15 Fevereiro 2024
"O governo israelense - pelo que se sabe - instruiu seu exército a se preparar para o assalto final à cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde uma infinidade de civis - estima-se um milhão de pessoas - encontrou refúgio, como também foram forçados a fazer, agora, há meses", escreve Riccardo Cristiano, jornalista italiano, em artigo publicado por Settimana News, 10-02-2024.
O editor-chefe do Haaretz, o jornal israelense mais conhecido, Aluf Benn, concluiu assim seu artigo publicado em 8 de fevereiro na prestigiosa revista Foreign Affairs:
"Em janeiro, parentes de reféns irromperam em uma reunião parlamentar para pedir ao governo que tentasse libertar seus familiares como parte de uma batalha entre os israelenses, para determinar se o país deve priorizar a derrota do Hamas ou um acordo para libertar os prisioneiros restantes. Talvez a única ideia em que haja unidade seja a oposição a um acordo "terra-por-paz". Após 7 de outubro, a maioria dos judeus israelenses concorda que qualquer cessão adicional de território dará aos militantes uma rampa de lançamento para o próximo massacre. Em última análise, portanto, o futuro de Israel pode se parecer muito com sua história recente. Com ou sem Netanyahu, a gestão do conflito e a política de corte de grama permanecerão, o que significa mais ocupação, mais assentamentos e deslocamentos. Essa estratégia pode parecer a opção menos arriscada, pelo menos para uma opinião pública israelense marcada pelos horrores de 7 de outubro e surda a novas propostas de paz. Mas só levará a mais catástrofes. Os israelitas não podem esperar estabilidade se continuarem a ignorar os palestinianos e a rejeitar as suas aspirações, a sua história e até mesmo a sua presença."
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Os israelenses tese, Aluf Benn começou lembrando o que o lendário comandante militar, Moshè Dayan, disse ao ir aos funerais de Roy Rotberg, um cidadão residente perto de Gaza e massacrado pelos palestinos de Gaza oito anos após a guerra que os viu sucumbir: "Por oito anos eles ficaram nos campos de refugiados de Gaza, e diante de seus olhos transformamos as terras e aldeias onde eles e seus pais moravam em nossa propriedade". Os erros e fracassos são a história que nos acompanhou até aqui. E preparam o que está por vir.
É notável que o Secretário de Estado americano - em visita a Israel para buscar um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns - diga que "7 de outubro não pode ser usado como uma licença para desumanizar os outros", ou seja, os palestinos: esta parece ser a primeira crítica substantiva, não apenas de método, em relação às escolhas feitas pelo governo israelense.
Algumas horas depois, a assinatura de Aluf Benn no Foreing Affairs, outra figura proeminente, Sarah Yegar, observou que "além do aparentemente inadequado aviso do presidente Joe Biden, em dezembro passado, sobre o risco de reputação que Israel estava correndo ao realizar "bombardeios indiscriminados", os funcionários americanos evitaram declarar claramente que uma ação israelense específica em Gaza era inaceitável".
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Já que estamos agora em um ponto crucial da tragédia de Gaza, o que Blinken disse pode ser lido como uma crítica política-militar clara, seguida por um pedido surpreendente e inesperado de Biden: "todos os aliados dos americanos que recebem ajuda e assistência militar devem demonstrar que usam as armas recebidas em total conformidade com as convenções de direitos humanos": esta posição - que por si só não prevê exceções - foi acompanhada por uma crítica de Biden que quase todos os meios de comunicação consideraram dirigida a Israel.
Ele disse, de forma direta, que a reação em Gaza "foi exagerada". Poucas horas depois, no entanto, alguns meios de comunicação israelenses sugeriram que a referência nas palavras de Biden era ao Hamas - enquanto ele estava falando das negociações sobre reféns - sem que a Casa Branca esclarecesse.
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O governo israelense - pelo que se sabe - instruiu seu exército a se preparar para o assalto final à cidade de Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde uma infinidade de civis - estima-se um milhão de pessoas - encontrou refúgio, como também foram forçados a fazer, agora, há meses.
Depois que a administração americana fez esses apelos diretos e indiretos a Israel, mas vetou, por duas vezes, as demandas de cessar-fogo na ONU, é justo perguntar: algo está mudando entre os dois aliados? Isso será visto em breve.
Netanyahu mantém sua posição: para ele, de fato, está se delineando a vitória final, aquela que apagará para sempre o mal, ou seja, o Hamas. Mas para o Egito, a ofensiva contra Rafah será uma tentativa de forçar a população palestina de Gaza a fugir para o Sinai egípcio: homens, mulheres, crianças, idosos.
Biden deixou claro que não compartilha tal horizonte. Aqui estão as palavras de Biden contradizendo as do aliado. O presidente dos EUA disse: "Agora estou pressionando muito pelo cessar-fogo para os reféns". "Há muitas pessoas inocentes morrendo de fome, muitas pessoas inocentes sofrendo e morrendo, e isso precisa acabar".
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Para o primeiro-ministro israelense, no entanto, as coisas são assim: "Eu disse a Blinken que Israel está a um passo da vitória total. Apenas a vitória total garantirá a segurança de Israel. No dia seguinte, será o dia "depois do Hamas". Haverá desmilitarização da Faixa e o controle civil certamente não será confiado àqueles que incitam".
Não é só isso. Nem mesmo para aqueles que vivem no Bel Paese, encantados com o Festival de Sanremo. Por isso, escrevo isso neste diário. Também há o Líbano, onde a guerra de atrito entre Israel e o Hezbollah está fervendo. Há também a questão - muito perigosa - do "Mar Vermelho".
Neste momento, penso nos reféns e nas crianças de Gaza. Eu gostaria de ver a vida que estão vivendo com meus próprios olhos, para poder descrevê-la. Mas vamos fazer um esforço juntos: tentemos.
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Diário de guerra (32). Artigo de Riccardo Cristiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU