07 Mai 2025
Poucos dias antes da abertura do conclave, em 7 de maio, em Roma, os cardeais – La Croix conversou com cerca de 15 deles – estão procurando um papa capaz de manter o equilíbrio em uma Igreja moldada pela diversidade e secularização.
A reportagem é de Mikael Corre, publicada por La Croix International, 06-05-2025.
À medida que o conclave se aproxima em 7 de maio, as expectativas entre os cardeais estão entrando em foco. Não se espera que o próximo papa seja um "Francisco II" ou um "Bento XVII". Em vez disso, ele precisará continuar a história da Igreja sem ser confinado por ela – para unificar uma Igreja global diversificada e guiar um mundo católico que luta contra a secularização. O objetivo é simples, mas urgente: manter a evangelização possível.
Em 2 de maio, a poucos passos da sala do Vaticano onde os cardeais se reúnem todas as manhãs, um cardeal europeu que concordou em falar com La Croix saiu por uma porta lateral – evitando o bando de jornalistas do lado de fora do Santo Ofício. Ele entrou em um café próximo, parando para algumas selfies com turistas americanos curiosos que reconheceram seu zucchetto vermelho. "Acho que a polarização entre nós é exagerada", disse ele. "Passei a semana ouvindo. E ninguém falou sem mencionar a missão."
Esta é a mensagem calculada de um apoiador comprometido de Francisco – um esforço para suavizar o quadro político e polarizado que emerge das negociações a portas fechadas desta semana? Talvez. Mas enquanto os cardeais se preparam para entrar na Capela Sistina, as interpretações políticas do Colégio - esquerda versus direita, progressista versus conservador - têm se firmado cada vez mais. Ainda assim, algumas coisas parecem unir os homens de vermelho. O principal deles: uma sensação de calma.
Esse senso de perspectiva se mostrou nas conversas de La Croix com 15 cardeais de todo o mundo, todos os quais falaram sob condição de anonimato. A Igreja enfrenta desafios existenciais urgentes em muitos países – escassez de padres, dificuldades financeiras – mas essas reuniões privadas desde a morte do Papa Francisco levaram muitos a aprofundar sua visão global do catolicismo. "Isso engrossou nossa compreensão", disse um cardeal, estendendo as mãos para enfatizar o ponto.
Poucos dos 133 cardeais eleitores parecem presos a um nome ainda – ou pelo menos não estão dizendo isso. "Eu realmente apreciei as observações do cardeal [Luis Antonio Tagle], muito comoventes", disse um cardeal em 1º de maio. "Mas sem conclusões precipitadas - ainda estou ouvindo."
Falando de uma faculdade romana, ele acrescentou: "Estou ouvindo a todos. Tenho verdadeiro respeito por alguns deles. Alguns seriam excelentes papas. Ele precisará de uma mente ampla e pés firmes - essas são as qualidades que mais valorizo. Não estou olhando para tendências ideológicas. O que importa é se ele pode ser um pastor para toda a família. Ele precisa se conectar com as pessoas e ser ouvido globalmente."
Além de nomes individuais e listas de finalistas, um perfil aproximado do próximo papa está tomando forma. Segundo um cardeal italiano, o sucessor de Pedro deve, acima de tudo, ser "um pastor". As discussões desta semana o convenceram disso. O declínio global no número de católicos não é mais apenas uma questão ocidental, ele alertou: "O principal desafio para o próximo papa é este: a verdade objetiva e transcendente está sendo negada. A secularização dominante tornou-se seu próprio tipo de religião, prendendo as pessoas no individualismo e no subjetivismo. Você vê isso em todos os lugares, onde quer que a urbanização esteja se enraizando. Sua esperança? Um papa que pode "proclamar às cidades". Uma voz de seu tempo."
Os cardeais parecem estar procurando alguém que evite o jargão da Igreja, seja teologicamente sólido, mas acima de tudo, fundamentado e pastoral. Isso poderia funcionar contra figuras da Cúria Romana, como o cardeal Pietro Parolin, um experiente diplomata do Vaticano frequentemente mencionado nos últimos dias. "Ele é educado, mas não é muito pastoral. Ele nunca liderou uma diocese", observou um cardeal.
Dos 133 eleitores no conclave de 2025, 92 atualmente lideram dioceses. Enquanto alguns - especialmente os italianos - enfatizam o valor da experiência institucional, eles desconfiam de qualquer pessoa muito envolvida nela. "O centralismo romano é um desvio", disse um cardeal com experiência internacional. "Precisamos de alguém que entenda o mundo de hoje, com grande humanidade e profunda inteligência", acrescentou outro. "E por inteligência, não quero dizer um bispo tecnocrático. Ele precisa ser capaz de conectar teologia e cuidado pastoral".
Vários cardeais também disseram que o próximo papa não deve ser muito jovem. "Queremos realmente outro papado de 25 anos como o de João Paulo II?", perguntou um deles. "Ele precisará estar em boa forma física", acrescentou outro. "O papel é esmagador." É por isso que muitos cardeais estão descartando candidatos com muito menos de 80 anos.
De onde deve vir o sucessor de Francisco? "A Ásia e a África moldarão o futuro da Igreja. Isso não é uma teoria – é um fato", disse o cardeal austríaco Christoph Schönborn esta semana. Como ele, muitos cardeais europeus com quem conversamos são pragmáticos sobre a mudança do centro de gravidade da Igreja. "Agora trata-se de encontrar a pessoa certa para acompanhar essa transição", disse um deles, alertando contra a nostalgia de um catolicismo ocidental outrora dominante.
"Precisamos de um papa que possa ler os sinais dos tempos, que estão sempre mudando", disse um prelado asiático, que vem de um país duramente atingido por guerras comerciais desencadeadas pelo ex-presidente dos EUA, Donald Trump. "Esta guerra econômica criará uma nova pobreza. O papa deve ser uma voz profética para chamar isso."
Então, quem se encaixa no projeto? "Ninguém verifica todas as caixas", admitiu um cardeal. Seus colegas ecoaram o desejo de um "unificador", até mesmo uma figura de "compromisso" – alguém que possa liderar a igreja em uma "experiência positiva de diversidade". "O Colégio dos Cardeais é muito diversificado. Precisamos de alguém que saiba ouvir a todos", disse um eleitor que se autodenominava um "bergogliano conservador". Ele acrescentou: "Precisamos de um homem que seja forte, mas gentil, um pouco como João XXIII. Não necessariamente um grande intelectual, mas alguém que reza, ouve e permanece firme".
Um papa carismático? "Talvez elejamos alguém muito tímido", disse um cardeal com um sorriso. Vendo a surpresa em nossos rostos, ele riu: "Por que não? A eleição vai mudá-lo. O homem, que tomará um novo nome, será transformado."
