10 Fevereiro 2025
Grupos evangélicos conservadores dos Estados Unidos começam a sentir a “trumpada” que tomaram depois das anunciadas medidas do presidente Donald, recém-eleito, suspendendo programa sociais. Evangélicos costumam caminhar com o presidente republicano.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Myal Greene, presidenta da World Relief, braço humanitário da Associação Nacional de Evangélicos, anunciou uma lacuna de financiamento de 8 milhões de dólares (cerca de 46 milhões de reais) como resultado da suspensão federal ao Programa de Admissão de Refugiados dos Estados Unidos.
A organização atende perto de 4 mil refugiados. O Centro de Estudos de Imigração, um laboratório de ideias apartidário, avaliou que o montante de reassentados no ano fiscal de 2024 foi o maior em três décadas, com mais de 100 mil refugiados reassentados.
O vice-presidente de Advocacia e Política da World Relief, Mathew Soerens, disse ao portal The Christian Post que a maioria dos refugiados reassentados nos governos Trump e Biden eram pessoas cristãs. Nos oitos anos do governo Obama (2009-2017), a organização recebeu iraquianos e afegãos, que serviram na missão militar dos Estados Unidos.
Luteranos também se manifestaram indignados com a acusação do militar Micahel Flynn, que atuou como conselheiro de Segurança Nacional no primeiro governo Trump. Ele disse que a fé luterana estava usando a religião como uma “operação de lavagem de dinheiro”. O serviço humanitário da Igreja Evangélica Luterana da América (ELCA) atende crianças de imigrantes nos Estados Unidos.
Flynn afirmou que a Lutheran Social Service of the South recebeu um total de 134,1 milhões de dólares (cerca de 733 milhões de reais) em subsídios, afora outros 82,9 milhões de dólares (472 milhões de dólares) para a Lutheran Service Florida, sem indicar, no entanto, o período do recebimento dos recursos. “Essas entidades estão recebendo somas enormes, o que levanta sérias questões sobre como os fundos dos contribuintes estão sendo gastos e quem está se beneficiando”.
A pastora presidente da ELCA, Elizbeth Eaton, reagiu: “Sobre alegações de que estamos de alguma forma ‘lavando dinheiro’ saibam que somos altamente auditados, credenciados e endossados pelo Better Business Bureau”. Em administrações democratas e republicanas, “fizemos parceria com o governo dos Estados Unidos para proteger crianças vulneráveis, protegê-las contra o tráfico de pessoas e reuni-las com segurança com seus pais ou responsáveis”. Eaton lembrou que os relatórios financeiros
da entidade estão disponíveis no site da organização. Mas a indignação às medidas trumpistas não se restringe ao aspecto econômico. Donald revogou a política de “Proteção de Locais Sensíveis”, que limitava a ação dos agentes federais de imigração em áreas consideradas “sensíveis”, como templos, hospitais, escolas. “Criminosos não poderão mais se esconder nas escolas e igrejas para evitar a prisão”, disse um porta-voz do Departamento de Segurança Interna do país.
O presidente da National Hispanic Christian Leadership, pastor Samuel Rodriguez, que discutiu com equipe de Trump as restrições quanto aos locais sensíveis para a ação do Immigration and Customs Enforcement(ICE), assegurou ao portal que agentes não vão entrar em igrejas “mas podem estar fora da área do estacionamento, fora da propriedade da igreja procurando por aquele elemento criminoso que talvez saia de um culto na igreja”.
E explicou, apoiando a medida trumpista: “Se você não é um criminoso e é um imigrante enraizado, está aqui há 10, 15, 25, 30 anos e seus filhos nasceram e foram criados aqui, você não é o alvo principal do ICE”.
Mais uma vez foi um clérigo “comunista” da Igreja Episcopal, agora o líder máximo da denominação nos Estados Unidos, o bispo presidente Seanm Rowe, que manifestou um contraponto em homilia: “No Reino de Deus, imigrantes e refugiados, pessoas transgênero, os pobres e marginalizados não estão nas bordas, com medo e sozinhas. Elas estão no centro da história do Evangelho”.
Também o diretor executivo da National Hispanic Baptist Network, Bruno Molina, lamentou a decisão do presidente Donald. “Como uma rede de líderes ministeriais hispânicos, reconhecemos a necessidade da segurança de nossas comunidades”, disse. E acrescentou: “Esperamos que o governo respeite a liberdade religiosa de uma igreja de ministrar à sua comunidade e manter a santidade de seus espaços de culto”.