07 Abril 2025
"A corrida armamentista é o traço de uma incivilidade da qual não nos livramos nem em milênios. É hora de reagir", afirma Severino Dianich, teólogo italiano.
A entrevista é de Tommaso Rodano, publicada por il Fatto Quotidiano, 05-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Padre Severino Dianich, a opinião pública é frequentada por comentaristas que citam as Sagradas Escrituras como base ideológica para o rearmamento. “São Paulo dizia que é preciso se preparar para enfrentar o inimigo” (Corrado Augias), “Jesus não repreendeu aqueles que desembainharam a espada” (Mario Deaglio). São interpretações corretas da palavra de Deus?
Não, a referência às Escrituras feita de maneira tão direta não é pertinente. É verdade que a Bíblia contém passagens de uma violência inaudita, são descritos ataques de fúria inacreditáveis, atribuídas à vontade de Deus. Mas, obviamente, é preciso fazer um trabalho em termos de historicização. É preciso entender o contexto vital em que a revelação da fé ocorre. Era uma sociedade muito violenta, não menos violenta do que a nossa hoje. Se fizermos esse esforço de compreensão, uma mensagem diferente se manifesta nas Escrituras: Deus ama o mundo e quer que os seres humanos se amem.
Aqueles que citam o Evangelho e a Bíblia a favor das armas o fazem de má fé?
Não é correto, como método, pegar uma frase de Jesus e aplicá-la a priori à realidade de hoje. Do Evangelho, acima de tudo, vem esta inspiração fundamental: o crente deve ser um homem que trabalha pela paz. Nas Bem-aventuranças, que são a “magna carta” do cristianismo, está escrito: “Bem-aventurados os pacificadores”. Não há dúvida quanto a isso. Depois se pode discutir sobre maneiras, formas e meios de alcançá-la. Seus princípios ressoam em alto e bom som nas palavras da Igreja, muito menos entre políticos e comentaristas.
Em todo o debate sobre a guerra que está ocorrendo em nível mundial, não apenas na Itália, o grande ausente são os mortos. Ninguém fala sobre eles e isso é impressionante. No máximo, sabe-se algo sobre os mortos do inimigo, mas não se fala dos “próprios” mortos. Talvez porque se sinta vergonha de um crime tão enorme. São os nossos jovens; discutimos academicamente sobre guerras e conflitos e depois mandamos os nossos jovens para o massacre. Para sermos pacificadores, já que antes você me provocou sobre o Evangelho, é preciso levantar a voz em defesa das vidas humanas.
Argumenta-se que o rearmamento é necessário justamente para defender vidas humanas. Na situação atual, falar em desarmamento seria surrealista, eu entendo isso. Mas é chocante que a humanidade se encontre em uma situação em que sente que precisa se armar por obrigação. O Papa João XXIII explicava bem isso em sua encíclica Pacem in Terris: o rearmamento parece inevitável, mas o verdadeiro problema não são os arsenais; devemos nos desarmar no espírito. A corrida armamentista é o traço de uma incivilidade da qual não nos livramos nem em milênios. É hora de reagir. Se eu fosse um deputado e votasse a favor de um regulamento europeu de rearmamento, deveria me envergonhar por esse sim. Não posso exaltá-lo. Se enriquecem os arsenais e, ao mesmo tempo, se cunham medalhas para os soldados mortos de amanhã. É a vergonha de nossa humanidade.
O espírito do Ocidente cristão parece soprar na outra direção. A defesa europeia é um símbolo de orgulho. É possível mudar esse paradigma?
Não acredito que seja o cidadão comum que deva ser sobrecarregado pelo ônus da solução desses problemas. São aqueles que o povo italiano considerou capazes de governar e criar leis e, portanto, de lidar com esses problemas, que são competentes.
Não há também uma responsabilidade daqueles que orientam e alimentam o debate público?
É claro que sim, a responsabilidade de vocês, jornalistas, assim como a minha, que neste momento sou chamado para dizer o que penso. São responsabilidades que cada um de nós deve assumir plenamente, a honestidade intelectual é o primeiro dever.
O senhor considera que falta honestidade intelectual quando se fala de armas?
Parece-me que há uma superficialidade generalizada, como dizia. E, acima de tudo, uma consideração parcial do problema principal: os mortos. Insisto nas responsabilidades políticas: tenho certeza de que cada deputado vai colocar suas convicções e o pensamento partidário em segundo plano quando ver seu filho pegar uma metralhadora. A humanidade deve ser considerada antes de tudo mais.