09 Fevereiro 2023
"O Papa Francisco se expressa assim a esse respeito: “toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja - tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência - como é o clericalismo, aquela atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo", escreve Salvo Coco, em artigo publicado por Settimana News, 08-02-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O clericalismo não é apenas um abuso sexual contra um menor ou um sujeito submisso. O clericalismo é um sistema de poder baseado no sagrado. Esse sistema consiste de três elementos caracterizadores:
O que significa histórica e teologicamente? Significa que a doutrina da Igreja, as normas canônicas e os livros litúrgicos foram todos concebidos e escritos (e impostos) pelo clero. São todos condicionados pela forma mentis clerical.
O Papa Francisco se expressa assim a esse respeito: “toda vez que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir em pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas. Isto se manifesta claramente num modo anômalo de entender a autoridade na Igreja - tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de poder e de consciência - como é o clericalismo, aquela atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça batismal que o Espírito Santo pôs no coração do nosso povo" (Carta ao Povo de Deus, 20.08.2018).
Um presbítero só pode ser o que é, isto é, produto de uma doutrina clerical, de um código de direito canônico clerical, de uma liturgia clerical, de uma espiritualidade clerical. Os seminários (inventados após o Concílio de Trento) não podem deixar de produzir presbíteros clericais. É o sistema que os produz. E até que o sistema não for desclericalizado, continuará a produzir uma igreja doente de clericalismo.
Para mudar seriamente, os processos que perverteram a Igreja primitiva devem ser revertidos.
Em vez de sacralizar, é preciso dessacralizar, ou seja, levar nossas comunidades de volta ao estado laical.
Em vez de fazer hierarquias, é necessário se despojar de todo poder e levar todo ministério de volta ao estado diaconal.
Em vez de concentrar tudo nas mãos do clero (segundo a pirâmide do poder: pároco-bispo-papa), é preciso reconhecer a ação do Espírito que livremente enriquece a sua Igreja de dons, mediante os quais os ministérios são distribuídos entre todos os batizados e são mais da competência exclusiva de uns poucos autoeleitos.
É necessária uma nova eclesiologia que anule a hierarcologia vigente. Uma eclesiologia com características cristológicas (todos os batizados são reis, sacerdotes e profetas na maneira nova de Cristo) e com características carismáticas (a Igreja é uma criatura do Espírito que a vivifica com seus carismas).
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A raiz doente do clericalismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU