25 Abril 2025
A cada dia, até o conclave que elegerá o sucessor do Papa Francisco — cuja data ainda não foi definida —, John Allen apresenta o perfil de um papabile, termo italiano para designar um homem que pode se tornar papa. Não existe um método científico para identificar esses candidatos; trata-se, em grande parte, de avaliar reputações, cargos ocupados e a influência exercida ao longo dos anos. Também não há garantia alguma de que um desses nomes sairá vestido de branco; como diz um antigo ditado romano, “quem entra no conclave como papa, sai como cardeal”. No entanto, esses são os principais nomes que estão despertando interesse em Roma neste momento, o que ao menos garante que serão considerados. Conhecer quem são esses homens também indica quais questões e quais qualidades os outros cardeais consideram desejáveis ao se aproximar da eleição.
A informação é de John L. Allen Jr., publicado por Crux, 24-04-2025.
Enquanto o mundo está tomado pela ansiedade e pela incerteza, impulsionado pela ascensão de governos autoritários, por um conflito na Europa que parece prestes a sair de controle e por uma profunda instabilidade econômica, os cardeais em Roma se reúnem para eleger um novo papa. Decidem confiar a Barca de Pedro a um diplomata veterano, um homem que acreditam estar preparado para conduzi-la com segurança pelas tempestades que parecem inevitáveis.
Na verdade, essa é uma descrição do Conclave de março de 1939, que elegeu o cardeal Eugenio Pacelli, secretário de Estado sob o recentemente falecido Pio XI e diplomata da Santa Sé que havia servido como embaixador papal na Alemanha na década de 1920, onde testemunhou a ascensão do Nacional-Socialismo. Ele adotou o nome de Papa Pio XII e acabaria por conduzir a Igreja pelos anos de carnificina e turbulência da guerra.
Muitos observadores acreditam, no entanto, que o passado pode servir de prólogo neste Conclave, já que o mundo mais uma vez parece atravessar uma série de transições de caráter epocal, e o homem que os cardeais poderiam considerar como o mais bem posicionado para enfrentar este momento talvez seja outro diplomata de vasta experiência e cultura: o cardeal italiano Pietro Parolin, de 70 anos, que, assim como Pacelli em sua época, é atualmente o secretário de Estado do Vaticano.
Nascido em 1955 em Schiavon, uma pequena cidade de 2.500 habitantes no norte da Itália, próxima às fronteiras com a Áustria e a Suíça, Parolin é filho de um proprietário de loja de ferragens e de uma professora do ensino fundamental. Seu pai morreu em um acidente de carro quando Parolin tinha apenas 10 anos, deixando ele, seu irmão (hoje um magistrado) e sua irmã (atualmente também professora) sob os cuidados da mãe, Ada.
Parolin sempre teve como destino o sacerdócio, ingressando no seminário menor aos 14 anos e sendo ordenado em 1980, aos 25 anos. Três anos depois, sua vida tomou um rumo decisivo quando entrou na prestigiosa Pontifícia Academia Eclesiástica de Roma, centro de formação dos futuros diplomatas do Vaticano.
Durante os anos 1980 e início dos anos 1990, Parolin serviu em embaixadas da Santa Sé na Nigéria — onde testemunhou tentativas de construção de uma democracia após a guerra civil de Biafra e uma série de golpes militares — e depois no México, onde teve papel importante na restauração das relações diplomáticas formais após 130 anos de política oficialmente anticlerical e rigidamente secularista do governo mexicano.
Em 1992, Parolin retornou a Roma e iniciou uma longa trajetória na Secretaria de Estado, atuando como assessor da segunda seção, que lida com as relações com governos estrangeiros, e, mais tarde, como alto funcionário responsável pelos assuntos italianos. Durante esse período, ele também se tornou diretor da Villa Nazareth, uma instituição fundada nos escombros da Segunda Guerra Mundial pelo lendário cardeal italiano Domenico Tardini, com o objetivo de proporcionar uma educação de primeira classe a jovens promissores sem recursos.
Em 2002, Parolin foi nomeado subsecretário para as Relações com os Estados, tornando-se o segundo diplomata mais importante do Vaticano, com responsabilidade especial pelas relações com o Vietnã e a China. É creditado a ele o avanço na normalização das relações com o governo oficialmente comunista do Vietnã, o que levou, entre outras coisas, a um acordo sobre a nomeação de bispos e à designação de um representante papal residente em Hanói.
