26 Abril 2025
"De modo geral, Francisco provavelmente não foi uma voz clamante no deserto, mas um papa de minoria na comunidade do clero, não apenas na Cúria Romana, tolerado, mas não aprovado".
A opinião é de Gianfranco Pasquino, cientista político e professor da Universidade de Bolonha e da Johns Hopkins University, em artigo publicado por Domani, 23-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para um papa como Francisco, que até o fim buscou e quis se relacionar com as pessoas, fossem elas cristãs ou não, “fiéis”, praticantes, aquela imagem de seu andar lento e solitário em plena Covid, em 27 de março de 2020, no pátio da basílica de São Pedro molhada pela chuva, captura um momento muito doloroso, mas ao mesmo tempo emblemático.
De certa forma, todos nós nos tornamos vulneráveis diante da pandemia, todos precisávamos de sua oração. De certa forma, o papa interpretava essa necessidade universal e lhe dava voz. Estava sozinho, somente ele, justamente ele que já havia feito da relação com os “fiéis” um pilar de seu papado, que visivelmente extraia conforto e energia dos chamados “banhos de multidão”.
Repetidamente, mas não de uma maneira artificiosa, sua pregação foi direcionada a temáticas universais: a defesa do meio ambiente, o fim das guerras, o acolhimento dos migrantes, a marginalidade. Por esse fato, o fato de se colocar do lado dos fracos, dos vulneráveis, dos que menos têm, foi muitas vezes criticado.
Mas a compaixão e a misericórdia são sentimentos que não precisam ser baseados em análises refinadas e traduzidos em estratégias que levem em conta os custos e os benefícios. Profetas e pregadores não competem com economistas, sociólogos e estudiosos de geopolítica, mesmo que às vezes seja errado prescindir do que conhecemos graças a deles.
As distâncias entre o que a pregação de Bergoglio significou em termos de escolhas políticas, meio ambiente, guerras, migrações e pobreza, e o que os chefes de governo, democráticos ou não, fizeram nos últimos anos, são abismais. Não por acaso esses problemas se agravaram substancialmente. Nenhuma voz sozinha pode ser bem-sucedida a menos que seja criada uma massa crítica de Estados, de preferência democráticos, com unidade de propósito e objetivos compartilhados. Essa pode ser definida com a tragédia do mundo contemporâneo. Com suas pregações, Bergoglio a destacou em toda a sua incomprimível complexidade.
Hoje, uma parte não pequena da massa de comentários positivos sobre a pregação do Papa Francisco pertence à esfera da hipocrisia, aquela homenagem involuntária que o vício (e seus adoradores, os viciosos) presta à virtude, hipocrisia fácil, talvez inevitável, e certamente a ser criticada.
Algo a ser criticado na pregação do papa existe, e não apenas do meu ponto de vista pessoal: o que diz respeito à vida, quando ainda não existe, a interrupção da gravidez e quando ela se torna humilhante e não é mais tolerável, ou seja, o acabar com ela. Essas são temáticas sobre as quais o papa permaneceu forte e preguiçosamente tradicionalista.
De modo geral, Francisco provavelmente não foi uma voz clamante no deserto, mas um papa de minoria na comunidade do clero, não apenas na Cúria Romana, tolerado, mas não aprovado.
É justo e apropriado perguntar - ele mesmo certamente pensou sobre isso - quantas de suas posições sociais e, mais propriamente, políticas, amplamente progressistas, continuarão a influenciar as avaliações e as práxis da Igreja Católica. No próximo conclave, cento e oito dos cento e trinta e cinco cardeais com direito a voto foram nomeados por ele. É bastante provável alguma afinidade de ideias e compartilhamento de prioridades e objetivos, que aliás não foram pré-condição para a nomeação, mas quanto? Esses cardeais continuarão buscando a paz, a justiça duradoura, a defesa do meio ambiente, a redução da pobreza e da marginalização? Quantas dessas temáticas continuarão sendo prioridades da Igreja Católica? Somente dessa forma o legado do pontificado de Francisco será um fermento de crescimento cultural, moral e político da vida nas comunidades.