa de lado a condenação nicena do arianismo, o que fez com que a crise ariana continue com altos e baixos por mais de meio século. É somente o Concílio de Constantinopla, em 381, que encerra a controvérsia ariana e as discussões sobre a Trindade no plano teológico.
Há tempo, no entanto, missionários arianos haviam cristianizado os godos e outras populações bárbaras que, no final do século IV se espalham pelas partes ocidentais do império e, com os vândalos arianos, chegam ao norte da África, onde perseguem os católicos com ferocidade. Assim, o arianismo sobrevive até o final do século VII, quando os lombardos se convertem, enquanto o animado cristianismo africano é completamente submerso pela maré islâmica.
Finalmente encerrado o debate sobre a Trindade, se abre a controvérsia cristológica, ainda mais intrincada e sutil, sobre a relação entre as duas naturezas - divina e humana - de Cristo, e são apenas os Concílios sucessivos, entre 431 e 787, que desatam os nós. Embora a um grande custo, pois as decisões do Concílio de Calcedônia de 451, entrelaçando-se com eventos políticos e em um contexto de mudanças de época, separaram muitos cristãos orientais da ortodoxia.
Assim como o Concílio de Niceia, também mudará a história a decisão do imperador, no mesmo ano, de fundar uma nova capital entre a Europa e a Ásia, que receba seu nome: Constantinopla. “Que o bispo de Constantinopla tenha a primazia de honra depois do bispo de Roma, porque a cidade é a nova Roma”, decretará o concílio em 381, que se realiza na esplêndida nova cidade imperial.
Niceia também é o primeiro concílio imperial, ou seja, convocado e presidido por imperadores, e imperiais são todos os concílios ecumênicos até o oitavo: o quarto Concílio de Constantinopla de 869-870, aliás, não reconhecido no Oriente. Todos eles se realizam com a presença de enviados do papa de Roma ou são, de qualquer forma, aprovados por ele. O concílio de 869-870 é o último a unir orientais e ocidentais.
Após os primeiros oito concílios ecumênicos, os sucessivos são tais apenas para a Igreja Católica: 13, desde o de Latrão I, realizado em 1123, até o Vaticano II, concluído em 1965. No total, portanto, 21.
A separação entre Constantinopla e Roma, que começou de fato no século IV e se ampliou gradualmente, culmina com as excomunhões mútuas em 1054. A separação entre as duas sedes mais importantes do mundo cristão se agrava em 1204 com a tomada de Constantinopla e o saque perpetrado pelos latinos durante a Quarta Cruzada. Graças à aproximação ecumênica e à obra de dois grandes cristãos - Paulo VI, Papa de Roma, e Atenágoras, Patriarca de Constantinopla - somente em 1965 se chegará à superação das condenações de nove séculos antes. Mas a união ainda está distante.
Após os Concílios Constantinopolitanos do século IX, muitos sínodos menores se realizam no Oriente, mas o contexto era completamente diferente. Animadas comunidades cristãs, pertencentes a diferentes tradições orientais, vivem fora das fronteiras do Império Bizantino - em países não mais cristãos e muitas vezes oprimidos, especialmente sob o domínio muçulmano - e não dependem mais do Patriarca de Constantinopla, que, no entanto, evangeliza imensos territórios na Europa Oriental e, no final do século X, a Rus’ de Kiev. A partir desse momento a principal sede eclesiástica gradualmente se transfere para o norte, primeiro para Vladimir e depois para Moscou, que no século XVI se torna a “terceira Roma”. Ao mesmo tempo, o domínio bizantino torna-se cada vez mais restrito devido à pressão externa e a autoridade imperial enfraquece até desaparecer em 1453, quando a cidade fundada por Constantino é conquistada pelos otomanos. Constantino XI - o último imperador do longuíssimo milênio bizantino, que recebeu o mesmo nome que o primeiro - desaparece na defesa da capital. Oito anos depois, obviamente cai no vazio a proposta utópica do papa humanista Pio II, que oferece ao conquistador Maomé II a coroa imperial sob a condição de que ele se converta.
Meio milênio depois, nas primeiras décadas do século passado, iniciam-se os preparativos para um concílio pan-ortodoxo. Finalmente, cerca de um século depois, em 2016, parece que está tudo pronto, mas as divisões e rivalidades no mundo ortodoxo prevalecem e é o poderoso Patriarcado de Moscou que afunda o concílio que reuniu em Creta dez Igrejas Ortodoxas autocéfalas, ou seja, independentes, incluindo - além do patriarcado de Constantinopla, é claro - as antigas sedes patriarcais de Jerusalém e Alexandria.
Em resumo, desde o Concílio de Niceia até o fracasso do Concílio de Creta, o caminho é muito longo e tortuoso, pontuado por reviravoltas e surpresas. Tendo chegado até aqui, no entanto, não se pode deixar de concluir com a inevitável frase: mas essa é uma outra história.