28 Outubro 2024
O segundo período de sessões do Sínodo Mundial em Roma terminou. Por que isso não é um encerramento, mas apenas o começo, é o que o teólogo e padre tcheco Tomas Halik explica em entrevista ao katholisch.de.
A entrevista é de Mario Trifunovic, publicada por katholisch.de, 26-10-2024.
A segunda sessão do Sínodo Mundial em Roma durou quase quatro semanas. Com ela, também se encerra o processo sinodal da Igreja mundial iniciado por Papa Francisco em 2021. No final desse amplo projeto de reforma, o teólogo e filósofo da religião tcheco Tomas Halik faz um primeiro balanço em conversa com katholisch.de. Ele defende uma maior descentralização na Igreja Católica. Algumas das muitas reformas esperadas não ocorreram, mas existe uma razão especial para isso. O teólogo também fala sobre o que pode acontecer após o processo sinodal.
Senhor Halik, as discussões na segunda fase de sessões do Sínodo Mundial terminaram após quase quatro semanas. Como o senhor avalia a fase de encerramento?
Estou convencido de que o futuro do Cristianismo – pelo menos neste primeiro século do terceiro milênio – depende em grande parte de como o processo de renovação sinodal da Igreja continuará. O que mais ameaça a renovação sinodal é a ideia de que a segunda sessão seja uma espécie de encerramento do processo sinodal. Na realidade, ela deve ser um começo.
Em sua opinião, em que o sucesso da sinodalidade deve ser medido?
Ela deve ser medida principalmente em dois níveis: o primeiro é a transformação da mentalidade, que pressupõe um aprofundamento da teologia e da espiritualidade. O segundo é a capacidade da Igreja de estender o princípio sinodal além das fronteiras visíveis da Igreja e oferecê-lo como uma inspiração para transformar o processo de globalização em um processo de partilha, respeito mútuo e compatibilidade, no sentido da encíclica "Fratelli tutti" (2020).
Houve alguns temas "controversos" durante o Sínodo, como o tratamento da Igreja em relação às pessoas LGBTQ, maior participação dos leigos e a questão da ordenação de mulheres. Mas este Sínodo não deveria tomar decisões. O que o Papa Francisco realmente quer alcançar?
A assembleia sinodal em Roma não é um concílio ecumênico, mas sim uma espécie de "exercícios espirituais" que estimulam uma mudança de mentalidade, indicam a direção do caminho a seguir e encorajam as Igrejas locais a percorrerem esse caminho de forma autônoma e criativa – bispos, padres e leigos, pessoas no "centro" e na "periferia" da Igreja.
O que mais se pode esperar no futuro? Como o processo continuará?
Será importante que os Sínodos diocesanos e continentais se baseiem na fase atual do processo sinodal e, principalmente, que os grupos sinodais já existentes continuem seu trabalho. A atuação das comissões de consultores teológicos da Sinodalidade certamente será apoiada pelo "Magistério dos Teólogos" com novas propostas.
Qual é o próximo passo que a Igreja, na sua opinião, deve dar?
O que podemos esperar como próximo passo e fruto das experiências anteriores é uma maior descentralização da Igreja. Algumas reformas concretas, esperadas por muitos, não ocorreram, provavelmente porque está claro que algumas Igrejas locais estão maduras para as reformas e outras ainda não. Uma razão para isso é, por exemplo, a compreensão diferente do papel da mulher em várias culturas. Temo que algumas Igrejas locais – especialmente em alguns países pós-comunistas – ainda não tenham aceitado suficientemente o Concílio Vaticano II (1962-1965). Por isso, não é surpreendente que hesitem em seguir esse caminho. A situação geral hoje é diferente dos anos 1960, quando a Igreja se confrontava com a modernidade – curiosamente, em um momento em que a modernidade já estava chegando ao fim.
Como deve ser essa renovação sinodal?
Paradoxalmente, aqueles que esperam mudanças institucionais radicais da segunda sessão do Sínodo – e provavelmente ficarão desapontados – mostram uma atitude clerical: esperam mudanças "de cima". No entanto, a renovação sinodal deve ser uma resposta aos novos "sinais dos tempos" – mas essa tarefa ainda está à espera da Igreja na próxima etapa da jornada sinodal. A continuação do processo sinodal exige um aprofundamento da teologia e da espiritualidade, ou uma conexão entre teologia e espiritualidade, como o Papa Francisco propôs em seu Motu Proprio Ad theologiam promovendam (2023).
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Halik: É necessária uma maior descentralização da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU