29 Novembro 2023
"Chega de ódio, chega de vinganças, este é o momento de voltar a falar de paz, o destino dos dois povos", diz o Pe. Ibrahim Faltas, vigário da Custódia da Terra Santa, que, em uma entrevista ao Sir, fala sobre a guerra, o Natal e o sofrimento dos dois povos. Nos últimos dias, o frade também teve encontros com o presidente palestino Abu Mazen e com o Papa Francisco.
"Na Terra Santa, há um antes de 7 de outubro e um depois de 7 de outubro, assim como o 11 de setembro para os Estados Unidos. As pessoas têm medo de sair, não há ninguém nas ruas. Áreas fechadas por razões de segurança. Pessoas assustadas". O Pe. Ibrahim, vigário da Custódia da Terra Santa, descreve assim "o clima" em Israel, na Cisjordânia e em Gaza, após o ataque terrorista do Hamas a Israel. Falando nos últimos dias aos participantes da XX Assembleia Nacional Ordinária eletiva da Fisc, em Roma, o frade também fala de Belém, cidade que será o centro das celebrações de Natal nas próximas semanas: "É uma cidade morta, fechada, vazia, deserta. Entrar e sair é muito difícil. Muitas pessoas querem fugir. As famílias cristãs querem levar seus filhos embora, porque dizem que lá não têm futuro. A guerra não é apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia. Para onde o Hamas quer ir? Para onde Israel quer ir? Estas são as perguntas que nos fazemos hoje".
A entrevista é de Daniele Rocchi, publicada por Sir, 28-11-2023.
Padre Ibrahim, no próximo domingo, 3 de dezembro, começará o Tempo do Advento que leva ao Natal. Mas que Natal será para Gaza e Belém?
"Será um Natal triste. Estamos cercados por mortos, feridos, destroços e sofrimento. Em Gaza, tudo foi destruído. Nenhuma das famílias cristãs tem mais uma casa para ficar, todas estão deslocadas dentro da paróquia latina, mais de 700 pessoas, e na ortodoxa grega de São Porfírio. A mesma situação na Cisjordânia e em Belém, onde há prisões, mortes e feridos. Na cidade natal de Jesus, hoje fechada e deserta, não haverá festas, na praça do presépio não haverá luzes nem árvore de Natal. Em 2 de dezembro, véspera do primeiro domingo do Advento, o guardião da Terra Santa, Pe. Francesco Patton, fará, como tradição, sua entrada na cidade, mas há dificuldades a superar devido ao momento atual. O Natal será concentrado na Missa do Galo, celebrada pelo patriarca latino, cardeal Pierbattista Pizzaballa. Nos últimos dias, estive em conversa com o presidente palestino Abu Mazen e com o Papa Francisco. Estamos aguardando o presidente Abu Mazen na Missa do Galo em Belém. Ele disse que virá. A presença dos presidentes palestinos na Missa de Natal remonta a 1995 com Yasser Arafat.
Já se passaram mais de 50 dias desde 7 de outubro e ainda nos perguntamos como um fato assim pôde acontecer...
Em 7 de outubro, ocorreu o que todos consideravam impossível, um fato trágico ao qual ninguém consegue dar uma explicação: em poucas horas, 1.400 israelenses foram mortos, 5.000 ficaram feridos, um verdadeiro "Sábado Negro". Muitos em Israel - e não só - se perguntam como isso pôde acontecer, e alguém terá que dar respostas. A esperança agora é que a trégua continue mesmo após a libertação acordada dos reféns. Tenho certeza de que o Egito, os Estados Unidos e o Catar, que mediaram esse acordo, estão trabalhando para a continuidade da trégua e a completa libertação de todos os reféns. Nenhum desses países, liderados por Biden, quer que a guerra continue não apenas em Gaza, mas em toda a Terra Santa. Não se pode descrever o que vimos nestes 50 e mais dias de guerra, um inferno na terra. Estou há 35 anos na Terra Santa, vivi a primeira e a segunda Intifada, o cerco à Natividade, mas nunca tinha visto algo assim.
Após o que aconteceu, ainda acredita na paz entre israelenses e palestinos?
A única solução é viver juntos, é o destino desses dois povos. Acredito que este seja o momento de falar de negociações, de paz, porque depois de tantas vítimas, destruições e sofrimentos, é preciso dizer basta, basta guerra, basta sangue, basta vingança. Chegou a hora de retomar a solução "Dois povos, dois Estados". Este é o papel da comunidade internacional. Já se passaram 70 anos desde que se fala nisso, mas depois voltamos à guerra, que sempre é paga pelos inocentes. Precisamos de uma paz justa, sustentável e duradoura imediatamente. Todos os poderosos da Terra passaram pela Terra Santa, todos falaram de Dois Estados, mas ninguém nunca fez nada. Eles devem estabelecer um prazo para que isso aconteça, uma data em que haverá o Estado palestino que todos devem reconhecer. São João Paulo II sempre dizia que nunca haverá paz no mundo se não houver paz em Jerusalém. O coração do mundo é a Terra Santa, o coração do conflito é Jerusalém. Se uma solução for encontrada para a Cidade Santa, teremos paz. Jerusalém, como a Santa Sé sempre espera, deve ser uma cidade aberta a todos.
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“50 dias de inferno na terra. A paz é o destino dos dois povos”. Entrevista com Padre Ibrahim Faltas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU