03 Janeiro 2024
A perseguição religiosa na Nicarágua registrou um incrível aumento nos últimos dias com a detenção de mais 11 sacerdotes. Tudo começou na véspera de Natal com a prisão do bispo de Siuna (Costa Atlântica) monsenhor Isidoro Mora que se permitiu na homilia rezar pelo seu homólogo de Matagalpa, Rolando Alvarez, preso desde fevereiro passado com uma condenação a 26 anos por “conspiração e traição à pátria”. Alvarez, enquanto já estava em prisão domiciliar, recusou-se a abandonar o país juntamente com os 222 presos políticos que foram depois deportados e privados da nacionalidade nicaraguense. Além dos dois prelados, há 14 sacerdotes detidos (juntamente com alguns seminaristas). Sem contar os 12 presbíteros que foram mandados à força para Roma em outubro passado. E as dezenas e dezenas que fugiram para o exterior ou que foram proibidas de regressar ao seu país após uma viagem para fora do país.
A reportagem é de Gianni Beretta, publicada por Il Manifesto, 02-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Mas se voltarmos ao período após a revolta popular de 2018, reprimida de forma sangrenta pelo regime, nestes cinco anos foram expulsos um total de 220 religiosos, a começar pelas religiosas da congregação de Madre Teresa de Calcutá. Assim como foram fechadas todas as rádios e o canal de TV católico. Até proibir procissões, missas pelos mortos nos cemitérios e festas religiosas de diversa natureza.
Até chegar em setembro passado ao clamoroso confisco da Universidade Centro-Americana dos Jesuítas e o decreto de ilegalidade da Companhia de Jesus.
Outro dia também acabou na prisão o vigário geral da diocese de Manágua, monsenhor Carlos Avilés, que no passado havia criticado o presidente Daniel Ortega por se enfurecer contra a igreja.
Só faltaria agora o Cardeal da Capital, Leopoldo Brenes, cuja habitação é, de qualquer forma, vigiada permanentemente pela polícia há mais de um ano.
A diretora desse delírio violento é a copresidente Rosario Murillo, esposa do presidente Daniel Ortega. Que outro dia, na sua mensagem cotidiana de rádio, definiu aqueles sacerdotes de “demônios que falam de fé com sentimentos diabólicos”. Exceto por depois encerrar as suas locuções louvando como sempre “nosso senhor Deus”.
O Papa Francisco, ontem, no seu primeiro Angelus de 2024, expressou a sua “proximidade na oração" ao país centro-americano "onde bispos e sacerdotes foram privados da liberdade", esperando “um diálogo para superar as dificuldades”. Mas desde março passado Ortega e sua esposa suspenderam as relações diplomáticas com a Santa Sé, após expulsar o seu núncio apostólico no ano anterior.
Nesse interim o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos estigmatizou a Nicarágua por “distanciar-se do Estado de direito, violando as liberdades fundamentais" durante uma deriva que viu o encarceramento de mais 120 presos políticos, enquanto se calcula que cerca de 600 mil nicaraguenses (10% de toda a população) já tenham deixado o país.
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Nicarágua, 11 sacerdotes presos desde o Natal: o Papa os menciona no Angelus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU