02 Abril 2025
"A Europa não iniciou este confronto. Não queremos necessariamente adotar represálias. Mas temos um plano sólido para adotar retaliações, se necessário", disse Ursula Von der Leyen no Parlamento Europeu. No discurso para os eurodeputados, a dirigente destacou que a União Europeia responderá "unida" às tarifas americanas e calibrará cuidadosamente sua resposta.
A reportagem é publicada por RFI, 01-04-2025.
"Nosso objetivo é uma solução negociada. Mas, claro, se for necessário, protegeremos nossos interesses, nossa população e nossas empresas", prometeu Von der Leyen. Um confronto comercial generalizado "não é do interesse de ninguém", acrescentou.
A estratégia da UE, apontou a presidente do Executivo do bloco, se completa com outros dois princípios: diversificação e adaptação do mercado único interno. Em um momento de "economia global turbulenta, o mercado único (da UE) é nosso porto seguro", afirmou.
"A Europa terá que responder para poder estar em um equilíbrio de poder, sinônimo da potência que ela pode e deve ser", declarou o ministro delegado de Comércio Exterior da França, Laurent Saint-Martin.
Donald Trump prometeu na segunda-feira (31) que será "muito gentil" com os parceiros comerciais que estão na expectativa de um tarifaço nas importações. O republicano disse que suas medidas vão permitir um "renascimento" dos Estados Unidos. "Outros países se aproveitaram de nós, e seremos muito gentis com eles, comparado com o que nos fizeram", afirmou. Segundo Trump, as tarifas americanas serão menores, e, em alguns casos, "significativamente menores" do que as impostas por outros países.
Até agora, a Casa Branca havia prometido tarifas "recíprocas", no sentido de que cada país pague por seus bens exportados para os Estados Unidos o mesmo que cobra pelos produtos americanos. Essas novas tarifas, que seguem as taxas já adotadas sobre o alumínio e o aço, serão divulgadas na quarta-feira (2), mas Trump não descarta anunciá-las na noite de terça-feira.
Apesar do impacto negativo das medidas para a economia global, alguns países têm adotado estratégias de conciliação com o governo republicano.
O Vietnã, por exemplo, reduziu suas tarifas sobre uma série de produtos em uma tentativa de apaziguar Washington.
O Japão anunciou a criação de mil "balcões de consulta" para ajudar suas empresas, enquanto continua seus esforços para obter uma isenção de Washington. O setor automobilístico japonês será fortemente prejudicado, caso as sobretaxas americanas sejam pesadas.
O ministro das Relações Exteriores do México, Juan Ramón de la Fuente, falou por telefone com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, para solicitar a manutenção do UMSCA, acordo de livre-comércio entre Estados Unidos, Canadá e México, embora os dois vizinhos estejam particularmente na mira das novas tarifas de Trump.
Do seu lado, o Brasil pretende esperar e esgotar as vias das negociações técnicas antes de retaliar. Há algumas semanas, Trump havia acusado o Brasil de sobretaxar o etanol americano com uma tarifa de 18%, enquanto a aplicada pelos EUA ao etanol brasileiro era de 2,5%. Este é um item que está na pauta das negociações sigilosas entre Brasília e Washington. Duas reuniões já aconteceram. Mas pode ser que não haja avanços neste item em especial.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse nesta terça-feira que era "provável" que o Reino Unido fosse afetado, apesar das negociações de última hora para evitar tarifas adicionais. "Estamos trabalhando muito duro em um acordo econômico, no qual fizemos rápido progresso... mas é provável que haja tarifas", disse Starmer à Sky News.
O líder trabalhista não descartou medidas retaliatórias contra Washington, que até agora ele se recusou a implementar, ao contrário da União Europeia. "Ninguém quer uma guerra comercial, mas tenho que agir no interesse nacional, o que significa manter todas as opções sobre a mesa", disse ele.
Os mercados de ações tentam se recuperar nesta terça-feira após as perdas do dia anterior. Na Europa, por volta de 12h40 no horário local, 7h40 em Brasília, a bolsa de Paris subia 0,69%, Frankfurt 1,05%, Londres 0,71% e Milão 0,60%.
Analistas ponderam, no entanto, que pode ser apenas um momento de calmaria antes da tempestade.