"Há um senso de urgência nas palavras do pontífice, que 'pede a todos' que participem 'nesta hora dramática de nossa história, enquanto os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a devastar povos e nações inteiras'. Já são dez anos que Francisco denuncia a existência de uma 'Terceira Guerra Mundial em pedaços', e o risco de que os pedaços acabem se soldando", escreve Gian Guido Vecchi, jornalista italiano, em artigo publicado por Corriere della Sera, 03-10-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
Em 7 de outubro, o primeiro aniversário do ataque do Hamas a Israel, Francisco convocou “um dia de oração e jejum pela paz do mundo”. O Papa anunciou isso na Basílica de São Pedro, durante a missa de abertura do Sínodo. No dia anterior, domingo, “para invocar com a intercessão da Virgem Maria o dom da paz”, ele irá à Basílica de Santa Maria Maior para rezar o rosário e “dirigir uma súplica veemente à Virgem”, e pediu aos membros do sínodo que se juntassem a ele.
Há um senso de urgência nas palavras do pontífice, que “pede a todos” que participem “nesta hora dramática de nossa história, enquanto os ventos da guerra e os fogos da violência continuam a devastar povos e nações inteiras”. Já são dez anos que Francisco denuncia a existência de uma “Terceira Guerra Mundial em pedaços”, e o risco de que os pedaços acabem se soldando.
O soldado João Carlos Bergoglio havia lutado no rio Piave e, em 2014, cem anos após o início da Grande Guerra, o neto que se tornou papa foi ao Santuário de Redipuglia para pedir ao mundo que se lembrasse do “massacre inútil” e dos horrores do Século Breve. Na semana passada, na Bélgica, que foi invadida pelos nazistas e abriga as instituições da UE, Francisco disse claramente: “Estamos perto de uma quase guerra mundial”. Perder a memória da história é uma “esclerose perigosa” que “deixa as nações gravemente doentes e corre o risco de lançá-las em aventuras com custos humanos imensos”. O risco é “abrir a caixa de Pandora” quando “todos os ventos começam a soprar violentamente, sacudindo a casa e ameaçando destruí-la”. No domingo, no Angelus, o último apelo: “Peço um cessar-fogo imediato no Líbano, em Gaza, no resto da Palestina, em Israel”.
Afinal, os dias de oração e jejum pontuaram todo o pontificado. Nem seis meses haviam se passado desde sua eleição e, em 07-09-2013, Francisco já convidava à penitência “pela paz na Síria, no Oriente Médio”. Da mesma forma, ele exortou a rezar e jejuar para invocar o fim das violências no Congo e no Sudão do Sul, e novamente em 2020 para o Líbano e em 2021 para o Afeganistão. E novamente em 2022, alguns dias após a invasão russa na Ucrânia. O último dia foi há um ano, após o ataque do Hamas: “Jesus nos ensinou que a insensatez diabólica da violência é respondida com as armas de Deus, a oração e o jejum”.
Enquanto isso, ontem, o presidente da Conferência Episcopal Italiana, Dom Matteo Zuppi, na apresentação do livro de Aldo Cazzullo, Il Dio dei padri: il grande romanzo della Bibbia, criticou duramente Netanyahu: “O que eu diria a ele? Que ele não se preocupa com o bem de seu povo”.
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“Oração e jejum pela paz”. O 7 de outubro do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU