29 Junho 2022
"Chegou a hora de reiniciar um trabalho sério de pesquisa no campo da teologia eucarística aplicada à celebração. E, ao mesmo tempo, dar a algumas comunidades escolhidas a possibilidade de adaptar as orações eucarísticas do Missal e compor novas, sob a orientação de pessoas preparadas biblicamente e teologicamente, que tenham o sentido da oração litúrgica. É preciso coragem para ousar, pesquisar, experimentar, mesmo correndo o risco de errar", escreve Goffredo Boselli, liturgista italiano, em artigo publicado por Vita Pastorale, 28-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ao abrir amplamente os tesouros da Bíblia, o Vaticano II deu nova linfa à liturgia da Palavra, que hoje se apresenta como a parte mais viva e envolvente da Eucaristia dominical, especialmente quando as leituras são bem proclamadas e a homilia é digna do seu nome.
Como a mesa da palavra de Deus, a mesa eucarística também foi preparada com maior abundância: o Missal Romano apresenta seis novas orações eucarísticas, sem contar aquelas para as celebrações com as crianças. Se, no entanto, se comparar a qualidade da participação dos fiéis durante a liturgia da Palavra e com aquela da oração eucarística, somos obrigados a admitir que nesta segunda uma notável diminuição do interesse e da atenção. Mas a anáfora é o coração da liturgia eucarística, é a grande ação de graças, a bênção, a adoração, o memorial, a intercessão, a doxologia. A anáfora é a síntese da oração cristã e, no entanto, não consegue envolver e arrastar os fiéis que a vivem passivamente, como mudos espectadores de um longo e, na maioria das vezes, apático monólogo do presbítero.
Imediatamente após o Concílio ficou entendido que a renovação de toda oração litúrgica passava pela renovação da oração eucarística. Foi um tempo tão fecundo quanto controverso para a criação "selvagem" de novas orações eucarísticas, certamente nem todas admiráveis, mas algumas, ainda hoje, exemplares por sua inspiração bíblica, profundidade teológica, qualidade literária, inspiração poética, eficácia das imagens, frescor da linguagem. Em particular, aquelas do holandês Hubb Oosterhuis, do belga Robert Gantoy e do francês Dieudonné Dufraisne. Aquele tempo terminou há décadas, mas ainda hoje lembra à Igreja o dever de fazer da oração eucarística o coração e a alma da Eucaristia.
É preciso ter a coragem de repensar a fundo a forma de monólogo, confiado a quem preside, que a anáfora tem há séculos. A assembleia deve ser envolvida com aclamações em canto, partes recitadas em comum e uma gestualidade mais rica do corpo. É preciso tornar vivo, expressivo e eloquente um texto que agora passa por cima das cabeças e não toca os corações.
Agradecer a Deus é uma atitude tão fundamental do crente que a Igreja não pode fechar os olhos diante da atual estranheza dos fiéis à anáfora, à sua incapacidade de se envolver gerada pela monotonia da linguagem, pela repetição de fórmulas doutrinariamente exatas, mas incapaz de colocar palavras eloquentes e envolventes nos lábios dos fiéis.
Chegou a hora de reiniciar um trabalho sério de pesquisa no campo da teologia eucarística aplicada à celebração. E, ao mesmo tempo, dar a algumas comunidades escolhidas a possibilidade de adaptar as orações eucarísticas do Missal e compor novas, sob a orientação de pessoas preparadas biblicamente e teologicamente, que tenham o sentido da oração litúrgica. É preciso coragem para ousar, pesquisar, experimentar, mesmo correndo o risco de errar.
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A Oração Eucarística. Uma teologia eucarística aplicada à celebração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU