30 Abril 2025
O briefing diário do National Catholic Reporter revela as primeiras falhas entre os cardeais.
A reportagem é de Christopher White, publicada por National Catholic Reporter, 29-04-2025.
Enquanto quase 200 cardeais do mundo todo realizam reuniões secretas a portas fechadas antes do conclave da próxima semana, uma necessidade simples surgiu: crachás.
"Após um pedido, também teremos crachás informando de onde viemos", disse o cardeal inglês Vincent Nichols ao The Times, o diário britânico.
Dos 135 cardeais com menos de 80 anos, e portanto elegíveis para participar do conclave, 80% foram criados por Francisco — o que significa que este é seu primeiro conclave.
Dois dos cardeais eleitores elegíveis informaram a Santa Sé que não poderão participar do conclave por motivos de saúde, elevando o número de eleitores para 133, anunciou o Vaticano em uma coletiva de imprensa em 29 de abril.
Os nomes dos cardeais que abandonaram o conclave não foram divulgados. Um deles é provavelmente o cardeal espanhol Antonio Cañizares Llovera, de 79 anos, que já havia anunciado sua retirada.
Muitos cardeais estão usando esta semana as congregações gerais, como são conhecidas as reuniões diárias pré-Conclave, para se conhecerem uns aos outros antes de entrarem na Capela Sistina em 7 de maio.
O cardeal japonês Tarcisio Isao Kikuchi publicou esta selfie no Facebook enquanto os cardeais viajavam de ônibus em 27 de abril para prestar homenagem ao túmulo do Papa Francisco. Ao fundo da foto, o cardeal de Nápoles, Domenico Battaglia, conversa com o cardeal de Toronto, Francis Leo. Os três são eleitores de primeira viagem e foram elevados ao posto de cardeal por Francisco em seu último consistório em dezembro.
O cardeal japonês Isao Kikuchi postou esta selfie no Facebook. A foto foi tirada a caminho de Santa Maria Maior. (Cardeal japonês Isao Kikuchi via Facebook.)
A principal história na imprensa italiana hoje (29 de abril) é o veredito final sobre o cardeal sardo Angelo Becciu, que anteriormente serviu como sostituto de Francisco, ou seja, seu chefe de gabinete, e depois como chefe do Dicastério para as Causas dos Santos.
Becciu renunciou sob críticas em 2020, perdendo assim seus "direitos ligados ao cardinalato", o que, segundo todas as interpretações, significava que ele estava impedido de participar do conclave. Becciu, que alegou inocência, foi posteriormente considerado culpado por um tribunal do Vaticano por apropriação indébita financeira em um julgamento financeiro do Vaticano, acompanhado de perto, em 2023.
Apesar de perder os direitos cardinalícios, Becciu inicialmente disse aos repórteres que pretendia participar do conclave. Mas, finalmente, na manhã de terça-feira, divulgou um comunicado afirmando que havia "decidido obedecer, como sempre fiz, à vontade do Papa Francisco de não participar do conclave".
Muitos jornais italianos, que frequentemente se inclinam para o sensacionalismo, continuam a promover a candidatura do antigo secretário de Estado de Francisco, o Cardeal Pietro Parolin. Os três últimos papas não vieram da Itália. Antes da eleição do Papa João Paulo II em 1978, já fazia 455 anos que não havia um papa não italiano.
O jornal Il Fatto Quotidiano estima que Parolin, de 70 anos, poderia entrar no primeiro turno da votação com pelo menos 40 votos. No Reino Unido, uma das maiores casas de apostas do país, a William Hill, lista Parolin como seu favorito. Em 2013, as apostas da William Hill, que tendem a depender fortemente dos jornais italianos, estavam no cardeal Angelo Scola, de Milão.
Enquanto isso, o jornal espanhol Vida Nueva relata que os cardeais conservadores lideraram o movimento durante as reuniões pré-conclave de segunda-feira, com o cardeal nigeriano Francis Arinze e o cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller sendo "particularmente beligerantes em substância e forma".
Müller, ex-chefe do escritório doutrinário do Vaticano, que Francisco substituiu em 2017, disse recentemente ao New York Times que o estilo do falecido papa era dividir a igreja, especialmente ao introduzir tópicos como liderança feminina e bênçãos gays.
"Todos os ditadores estão se dividindo", disse Müller.
O britânico Nichols, em sua entrevista ao The Times, rejeitou a insinuação de Müller de que a Igreja poderia correr o risco de se dividir se elegesse um futuro papa nos moldes de Francisco.
"Certamente que não", respondeu o cardeal inglês. "O Cardeal Müller tem uma mente acadêmica excelente e maravilhosa, e tende a ver as coisas de uma forma um tanto abstrata."
Cento e oitenta e três cardeais participaram da congregação geral de terça-feira, dos quais mais de 120 eram cardeais eleitores. No encontro, os cardeais ouviram uma meditação espiritual do padre beneditino Donato Ogliari.
Ogliari, abade de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, usou suas reflexões para oferecer um grito de guerra aos cardeais para que não se esqueçam da visão de Francisco de uma Igreja que "sabe ser até mesmo uma voz fora do coro, enquanto teimosamente aponta para os caminhos da justiça, da fraternidade e da paz".
Segundo o texto divulgado pela sala de imprensa do Vaticano, Oligari disse: “A Igreja enraizada em Cristo é uma Igreja mestra de fraternidade, ensinada com palavras e gestos marcados pelo respeito mútuo, pelo diálogo, pela cultura do encontro e pela construção de pontes e não de muros, como o Papa Francisco sempre nos convidou a fazer”.
Em seus comentários, o abade disse que a igreja deve viver em uma "comunhão diversa" e disse aos cardeais que o foco do falecido papa na sinodalidade "produziu chamas de participação e renovação em todos os cantos do mundo".
O processo sinodal convida todos os batizados a fazer contribuições à igreja, disse Oligari.
"Acredito que este seja um claro sinal dos tempos", disse ele. O processo sinodal pode "revitalizar a comunhão e a participação dentro do corpo eclesial".
O diálogo dentro da Igreja, que Francisco intensificou, deve ser buscado sem medo, disse Oligari.
“É um elemento constitutivo da missão da Igreja”, disse o abade.