De 2009 a 2013, Parolin serviu como enviado do Papa Bento XVI na Venezuela, onde teve que navegar pelas águas turbulentas da “Revolução Bolivariana” de Hugo Chávez. Adotou uma abordagem que mais tarde chamaria de “neutralidade positiva”, ou seja, não se alinhar abertamente nem com Chávez nem com a oposição, mantendo-se positivamente engajado em favor da democracia, dos direitos humanos e das necessidades humanitárias básicas.
Não foi a última vez que sua postura atraiu críticas, inclusive de alguns católicos dentro da Venezuela e da crescente diáspora anti-Chávez, que achavam que o Vaticano deveria ser mais incisivo ao desafiar a agenda socialista do regime e seus frequentes ataques à Igreja.
Em agosto de 2013, o Papa Francisco nomeou Parolin como seu Secretário de Estado, cargo que ocupa há doze anos, sendo o principal sustentáculo da administração franciscana. Embora a relação entre os dois tenha tido altos e baixos — como em momentos em que Francisco retirou o controle das finanças da Secretaria de Estado ou nomeou um enviado pessoal para lidar com o conflito na Ucrânia, marginalizando a equipe diplomática oficial — poucos serviram ao pontificado com mais lealdade e por tanto tempo quanto Parolin.
Sua principal conquista diplomática nesses 12 anos é o “Acordo Provisório” com a República Popular da China, assinado em setembro de 2018 e renovado duas vezes. Embora os termos completos permaneçam em segredo, o acordo torna, na prática, o Partido Comunista Chinês e o Vaticano parceiros na nomeação de novos bispos no país.
Seus defensores afirmam que o acordo é essencial para curar um cisma de fato entre a Igreja oficial e a clandestina; seus críticos alegam que ele dá poder demais ao Partido Comunista e é um insulto às gerações de católicos chineses que sofreram e morreram por sua lealdade a Roma.
Sem dúvida, centra-se em sua formação e experiência diplomática profunda. Há poucos cardeais que se pode imaginar sentados frente a frente com Donald Trump, Xi Jinping ou Vladimir Putin e mantendo firme sua posição — Parolin certamente está nessa lista.
Além disso, é conhecido por manter equilíbrio emocional e grande autocontrole. Se a busca é por alguém que possa oferecer muito do conteúdo do pontificado de Francisco, mas com menos reviravoltas e choques, menos “bombas” e surpresas, ele pode parecer uma boa escolha.
Se você acha que o próximo papa precisa ser mais combativo, alguém que fale alto e claro contra a perseguição religiosa, por exemplo, e enfrente de forma agressiva os inimigos percebidos da Igreja, então Parolin provavelmente não é a pessoa certa — o que é outra forma de dizer que talvez você prefira um cruzado a um diplomata.
Em nível mais prático, vale lembrar que antes de Pacelli, em 1939, o último Secretário de Estado eleito papa havia sido o cardeal Giulio Rospigliosi, que se tornou Clemente IX em 1667 — um intervalo de 272 anos.
A razão é simples: Secretários de Estado normalmente são muito identificados com o papa que serviram e, além disso, estiveram tempo demais no poder e acumularam muitos inimigos para conseguir dois terços dos votos num conclave onde colegas cardeais, com memória longa, ainda guardam ressentimentos por desfeitas ou frustrações passadas.
Além disso, há sérias dúvidas sobre o papel de Parolin em uma desastrosa transação imobiliária de 400 milhões de dólares em Londres, que levou ao chamado “julgamento do século” no Vaticano. Embora a história seja complexa, especialistas podem se perguntar se o fato de Parolin ter aprovado todas as transações contestadas nesse escândalo realmente corresponde ao perfil de um papa capaz de enfrentar a crescente crise financeira da Santa Sé.
Definitivamente um candidato de primeira linha, mas também há uma poderosa combinação de razões para o ceticismo.
Para quem dá valor a isso, as famosas (e amplamente desacreditadas) Profecias de São Malaquias preveem que o último papa se chamaria “Pedro, o Romano”, e Pietro Parolin — cujo nome significa “Pedro” em italiano e que viveu em Roma a maior parte da vida adulta — talvez se encaixe poeticamente na descrição.