08 Agosto 2022
O prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos discursou na Conferência de Lambeth, em Londres, que reúne 600 bispos da Comunhão Anglicana. A eficácia da evangelização também depende do caminho comum.
A reportagem é de Roberta Barbi, publicada em Vatican News, 05-08-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Unidade ou visão comum: esse foi o cerne do discurso do cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, na Conferência de Lambeth no nono dia de trabalhos.
No encontro, que começou no dia 26 de julho e terminará no dia 8 de agosto, e que reúne 600 bispos da Comunhão Anglicana, uma delegação católica também foi convidada a refletir sobre o tema “A Igreja de Deus para o mundo de Deus: caminhar, escutar e testemunhar juntos". A fala do purpurado, ausente por motivos de saúde, foi lido à assembleia pelo oficial reverendo Anthony Currer.
O cardeal Koch iniciou sua reflexão citando um dos documentos católicos fundamentais sobre o tema do ecumenismo, a declaração Unitatis redintegratio, promulgada por Paulo VI em 1964.
Nela, reafirmava-se que todos os cristãos estão ligados entre si pelo Batismo e pelos fundamentos da fé e da tradição, e que Deus quer que a sua Igreja seja um sinal para o mundo. O documento também se definia a divisão entre as confissões cristãs como fruto do pecado, pelo qual é preciso fazer penitência.
A reflexão do purpurado prosseguiu, então, sobre qual é ou deveria ser hoje o objetivo do movimento ecumênico, citando entre as principais dificuldades o fato de concordar sobre o desejo de unidade, mas não sobre que tipo de unidade buscar. Como várias vezes na história eclesial houve exemplos de exclusões ou até de perseguições em nome da própria Igreja, em detrimento daqueles que tinham ideias diferentes, o cardeal convidou a uma “compreensão horizontal” da unidade, na linha da reconciliação e do equilíbrio entre as várias tradições eclesiais.
“Na tentativa de recuperar a unidade da Igreja – afirmou o cardeal Koch – o ecumenismo se encontra hoje diante de outro grande desafio.” Trata-se do pluralismo, termo “para designar a chamada experiência pós-moderna da realidade”. A mentalidade pós-moderna é eficaz também no atual pensamento ecumênico, já que o pluralismo eclesiológico hoje se tornou em grande medida plausível, e ter Igrejas diferentes é considerado uma realidade positiva: “A expressão ‘diversidade reconciliada’ descreve a atual situação ecumênica”, ressalta o purpurado, lembrando a necessidade compartilhada de orientar os esforços ecumênicos “para a oração do Sumo Sacerdote de Jesus, na qual ele rezava pela unidade dos seus discípulos”.
Ao término do seu discurso, o prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos lembrou que os participantes da primeira Conferência Missionária Mundial em 1910 evidenciaram como a falta de unidade entre os cristãos ameaçava a credibilidade do seu testemunho no mundo.
As divisões na cristandade revelavam-se uma forte barreira à evangelização naquela época – disse Koch –, e isso ainda é verdade, como recorda o Papa Francisco na sua exortação apostólica Evangelii gaudium, na qual ele se refere em particular aos contextos da Ásia e da África, dentro do quais a busca de caminhos para a unidade se torna ainda mais urgente.
“O testemunho ecumênico comum de Jesus Cristo no mundo atual só é possível – concluiu o cardeal – quando as Igrejas cristãs superam as suas divisões e podem viver em unidade na diversidade reconciliada. Ecumenismo e missão são inseparáveis, porque só assim a ‘Igreja de Deus’ é verdadeiramente ‘para o mundo de Deus’.”
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Ecumenismo. Igreja precisa de uma “diversidade reconciliada”, afirma cardeal Koch - Instituto Humanitas Unisinos - IHU