07 Agosto 2024
"Se o movimento de reforma for implementado em todos os níveis, 'os males do clericalismo' serão superados", escreve Monique Hébrard, jornalista e escritora francesa, sobre o livro Contro il clericalismo: ritorno al Vangelo, de Yves-Marie Blanchard, em artigo publicado por baptises.fr, junho-2023.
Voltando aos textos fundadores, esse livro é uma lufada de ar fresco! Se o clericalismo é um mal para a Igreja, qual a melhor maneira de combatê-lo do que com as armas do Evangelho? O teólogo da Diocese de Poitiers se propõe a fazê-lo, em um livro simples e profundo.
A linguagem dos Evangelhos e das cartas de Paulo é a linguagem da fraternidade. “A ninguém na terra chameis vosso pai" (Mt 23,9), porque o próprio Jesus rejeitava o título de "rabino" e o poder farisaico que poderia vir com ele. As palavras de Paulo, em suas treze epístolas, confirmam essa relação horizontal entre irmãos.
Contra o clericalismo: retorno ao Evangelho, livro de Yves-Marie Blanchard (Foto: divulgação)
Os Doze são apóstolos, é claro, mas os apóstolos são muito mais do que doze! Essa confusão "favorece uma forma de clericalização dos ministros ordenados... considerados sucessores dos Doze". Jesus faz distinção entre os Doze, os apóstolos e os discípulos (Mc 3,13-19).
Atendo-se ao texto grego, o autor rastreia palavras que refletem os costumes ou as ideologias dos tradutores. Assim, Febe (Rm 16,7), presidente e ministra (diakonos) da Igreja de Cencreia, foi muitas vezes reduzida a tesoureira e protetora! Além disso, ao afirmar que "não há macho e fêmea" (Gl 3,28), Paulo inscreve "esses dois polos da humanidade" na única filiação de Cristo, sem qualquer competição ou superioridade. Todo apóstolo, mesmo o maior, deve se fazer pequeno (Lc 9,48) e se desprender das preocupações por si mesmo.
O autor escreve um capítulo muito bonito sobre o que Jesus diz sobre si mesmo: é o pastor, depois a porta. As ovelhas são de fato de Jesus; elas só são confiadas ao pastor! O papel de pastor certamente pode ser transmitido na Igreja, pois foi confiado a Pedro. Mas somente Jesus é a porta. E o pastor será o primeiro a passar pela porta. O pastor também pode servir de modelo para o padre, nunca para um papel de autoridade, mas para um empenho de serviço em uma forte relação com cada uma das ovelhas.
Para concluir, o autor fala de sinodalidade: identifica os traços que constituirão uma Igreja de aspecto evangélico. Isso começa com uma dinâmica de conversão de cima para baixo. Se o movimento de reforma for implementado em todos os níveis, "os males do clericalismo" serão superados.
Um bom exemplo de sinodalidade é a Assembleia convocada em Jerusalém (Atos 15). Cada um apresentava seu ponto de vista em uma atmosfera que se mantinha cordial. A solução final é elaborada de forma colegiada e é objeto de uma declaração clara e precisa, mas que não cristaliza nem encerra. A unidade resultará do amor e da misericórdia dos membros e também de sua capacidade de julgamento e inteligência. "Não", conclui o teólogo, "o clericalismo não terá a última palavra. A Igreja é de natureza diferente. As Escrituras atestam isso em todas as páginas".
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Contra o clericalismo, um retorno ao Evangelho. Artigo de Monique Hébrard - Instituto Humanitas Unisinos - IHU