29 Abril 2025
"O caso Becciu entrou, portanto, nas discussões e manobras que estão preparando a eleição do papa. Como aliás sempre aconteceu na história e mostra o exemplo literalmente mais alto", escreve Giovanni Maria Vian, historiador e ex-diretor do L'Osservatore Romano, em artigo publicado por Domani, 25-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
De diferentes partes do mundo, os cardeais continuam a chegar a Roma para as exéquias do papa e para participar - em teoria todos, incluindo os não eleitores com mais de 80 anos, 252 no total - das congregações gerais, que estão se realizando desde o dia que se seguiu à morte do Papa Francisco e irão até a véspera do conclave. Nessas reuniões cruciais para preparar a eleição do papa, o caso do cardeal Angelo Becciu se impôs imediatamente, como era previsível.
O prelado da Sardenha, de 76 anos, está entre os colaboradores mais próximos de Bergoglio. Primeiro com o cargo de substituto da Secretaria de Estado, comparável ao de um ministro do Interior, e depois como prefeito do órgão curial que trata das causas dos santos, ou seja, os processos de beatificação e canonização.
Em 2020, acusações de desvio de dinheiro foram apresentadas ao pontífice contra Becciu, que em uma audiência de trabalho com Bergoglio foi dramaticamente privado dos direitos ligados ao cardinalato. A clamorosa decisão papal precede em quase um ano o início de um complicado e longo julgamento perante o tribunal do Estado do Vaticano, que também envolve uma dezena de pessoas por causa de um investimento imobiliário em Londres. É uma medida sem precedentes contra o cardeal, que o historiador Alberto Melloni - certamente não hostil ao falecido pontífice e agora autor de um livro sobre as eleições papais (Marietti1820) - chamou abrasivamente de “crucificação preventiva”. Por fim, em 2023, Becciu foi condenado em primeira instância a cinco anos e meio. Mas depois de um procedimento tortuoso e muito criticado, como mostra o livro, recém-publicado, dos juristas Geraldina Boni, Manuel Ganarin e Alberto Tomer (Marietti1820), com uma riqueza de elementos e argumentos, e como resulta de um site suíço (www.andreapaganini.ch) que vem acompanhando o caso Becciu desde o início, reunindo centenas de artigos.
Enquanto isso, o prelado, que está aguardando o processo de apelação, foi convidado pelo Papa Francisco a participar de liturgias e cerimônias como os outros cardeais. E o cardeal também participou da celebração solene da Páscoa, após a qual o pontífice, com enorme e comovente esforço, pronunciou as palavras em latim - suas últimas palavras públicas - da bênção urbi et orbi, para a cidade de Roma, da qual ele era bispo, e para o mundo.
Becciu tem participado das congregações gerais desde o início e seu caso explodiu por causa de seu pedido para entrar no conclave como eleitor. Duas fontes diferentes disseram ao Domani que, num primeiro momento, o decano do colégio, Giovanni Battista Re, de 91 anos, não tendo nenhuma disposição por escrito do falecido pontífice, teria lhe dito que ele era a favor.
De acordo com essas notícias, nas horas seguintes, Re, um curial de longa experiência cuja tarefa é conduzir as congregações gerais, no entanto, teria se encontrado com seu colega estadunidense de origem irlandesa Kevin Joseph Farrell, que foi membro dos Legionários de Cristo por cerca de vinte anos. O prelado de 77 anos - que ocupa o antiquíssimo cargo de camerlengo da Santa Igreja Romana e, nessa função, preside a sede vacante - supostamente teria comunicado ao cardeal decano o desejo do Papa Francisco, expresso a ele apenas verbalmente há algum tempo, de que Becciu não entrasse no conclave.
A esse ponto, as duas fontes informaram que Re havia pedido ao seu colega Becciu para dar um passo atrás. Becciu, no entanto, teria respondido que não estava disposto a fazer isso. Além disso, na congregação geral, um cardeal teria pedido informações sobre esse problema e o decano teria respondido que havia um acordo entre ele e o prelado da Sardenha. Imediatamente, o cardeal Becciu teria replicado, expondo os fatos ponto por ponto e confirmando sua intenção de não renunciar ao seu dever de eleger o papa, já que não havia nenhum documento do pontífice que comprovasse a afirmação do camerlengo. Este último teria permanecido em silêncio. Muito sabiamente, então, os cardeais teriam decidido tratar a questão mais adiante, quando, além disso, haveria mais presentes do que as mais de cem desses primeiros dias.
Ontem à noite, outra reviravolta: o cardeal Pietro Parolin teria mostrado a Becciu duas cartas datilografadas assinadas pelo pontífice com um F que o excluiria do conclave: uma datada de 2023 e a outra de março passado, quando o papa enfrentava sua última gravíssima doença. O cardeal da Sardenha teria tomado ciência, mas não está claro se ele dará um passo atrás ou se as congregações gerais terão que decidir.
O que apoia a adequação de tratar a questão nas reuniões de cardeais é uma teoria muito sugestiva, elaborada por canonistas e teólogos medievais. De acordo com um deles, Egídio Romano, “o poder papal permanece na igreja, ou seja, no colégio de cardeais”. É ecoado por Agostinho Triunfo, quando afirma que o “poder do papa é perpétuo”, mas ao mesmo tempo “não pode se perpetuar no papa, pois ele também morre, como os outros homens”.
Nas congregações gerais durante a sede vacante, portanto, é toda a igreja que debate, eventualmente até de forma dura. E após a teorização da colegialidade pelo Concílio Vaticano II, para implementar, entre outras coisas, o método sinodal de consultas em todos os níveis introduzido durante o pontificado de Francisco, poder-se-ia pensar que, no futuro, até mesmo essas reuniões - se não o próprio conclave - poderão ser abertas a representantes leigos, especialmente às mulheres.
O caso Becciu entrou, portanto, nas discussões e manobras que estão preparando a eleição do papa. Como aliás sempre aconteceu na história e mostra o exemplo literalmente mais alto. Entre 1462 e 1463, em seus extraordinários Commentarii (Adelphi), o papa humanista Pio II de fato relatou em primeira pessoa as negociações que conduziu com grande habilidade antes do conclave do qual saiu eleito em 1458.