07 Dezembro 2023
Cerca de 151 padres e 76 freiras foram desterrados, forçados ao exílio ou impedidos de entrar no país, de acordo com o relatório do Coletivo Nicarágua Nunca +.
A reportagem é publicada por Confidencial, 06-12-2023.
O regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo retirou da Nicarágua, em 2023, cerca de 227 líderes religiosos – 151 padres e 76 freiras – por meio de exílio, expulsão, desterro ou negação de entrada ao país, denunciou nesta terça-feira o Coletivo de Direitos Humanos Nicaragua Nunca +.
A denúncia foi feita em San José, Costa Rica, durante a apresentação do relatório "Violações à liberdade religiosa – Estágios de repressão contra a Igreja na Nicarágua", elaborado pelo Coletivo, composto em sua maioria por ativistas nicaraguenses exilados.
O desterro faz parte das práticas repressivas implementadas pelo regime contra a Igreja Católica e membros da sociedade civil considerados opositores políticos. Essa prática "atenta contra a liberdade de movimento na Nicarágua e afeta o exercício sacerdotal nas dioceses a cargo dos padres que foram confinados fora do país", alertou o Coletivo em seu relatório.
Eles acrescentam que o elevado número de religiosos desterrados "reflete uma tendência preocupante de restrições arbitrárias e sistemáticas que limitam a mobilidade de líderes religiosos, minando assim sua capacidade de cumprir suas responsabilidades pastorais e contribuindo para o desgaste do exercício da liberdade religiosa no contexto nicaraguense".
O advogado nicaraguense Juan Carlos Arce, membro do Coletivo, explicou que a perseguição contra a Igreja Católica na Nicarágua é uma "retaliação" pelo papel de mediadores que os padres desempenharam durante o diálogo nacional fracassado em 2018 e, por outro lado, faz parte do desejo do regime de controlar tudo o que acontece no país.
"O regime da Nicarágua está determinado a controlar tudo e vê nos símbolos da Igreja Católica, em sua infraestrutura, estruturas e hierarquia, um risco", alertou Arce. Por essa razão, "eles miram em destruir" ou, alternativamente, usurpar as atividades religiosas.
Em sua opinião, Ortega, que controla os quatro poderes do Estado na Nicarágua, tem como objetivo "configurar uma Igreja sob medida, e na medida em que não podem controlá-la, vão destruí-la".
O ativista nicaraguense Yader Valdivia, também do Coletivo, afirmou que o regime tem buscado assumir o controle das atividades religiosas "substituindo a Igreja Católica na organização de eventos como procissões e festividades".
“Ataques a la Libertad Religiosa con énfasis en las agresiones a la Comunidad Católica de Nicaragua" https://t.co/bMlhh6viwD
— Colectivo de Derechos Humanos "Nicaragua Nunca +" (@ColectivoNunca) December 5, 2023
O governo, por meio da Polícia, proibiu a Igreja de levar os santos às ruas desde fevereiro de 2023, quando não autorizou a realização das procissões do Via Crucis durante a Quaresma e depois na Semana Santa.
A ordem policial foi emitida depois que Ortega rotulou de "máfia" os padres, bispos, cardeais e o Papa Francisco.
Segundo Valdivia, Ortega, por meio das prefeituras ou do Instituto Nicaraguense de Turismo, usa "essas celebrações como ferramentas de propaganda política e controle social".
"Eles promovem a fé como uma religião popular, tentando disfarçar como se ainda estivessem ocorrendo atividades religiosas (por parte da Igreja Católica), quando na verdade são apenas atividades propagandísticas", observou.
Valdivia enfatizou que essa apropriação pelo Estado das atividades religiosas "vem acompanhada do sufocamento financeiro e operacional da Igreja", incluindo o fechamento de meios de comunicação e centros de estudos católicos, bem como a prisão e expulsão de padres.
"Por um lado, podemos observar como as atividades religiosas de fé são canceladas ou limitadas a ocorrer dentro dos templos (...), e, por outro lado, como o Estado da Nicarágua assumiu essas atividades religiosas como atividades populares", acrescentou.
Sobre o processo de sufocamento financeiro que a Igreja está enfrentando, de acordo com o Coletivo, "vai desde ameaças fiscais até a confiscação e o congelamento de contas que têm afetado as operações diárias da Igreja".
O Coletivo instou as organizações internacionais de direitos humanos "a manterem uma vigilância constante sobre a situação na Nicarágua e a tomarem medidas eficazes para garantir que os direitos fundamentais de todas as pessoas no país sejam respeitados", incluindo "a liberdade religiosa, que é um pilar essencial de qualquer sociedade justa e livre, e não podemos permitir que seja minada".
Arce afirmou que "os nicaraguenses estão vivendo o maior ataque na história de nosso país à fé, à liberdade de expressão, à liberdade de organização, ou seja, o maior ataque aos direitos humanos na história do país".
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Nicarágua. Regime expulsa mais de 220 padres e freiras em 2023 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU