Papa Francisco e o ecumenismo

Papa Francisco e Patriarca Bartolomeu I. (Foto: Reprodução | Vatican News)

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15 Março 2023

Há dez anos, em 13 de março de 2013, era eleito o papa "que veio do fim do mundo", Francisco, nascido Jorge Bergoglio. O que mudou no movimento ecumênico em seus dez anos de pontificado?

O artigo é do pastor italiano Luca Maria Negro, presidente da Federação das Igrejas Evangélicas na Itália (FCEI), publicado por Riforma - semanário das igrejas Evangélica Batista Metodista e Valdense, 17-03-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Não há dúvida de que, através de suas muitas viagens e encontros ecumênicos, Francisco tenha trazido um sopro de ar fresco no panorama estagnado das relações entre as igrejas cristãs divididas. Gostaria de lembrar algumas dessas visitas.

A primeira é que à Igreja Pentecostal da Reconciliação de Caserta em 2014, uma visita "em caráter privado” mas ainda assim significativa: quando ainda estava na Argentina, Bergoglio tinha estreitado amizade com seu pastor, Giovanni Traettino, e de toda forma foi a primeira visita de um papa a uma comunidade evangélica de língua italiana (seus predecessores só haviam visitado os luteranos de Roma, comunidade de língua alemã).

A segunda é o encontro na igreja valdense de Turim, em 2015: uma visita histórica, porque pela primeira vez um papa visitava uma igreja herdeira direta da chamada "primeira Reforma" do século XII, que pagou um preço muito alto em termos de repressão e perseguição sistemática. Em Turim, Francisco pediu perdão "por atitudes e comportamentos não cristãos, até mesmo não humanos" que os católicos tiveram contra os valdenses. Mas esse não é o único aspecto significativo do encontro: outro, por exemplo, é a afirmação clara de que “a unidade que é fruto do Espírito Santo não significa uniformidade. De fato, os irmãos são unidos pela mesma origem, mas não são idênticos entre si. Isso está muito claro no Novo Testamento”, disse o Papa, pois já então “nem todas as comunidades cristãs tinham o mesmo estilo, nem uma organização idêntica". Em suma, Francisco assumiu o princípio ecumênico das "diversidades reconciliadas", nascido em âmbito protestante.

Outra visita fundamental foi a de Lund, na Suécia, em 31 de outubro de 2016, a convite da Federação Luterana Mundial para inaugurar as comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante.

A presença do Papa em Lund imprimiu um claro caráter ecumênico ao quinto centenário, na esteira do documento Do conflito à comunhão. A comemoração conjunta Luterana-Católica da Reforma em 2017, publicado pela Comissão Luterana/Católica para a Unidade.

Finalmente, gostaria de recordar a visita a Genebra em 2018, por ocasião do 70º aniversário da fundação do Conselho Mundial das Igrejas. Desse encontro o que mais me impressionou foi a imagem incomum do movimento ecumênico como uma "grande empresa com perdas". Hoje, de fato, todos estão tentando afirmar sua própria identidade, e aqueles que trabalham pelo ecumenismo não parecem proteger adequadamente os interesses das comunidades a que pertencem. Mas atenção, disse Francisco, não devemos ter medo de trabalhar com perdas, se for uma “perda evangélica”, segundo o caminho traçado por Jesus: “Salvar só o meu lado é caminhar segundo a carne; perder-se atrás de Jesus é caminhar segundo o Espírito". O ecumenismo poderá progredir "se, caminhando sob a guia do Espírito, recusar todo fechamento autorreferencial".

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