Os jovens israelenses que recusam alistar-se num “exército de ocupação”

Foto: Alisdare Hickson | Flickr CC

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16 Novembro 2023

Há jovens, em Israel, a fazer objeção de consciência, recusando-se a prestar serviço nas forças armadas, devido à política de ocupação de territórios palestinos. Alguns dizem mesmo: “Fomos nós que criamos este monstro”.

A informação é publicada por 7Margens, 14-11-2023.

Um caso é o do Mesravot, uma rede de ativistas e objetores (refuseniks). Uma das suas ativistas, Ella Keidar, de 17 anos e moradora de Tel Aviv, e Yehelich Cialic, coordenador da rede, responderam a algumas perguntas de Anna Polo, colaboradora da ONG Mundo sem Guerras e sem Violência, publicadas no site da Pressenza – Agência Internacional de Imprensa.

Ella Keidar, que fala das consequências de se assumir como refusenik, responde que alguns “são condenados a prisão militar por algumas semanas ou alguns meses, e há problemas familiares que alguns … enfrentam”. Mas, no caso da rede Mesravot, a principal consequência é que a recusa não é uma questão meramente pessoal. “Estamos transformando a nossa recusa numa ação política, falando à imprensa, divulgando a nossa recusa e agindo diretamente com outros ativistas, israelenses e palestinos, o que nos coloca em perigo, especialmente com o clima político repressivo do momento”, explica a jovem.

À pergunta sobre as diferentes razões que levam jovens israelenses a não se alistar no exército, Ella Keidar refere o caso dela: “o que me levou a mim e aos meus amigos não só a não participar numa força militar violenta e ocupante, mas também a trabalhar ativamente contra ela, foi a esperança de podermos mudar a realidade deste lugar”.

Naturalmente que a situação criada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro, no que se refere aos pacifistas e objetores, não poderia deixar de ser considerada. Segundo a entrevistada, já antes daquela data, “o apoio não era muito grande”. Mas agravou-se depois daquela data e a sociedade israelense “aceita muito menos” as ideias e posições dos que contestam os meios violentos”. Por isso, ainda que “ativos”, tiveram de adotar formas de ação mais “cautelosas”, “por medo de represálias civis e da repressão estatal”.

O Mesravot desenvolve atividades de entreajuda entre os seus membros, apoiando-se na recusa em combater, e dá apoio jurídico aos refuseniks que vão parar na prisão militar. Além disso, os membros participam em atividades públicas de sensibilização para o antimilitarismo e para a recusa de servir no exército.

Apesar do perigo, decorrente do atual contexto de guerra, o Mesravot tem desenvolvido atividades conjuntas com jovens ativistas da paz palestinos e israelense, como é o caso de uma carta que dirigiram à ONU e uma declaração conjunta para a paz subscrita por “muitas organizações da sociedade civil”.

Também por iniciativa de uma assembleia popular e de várias organizações da sociedade civil, dizem os entrevistados, em Tel Aviv e Jaffa, foi criada “uma guarda civil mista árabe-judaica para impedir a violência e o racismo contra os palestinos e para proteger os civis”. Apesar de todas as dificuldades, desabafa: “Penso que, apesar desta situação horrível, ainda há esperança”.

Para eles, “o único caminho viável” para assegurar uma solução de “verdadeira justiça e paz é o de uma real colaboração judaico-palestina”, explicando: “há milhões de judeus israelenses e milhões de palestinos nesta terra e ninguém quer sair. Temos de encontrar a nossa forma de viver juntos, através do reconhecimento mútuo, de uma verdadeira solução política, da soberania palestina, de reparações institucionais e do direito de regresso”.

O coordenador da rede Mesravot, Yehelich Cialic, tem um percurso político ligado também ao sindicato comunista que está ligado ao Partido Comunista Israelense, o único partido judaico-palestino no parlamento israelense, que é constituído por 90% de palestinos e 10% de judeus. Numa entrevista dada ao site italiano AlaNews, este refusenik israelense refere que aprendeu árabe e trabalhou em “presença de proteção” na zona dos colonatos, que significa “documentar violações de direitos humanos, violência dos colonos, destruição de casas, negação de acesso a terras agrícolas” a palestinos, e outros atos levados a cabo por militares e funcionários da administração das forças ocupantes.

Explica que o Exército do seu país se habituou a tornar a morte corriqueira, criando uma ideia de impunidade. “Somos o exército mais poderoso de sempre, somos Israel, podemos fazer o que queremos”, retrata Cialic, acrescentando: “fomos nós que criamos este monstro”.

O ativista defende que mais armas nas mãos das Forças de Defesa de Israel “para matar palestinos como vingança não resolveriam nada. Não me protegeriam. Digo-vos isto como israelense”. Para ele, “a única forma de evitar mais derramamento de sangue e mais sofrimento” passa por um cessar-fogo e a reabertura de negociações com as diferentes fações palestinas.

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