08 Novembro 2024
"Algo semelhante também se dizia sobre seu pequeno grande parceiro Netanyahu: o primeiro-ministro israelense tão forte que nunca precisou entrar em guerra aberta com seus inimigos. Depois, sabemos como isso acabou. Na verdade, o 'case de sucesso' do 'pacifismo' de Trump continua sendo os Acordos de Abraão, que ele patrocinou (na pele dos palestinos) entre o Estado judeu e as ricas petro-monarquias do Golfo", escreve Gad Lerner, jornalista, publicado por Il Fatto Quotidiano, 07-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Uma parcela majoritária do eleitorado estadunidense reagiu ao mal-estar econômico e à insegurança com o mesmo espírito que fez dos Estados Unidos a sociedade com a maior difusão de armas de fogo pessoais. Ou seja, recorrendo à liderança do “homem forte” que já demonstrou, apelando para a “vontade popular”, que sabe como forçar as regras da democracia e pretende distorcê-las em sua própria vantagem. Somente os ingênuos podem acreditar que uma potência imperial em declínio, com índices de violência e conflito sem precedentes, cujo bloco industrial militar está sendo privatizado nas mãos de novos monopolistas inescrupulosos, encontrará na presidência isolacionista de Trump - ou melhor, na dupla Trump&Musk - a saída para as guerras em que seus antecessores a encurralaram.
Trump energúmeno capaz de acabar com os conflitos planetários nos quais os Estados Unidos estão envolvidos? Nem brincando.
Algo semelhante também se dizia sobre seu pequeno grande parceiro Netanyahu: o primeiro-ministro israelense tão forte que nunca precisou entrar em guerra aberta com seus inimigos. Depois, sabemos como isso acabou. Na verdade, o “case de sucesso” do “pacifismo” de Trump continua sendo os Acordos de Abraão, que ele patrocinou (na pele dos palestinos) entre o Estado judeu e as ricas petro-monarquias do Golfo. A guerra que inflama o Oriente Médio desde 7 de outubro de 2023 é a variável que, do alto de seu dinheiro e poder, eles nem sequer concebiam.
Com a mesma despreocupação, Trump tinha pisoteado o autonomismo dos curdos, sem falar como ele organizou a retirada do Afeganistão. Agora, a grande tentação é agradar a Israel (com que timing Netanyahu se livrou de seu ministro da defesa ligado demais ao governo Biden!) na tentativa de derrubar o regime dos aiatolás no Irã. Para “deixá-lo terminar o trabalho” iniciado em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano, como Trump cinicamente vai repetindo enquanto promete impor um fim à guerra da Ucrânia, graças às suas boas relações com Putin. O desengajamento na Europa junto com o arriscado redesenho armado dos equilíbrios no Oriente Médio? Como se nessa área dois presidentes dos EUA (aliás: Bush pai e Bush filho, ambos republicanos) já não tivessem liderado semelhantes guerras sangrentas, mas fracassadas, sem mencionar a que Reagan (outro republicano) encomendou a Saddam Hussein em 1980 contra o Irã.
Em vez de nos iludirmos de que Trump será capaz de manter a promessa que repetiu na noite de sua vitória - “comigo nada mais de guerras”, ele que adora guerras comerciais e a guerra contra os imigrantes - é melhor nos prepararmos: para defender os interesses estadunidenses, ele tentará enviar outros para a linha de frente, a pagamento ou pela força, por bem ou por mal, inclusive europeus.
Exultam pela vitória do casal Trump&Musk um bom número de tiranos e líderes soberanistas espalhados pelo mundo. Eles veem serem reempossados na superpotência estadunidense aqueles que aplicam a regra de ouro com a qual eles também seduziram seus eleitorados: os interesses da nação devem sempre prevalecer sobre qualquer regra comunitária que queira subordiná-los a vínculos externos. Típico é o que está acontecendo entre a Itália e a Corte Europeia de Justiça em relação aos migrantes. Entre os que comemoram o retorno de Trump, há também alguns pró-europeus improvisados da última hora que afirmam: finalmente a UE será obrigada a atingir a maioridade, tornando-se autônoma no financiamento de seu aparato militar. Essas são mentiras contadas de má fé por aqueles que já estão brigando por um relacionamento privilegiado com um capitalista capaz de sujeitar os Estados como é Elon Musk. Deveríamos ter aprendido com isso: a proliferação dos nacionalismos divide e contrapõe os povos, ameaça a paz e a democracia.
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Donald Trump e Elon Musk não acabam com as guerras: as enfileiram. Artigo de Gad Lerner - Instituto Humanitas Unisinos - IHU