23 Abril 2025
"Se depois de Bento XVI e do escândalo dos Vatileaks era plausível imaginar uma eleição de ruptura, como ocorreu com Bergoglio, hoje tudo é menos decifrável."
O artigo é de Paolo Rodari, jornalista, publicado por Il Manifesto, 22-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Difícil negar. No momento, o favorito para suceder a Jorge Mario Bergoglio é o italiano Pietro Parolin. Secretário de Estado do Vaticano, 70 anos, agrada tanto aos bergoglianos quanto aos conservadores. Refinado diplomata, sabe como encarnar o caminho da implementação do Concílio Vaticano II tomado por Francisco sem assustar a Igreja mais apegada à tradição, às suas regras e sensibilidades.
Francisco o quis ao seu lado no comando da diplomacia papal. Ele sempre confiou nele, mesmo nos momentos mais difíceis, como no caso do processo contra o Cardeal Becciu. Mas tudo ainda é incerto. Com a morte de Francisco, de fato, a Igreja está se preparando para um conclave inédito, por ser planetário, global, o menos eurocêntrico da época contemporânea, com as periferias no centro e a maioria dos cardeais de nomeação bergogliana vindos de todo o planeta. Se depois de Bento XVI e do escândalo dos Vatileaks era plausível imaginar uma eleição de ruptura, como ocorreu com Bergoglio, hoje tudo é menos decifrável. O candidato certo poderia ser tanto uma personalidade aberta, mas sem rupturas doutrinárias excessivas, quanto um conservador, mas com visão ampla.
Se Parolin é um candidato “de continuidade” e, ao mesmo tempo, “um equilibrador” capaz de manter o leme da Igreja em uma linha pastoral aberta, mas sem rupturas desestabilizadoras, também é verdade que, atrás dele, há vários cardeais que poderiam aspirar à eleição. O primeiro e mais importante deles é Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana. Próximo a Francisco em questões sociais, ele tem longa experiência no campo diplomático graças à sua proximidade com a Comunidade de Santo Egídio. Ele também é muito apreciado pelos conservadores porque é acolhedor em relação a todas as sensibilidades.
Expressão de uma Igreja próxima dos pobres e do diálogo, ele tem uma abordagem pastoral inovadora, dialogante e pragmática.
E ainda há o outsider italiano, o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém. Ele é um franciscano em ascensão. Ele tem experiência direta do conflito em curso em Gaza, e sua candidatura poderia ser favorecida pela necessidade de uma ponte entre o Oriente e o Ocidente, bem como por sua capacidade de diálogo inter-religioso. Nesses meses de guerra, Francisco conversou com ele em várias oportunidades. A linha da Santa Sé de condenação das violências e, ao mesmo tempo, de proximidade aos dois povos sofredores é a sua linha.
Durante o último conclave, o nome do filipino Luis Antonio Tagle, prefeito do Dicastério para a Evangelização dos Povos, foi mencionado várias vezes. Nos últimos anos, ele trabalhou arduamente sem buscar os holofotes, escondido, e isso poderia o favorecer. Ele é o rosto da Ásia católica, com um carisma que lembra aquele de Francisco. Ele poderia ser um pontífice que simboliza uma Igreja missionária e jovem. Depois do primeiro papa sul-americano, o primeiro papa asiático.
Mas ainda é a Europa que poderia reservar surpresas. O francês Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, é de fato um nome que está circulando bastante. Especialista em diálogo inter-religioso, especialmente com o Islã, ele representa uma Europa que ainda quer desempenhar um papel de liderança na Igreja, com uma abertura para os desafios migratórios e culturais do Mediterrâneo.
E também na Europa há o nome do conservador, mas de visão aberta, o Cardeal sueco Anders Arborelius. Ele nasceu em uma família protestante na Suíça e se converteu ao catolicismo aos 20 anos.
E também o português José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, poeta e teólogo, uma figura intelectual de destaque com uma visão aberta e dialogante da fé. Sua sensibilidade cultural e abordagem pastoral inovadora fazem dele um excelente candidato para aqueles que buscam uma ponte entre a tradição e a modernidade.
Menos prováveis parecem ser dois candidatos mais claramente próximos do mundo conservador, a saber, Péter Erdo, húngaro, arcebispo de Esztergom-Budapeste, canonista e teólogo, um expoente da linha mais conservadora que já desempenhou um papel fundamental em sínodos anteriores. E Robert Sarah (Guiné), prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino, um dos cardeais conservadores mais influentes. Seu nome poderia agregar o voto daqueles que desejam uma guinada mais tradicionalista após o pontificado de Francisco.
Ainda há outros nomes em campo. Caso as primeiras votações não levem a um candidato forte, são eles que podem entrar em jogo. Nesse sentido, fala-se de Charles Bo (Mianmar), arcebispo de Yangon, uma figura de destaque em uma área geopoliticamente instável. Ele tem uma visão missionária e atenta aos direitos humanos. De Malcolm Ranjith (Sri Lanka), arcebispo de Colombo, ex-secretário da Congregação para o Culto Divino, é um candidato da área tradicionalista, próximo a Bento XVI. De Fridolin Ambongo Besungu (República Democrática do Congo), arcebispo de Kinshasa, franciscano, ativo na frente social e política de seu país. Ele poderia representar uma ponte entre a África e o Vaticano. E de Willem Jacobus Eijk (Países Baixos), arcebispo de Utrecht, um dos cardeais europeus mais tradicionalistas.