20 Mai 2025
"Leão XIV provavelmente aplicará às novas questões na pauta os mesmos princípios e a mesma estratégia, baseada na mediação da fraternidade. O problema da 'justa remuneração' é e continua sendo hoje de grande atualidade devido ao fenômeno do trabalho precário e do 'subemprego'", escreve Leonardo Becchetti, professor de economia política da Universidade de Tor Vergata, em Roma, colunista de Avvenire e um dos fundadores da Next – Nova economia para todos, em artigo publicado por Avvenire, 16-05-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Precisamente porque me senti chamado a continuar nessa linha, pensei assumir o nome de Leão XIV. Há várias razões, mas principalmente porque o Papa Leão XIII, com a histórica Encíclica Rerum novarum, abordou a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial; e hoje a Igreja oferece a todos o seu patrimônio de doutrina social para responder a uma outra revolução industrial e aos desenvolvimentos da inteligência artificial, que trazem novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho”.
Foi o próprio Cardeal Prevost, o novo pontífice, que nos explicou no início do seu pontificado a escolha do seu nome. O último Leão (XIII) tinha de fato iniciado com a Rerum novarum a reflexão da doutrina social da Igreja sobre a revolução industrial, entrando em campo com a lógica da fraternidade no embate entre liberdade de mercado e igualdade defendida (então com a violência) pelo movimento socialista. O novo papa, acostumado, como Francisco, por sua história de missão, a ver o mundo a partir da perspectiva dos últimos, escolhe o nome de Leão XIV por acreditar que a doutrina social da Igreja deve refletir sobre as Rerum novarum dos nossos tempos, ligadas ao terremoto da revolução digital e da inteligência artificial.
Leão XIII havia sido sensível ao grito de dor e reconhecido as difíceis condições do proletariado da época e sua exploração, que gerava salários distantes de uma "justa remuneração". Mas quis esclarecer imediatamente que a violência, a luta de classes e a abolição da propriedade privada não eram o remédio certo. Em vez disso, na lógica da fraternidade e da inteligência relacional, alertava ele, era importante reconstruir o fio condutor do diálogo entre capital e trabalho e favorecer alianças horizontais de trabalhadores em associações sindicais.
Leão XIV provavelmente aplicará às novas questões na pauta os mesmos princípios e a mesma estratégia, baseada na mediação da fraternidade. O problema da "justa remuneração" é e continua sendo hoje de grande atualidade devido ao fenômeno do trabalho precário e do "subemprego". O desafio mais temível é o da inteligência artificial, que não se trata apenas de um aumento na velocidade de circulação do conhecimento, como o produzido pelo advento dos mecanismos de busca na web, mas sim de uma aceleração impressionante na capacidade de reelaboração do conhecimento graças ao trabalho dos assistentes digitais. Entramos em uma grande revolução cujas consequências não podemos calcular. O que já sabemos é que a produtividade aumentou de modo impressionante e se traduziu, em parte, em um bem-estar digital feito de "mercadorias sem peso" para todos, mas as distâncias entre trabalhadores com altas e baixas competências tendem a aumentar ainda mais.
A política será essencial para evitar que essas desigualdades internas a cada país alimentem ainda mais populismos, teorias da conspiração e desconfiança nas instituições, minando a coesão social e a democracia. O apelo do pontífice e da comunidade crente à sensibilidade das consciências dos atores envolvidos e de todos nós será decisivo. No melhor dos cenários possíveis, esse aumento de produtividade pode gerar um bem-estar mais generalizado e uma redução da jornada de trabalho (as experiências bem-sucedidas de semanas curtas de quatro dias em empresas de ponta são agora numerosas). Há todo o potencial para, com esse acréscimo de potência, mirar decisivamente à qualidade do trabalho (livre, criativo, participativo e solidário, como pedia o Papa Francisco), abrindo espaços importantes à demanda de bem-estar daqueles que chegam de países distantes e muito mais pobres (e que resolve o problema da falta de trabalho na crise demográfica).
O trabalho no campo da comunidade crente permite vislumbrar as coordenadas de uma nova síntese de inteligência relacional aos desafios das coisas novas. Há espaço para uma reavaliação do trabalho de cuidado, cuja demanda é cada vez mais premente diante do crescente problema da falta de autossuficiência e dos anos de vida sem ter boa saúde. Do direito subjetivo à formação para cidadãos e trabalhadores de todas as idades como uma verdadeira cura contra a armadilha do trabalho precário na era da inteligência artificial. De formas de renda básica de formação e participação que ajudem aqueles que são descartados ou expulsos por processos cada vez mais rápidos de destruição e criação de empregos a se reintegrarem e redescobrirem sua dignidade perdida. É necessário fortalecer os canais de fluxos migratórios legais que devem conectar eficientemente o excesso de demanda de trabalho nos países em crise demográfica com o excesso de oferta de trabalho (e de demanda de resgate da pobreza) dos países de baixa renda. Há necessidade, sempre na chave da inteligência relacional, de percursos de discernimento e de acompanhamento de mentores e tutores para tornar eficazes orientação e políticas ativas.
Um papa estadunidense, vindo de Chicago (a pátria da economia mainstream), mas missionário e conhecedor do mundo a partir da perspectiva dos últimos, é o melhor e mais competente guia para liderar um processo que une progresso tecnológico e desafios sociais nessa fase tão fascinante e difícil, repleta de desafios para a democracia e a paz.