14 Novembro 2024
Sobre a ordenação diaconal das mulheres, foi explícito: "Ficaria feliz se a Igreja decidisse pela ordenação das mulheres ao diaconato, porque, de fato, elas já exercem o diaconato."
O artigo é de Francesco Strazzari, professor de Relações Internacionais na Scuola Universitaria Superiore Sant’Anna, em Pisa, na Itália, publicado por Settimana News, 08-11-2024.
De 2 a 6 de maio de 1980, mais de dois mil delegados da Igreja Católica da Inglaterra e do País de Gales se reuniram em Liverpool para discutir “Jesus Cristo, caminho, verdade e vida”, no Congresso Nacional Pastoral, uma espécie de “concílio” para debater uma série de questões urgentes: da corresponsabilidade na Igreja ao ministério sacerdotal, da família à sociedade, da educação cristã à justiça no mundo. A preparação, meticulosa e envolvente, durou cerca de dois anos até a escolha dos delegados.
Surgiu que metade dos católicos ingleses nunca tinha ouvido falar do Concílio Vaticano II, não aceitava a encíclica de Paulo VI, Humanae Vitae, sobre contracepção, e não concordava com a obrigatoriedade do celibato para os padres. Debates acalorados e francos.
O Congresso pediu que fosse discutida a possibilidade de admitir mulheres ao sacerdócio, embora Paulo VI tivesse escrito ao primaz da Igreja Anglicana que a Igreja Católica não estava de modo algum de acordo por razões teológicas e históricas. O Congresso se mostrou favorável à ordenação de homens casados, convidando a hierarquia a examinar a questão.
Era sabido que o cardeal Hume, arcebispo de Westminster, era favorável à revisão da prática eclesiástica e que havia discutido isso no Vaticano.
O clamor do Congresso reacendeu a esperança de um renovamento da Igreja, mas inquietou Roma.
Os padres da National Conference of Priests, que representavam cinco mil padres da Inglaterra e do País de Gales, reuniram-se em Birmingham de 1 a 5 de setembro para refletir sobre os resultados do Congresso de Liverpool, apenas uma semana após a sua conclusão. Aprovaram as conclusões das várias comissões.
Um breve comentário sobre o cardeal Hume. Filho de um renomado médico escocês, não católico, e de uma mãe francesa, ele se fez beneditino, adotando o nome Basilio em 1945. Formou-se em História em Oxford e obteve a licença em Teologia em Friburgo. Ensinou línguas modernas e História no célebre colégio beneditino de Ampleforth. Tornou-se abade em 1963; arcebispo de Westminster em março de 1976, e cardeal no mesmo ano, nomeado por Paulo VI. Em 1979, foi eleito presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa. Participou do concílio, onde, para surpresa dos padres, contou alguns sonhos para descrever a Igreja como “tenda de Abraão”.
Perguntei-lhe uma opinião sobre o famoso Congresso de Liverpool em 1980. "Você sabe que a Igreja tem tempos longos. O importante é que chegamos a um congresso, onde bispos, padres, leigos, adultos e jovens se confrontaram e discutiram animadamente. Foi uma ótima experiência." Quanto à ordenação de homens casados, ele confirmou que o pedido seria enviado a Roma. Da mesma forma, em relação à aceitação de pastores anglicanos casados.
Em um encontro, em julho de 1985, perguntei-lhe sua opinião sobre o lugar das mulheres na Igreja. Ele foi sincero e direto: "Penso que devemos dar responsabilidades às mulheres na Igreja. O problema da ordenação feminina ainda é vivo. A Igreja se pronunciou negativamente sobre isso e aceito a autoridade papal, mas acho que, fora da ordenação ao sacerdócio, as mulheres podem ter um papel muito importante. É uma questão sobre a qual a Igreja deve refletir e não perder tempo."
Sobre a ordenação diaconal das mulheres, foi explícito: "Ficaria feliz se a Igreja decidisse pela ordenação das mulheres ao diaconato, porque, de fato, elas já exercem o diaconato."
E sobre a queda nas ordenações, foi igualmente direto e claro: "É necessário que, em certas partes do mundo, alguém seja ordenado na comunidade para poder celebrar a eucaristia. Para mim, a celebração da eucaristia é importante. Não se deve privar o povo da celebração eucarística, não se deve privar as pessoas do sacramento da reconciliação. Por causa da eucaristia, é necessário refletir se, em certos lugares, podemos encontrar alguém respeitado na comunidade que possa celebrar a eucaristia, e esse alguém poderia ser casado. O importante é que goze de grande respeito."
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Memórias /2: Inglaterra, os sonhos desfeitos de Hume. Artigo de Francesco Strazzari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU