21 Novembro 2024
O artigo é de Carlos Ayala Ramírez, publicado por Religión Digital, 18-22-2024.
Carlos Ayala Ramírez é professor da Escola de Pastoral Hispânica da Arquidiocese de San Francisco. Professor do Instituto Bíblico Teológico Pastoral da Diocese de Oakland. Difusor do pensamento de São Óscar Romero.
Para comemorar e agradecer, no 35º aniversário dos mártires da UCA, foi escolhido o lema: Semeemos esperança para colher liberdade. Por outro lado, a convocação para o jubileu de 2025 traz a frase: A esperança não decepciona.
Certamente, a esperança associada aos mártires e ao jubileu bíblico não é uma esperança barata ou ilusória. Não é um otimismo superficial que leva a pensar que as realidades de desespero mudarão eventualmente. Pelo contrário, é uma esperança contra toda esperança, ou seja, uma esperança na contracorrente.
O renomado biblista John Dominic Crossan comenta em um de seus livros que "Dom Óscar Romero, mártir do século XX, [...] disse certa vez que somos chamados a ser cristãos da Páscoa em um mundo de Sexta-Feira Santa, um mundo ainda governado por Herodes e César". Nesse contexto, somos chamados a semear esperança.
Uma vida animada pelo amor e pela justiça é fonte de esperança. Cada ato de amor, consciência e compaixão gera esperança. Por outro lado, cada ato de indolência, mentira e egoísmo gera desespero.
As pessoas cuja esperança é forte — como foi a dos mártires — veem e fomentam todos os sinais de nova vida e estão sempre prontas a ajudar no advento do que está em condições de nascer. Para Ignacio Ellacuría, por exemplo, a esperança é própria do providente, aquele que mantém seu olhar à frente, além do presente imediato, além dos interesses egoístas ou minoritários. Ele se guia pelo princípio da realidade, entendido não como aceitação resignada do que existe, mas como a busca, no que há, do que deve haver: justiça e misericórdia.
O testemunho mais vivo dessa esperança é dado pelos mártires que, por fidelidade ao reinado de Deus, foram capazes de entregar sua vida. Por isso, o Papa Francisco declarou recentemente que "não é necessário um milagre para beatificar um mártir. O martírio é suficiente".
Ignacio Ellacuría. Animação: Jonathan Camargo | IHU
Nesse sentido, o tipo de esperança bíblica associada ao jubileu é magistralmente descrito pelo profeta Isaías: "Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras de um livro; os olhos dos cegos verão sem trevas nem escuridão; os oprimidos voltarão a alegrar-se no Senhor, e os pobres exultarão no Santo de Israel, porque já não haverá opressores, e os arrogantes terão sido exterminados. Serão eliminados os que tramam iniquidades, os que com suas palavras culpam os outros, os que tentam enganar os juízes e, sem motivo, arruínam o justo" (Is 29, 18-21).
O profeta nos faz enxergar o mundo como Deus o vê (ou espera vê-lo), mas também como Deus o ama e deseja restaurá-lo. Por isso, o Senhor se constitui como protetor do pobre e do desamparado. De maneira concreta, ele se torna especialmente protetor do órfão, da viúva e do estrangeiro: três categorias de pessoas particularmente vulneráveis ao abuso e à exploração.
A partir dessa visão, devemos nos perguntar: quais são ou devem ser os sinais concretos de esperança de que o mundo de hoje necessita? Vejamos alguns desses sinais destacados no documento papal que convoca ao jubileu.
O primeiro sinal de esperança, segundo Francisco, deve ser para os povos oprimidos pela brutalidade da guerra. O Papa faz uma pergunta profunda: "O que mais resta a esses povos que já não tenham sofrido? Como é possível que o grito desesperado de ajuda desses povos não motive os líderes das nações a quererem pôr fim aos inúmeros conflitos regionais, conscientes das consequências que podem surgir em nível global?"
Os pobres ocupam um lugar central neste jubileu. O Papa lamenta que, diante da sucessão de novas ondas de pobreza, exista o risco de nos acostumarmos e nos resignarmos. Neste vínculo entre o jubileu e os pobres, ele renova o apelo para que, com os recursos destinados a armas e outros gastos militares, se crie um fundo mundial para acabar de vez com a fome e promover o desenvolvimento dos países mais pobres.
Ele também fala dos privados de liberdade (mas não de dignidade), que enfrentam diariamente o vazio afetivo, as restrições impostas e, em muitos casos, a falta de respeito. Para oferecer aos presos um sinal concreto de proximidade, Francisco expressa o desejo de abrir uma Porta Santa em uma prisão, para que ela seja um símbolo que os convide a olhar para o futuro com esperança e com um compromisso renovado de vida.
Para Francisco, também devem existir sinais de esperança para os migrantes que abandonam sua terra em busca de uma vida melhor para si e suas famílias. Ele pede que suas esperanças não sejam frustradas por preconceitos e barreiras. Clama para que os exilados, deslocados e refugiados tenham garantidos segurança, acesso ao trabalho e à educação, instrumentos necessários para sua inserção no novo contexto social.
Em resumo, a esperança derivada do testemunho martirial e do espírito do jubileu pode nos ajudar a recuperar o sonho humanista de que "todos tenham vida e a tenham em abundância". Em outras palavras, a esperança não decepcionará quando estiver intimamente ligada à justiça, ao crescimento humano e ao compromisso com a construção de uma nova humanidade e um novo mundo. A esperança se renova quando há sinais concretos de mudança para aqueles que sobrevivem em meio à crueldade econômica, política, social, militar e ecológica.
Os mártires e o jubileu bíblico nos colocam diante da necessidade de retomar a esperança, uma esperança que surge da luta pela vida e contra a morte. Mais ainda, é necessário despertar para a esperança e estar sempre pronto para aquilo que ainda não é, mas que tem não apenas possibilidade, como também necessidade de realização: garantir uma vida digna e justiça para as diferentes modalidades de pobreza que existem no mundo de hoje.
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Mártires e jubileu. Esperança na contracorrente. Artigo de Carlos Ayala Ramírez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU