Rumo a uma ‘reconciliação litúrgica’: duas ideias do Cardeal Koch, aliás, três. Artigo de Andrea Grillo

Rito romano. | Foto: Radioromalibera.org/Divulgação

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28 Mai 2020

"As recentes palavras do Card. Koch, tão claras ao identificar a 'coexistência impossível' de duas formas diferentes do mesmo rito romano, podem se unidas a outra ideia, que o mesmo cardeal já havia expressado no passado, desde 2011: ou seja, a exigência de uma 'reconciliação' entre as duas formas do rito romano".

A opinião é de Andrea Grillo, teólogo italiano e professor do Pontifício Ateneu Santo Anselmo, em artigo publicado por Come Se Non, 27-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

As recentes palavras do Card. Koch, tão claras ao identificar a "coexistência impossível" de duas formas diferentes do mesmo rito romano, podem se unidas a outra ideia, que o mesmo cardeal já havia expressado no passado, desde 2011: ou seja, a exigência de uma "reconciliação" entre as duas formas do rito romano. É evidente, portanto, que, a partir de sua reflexão, emergem duas sugestões importantes, que não podem ser entendidas como "ideias diferentes", ou pior, como "ideias em contradição", mas sim como a articulação de um raciocínio, do qual gostaria de extrair uma terceira ideia, destinada a esclarecer a "praticabilidade concreta" de uma solução para o dissídio litúrgico experimentado desde o final da década de 1980. Tentarei estruturar meu raciocínio em três breves etapas:

a) Como já foi apontado várias vezes, a "invenção" do MP Summorum Pontificum era orientada para uma "reconciliação". Uma reconciliação com o "tradicionalismo", tanto externo quanto interno à comunhão católica. Mas o nobre fim de uma "Igreja liturgicamente reconciliada" foi perseguido por um instrumento muito frágil e bastante insidioso: ou seja, por um "paralelismo ritual generalizado". Estávamos convencidos de que a presença paralela de uma "forma extraordinária" ao lado da "forma ordinária" teria trazido paz à Igreja. Contudo, o resultado do experimento desses 13 anos mostrou amplamente que o meio da "dupla forma do único rito romano" não apenas é uma construção abstrata, mas também um remédio institucionalmente incontrolável, eclesialmente bastante dilacerante e espiritualmente insidioso. Não alimenta a reconciliação, mas a divisão e a sedição, de ambos os lados: torna o ritual antigo cada vez mais obscurantista e o ritual reformado cada vez mais intelectualista.

b) Portanto, e é a segunda ideia expressa pelo cardeal Koch, é necessário procurar uma "reconciliação", mas evidentemente por uma outra via. A via da reconciliação - que o Cardeal chamou, em 2011, de uma espécie de "ecumenismo intracatólico" - não deve ser pensada em nível de "formas paralelas", mas como evolução da única forma de celebração, a ser assumida precisamente na seriedade da sua natureza de "forma ritual". Resulta, portanto, que a necessidade de uma "reconciliação litúrgica", do Concílio Vaticano II introduzida poderosamente na consciência e no corpo eclesial, deva abandonar a estratégia do "estado de exceção litúrgica", que caracterizou a Igreja desde 2007 até hoje, e deva retomar o caminho de uma única forma ritual, que assuma plenamente todas as linguagens da celebração.

c) E então, aqui está a terceira ideia, que não é explicitamente do Card. Koch, mas quase constitui um seu "corolário". O que representa a "reconciliação litúrgica", se não pode ser uma "reforma da reforma" nem um "novo movimento litúrgico"? Creio que suas características fundamentais poderiam ser resumidas da seguinte forma:

– implica um trabalho único: o rito romano tem uma forma única, que se originou da Reforma Litúrgica decidida pelo Concílio Vaticano II. Não pode haver nenhuma reconciliação litúrgica sem ouvir fielmente a voz do Vaticano II: a paz não pode ser feita nem "contra Concilium" nem "praeter Concilium";

– a reunificação da forma permite trabalhar nela em diferentes níveis: de fato, a reforma litúrgica deve ser valorizada não apenas no nível verbal, mas também no nível "não verbal". A ativação de todas as linguagens da celebração é, com efeito, uma nova definição da ars celebrandi, de acordo com o "Sacramentum Caritatis". E é nesse ponto que a Novus Ordo pode "ser reconciliada" consigo mesma e com a tradição que recebeu e agora transmite;

– a Vetus Ordo, no plano da língua, há séculos não é entendida: por essa razão, foi capaz de dar mais valor ao registro "não verbal" do que ao registro "verbal". Essa condição deve se tornar uma "luz" para trabalhar na NO. É o uso da NO que se torna o campo de trabalho sobre o qual a Igreja pode transpor de maneira verdadeira, integral e plenária, toda a tradição do "rito romano", de uma forma única, vinculante para todos, mas valorizada nos diferentes níveis de sua expressão "multimidiática": palavra e música, espaço e tempo, silêncio e movimento, tato e olfato são "órgãos" da experiência e da expressão do rito romano: em uma forma única, mas não unívoca nem monótona.

Em conclusão, as duas ideias do Card. Koch encontram sua realização em uma terceira. Vamos tentar resumi-las como conclusão:

– a experiência da "dupla forma paralela do mesmo rito romano" provou ser frágil do ponto de vista teórico e perigosa do ponto de vista prático: portanto, deve ser superada saindo o "estado de exceção" que determinou;

– permanece, no entanto, a exigência de uma "reconciliação litúrgica", que retome o projeto do Concílio Vaticano II e o receba de maneira plena, equilibrada e profética, para "fomentar sempre mais a vida cristã entre os fiéis" (SC 1);

– a concorrência "entre formas paralelas", que não gera paz, mas discórdia, deve ser substituída pela correlação entre "forma verbal" e "forma ritual", em cuja integração a sabedoria eclesial deve predispor novos instrumentos teóricos e boas práticas comuns, para que a única forma do rito romano, em si indivisa e concordante, possa brilhar com nobre simplicidade "per ritus et preces", através da participação ativa de cada fiel batizado.

 

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