23 Junho 2015
Um encontro histórico no templo de Turim: pela primeira vez, um papa entra em uma igreja valdense. Um passo fundamental no caminho ecumênico.
A reportagem é de Federica Tourn, publicada no sítio Riforma.it, 22-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"É por iniciativa de Deus, que nunca se resigna diante do pecado do homem, que se abrem novos caminhos para viver a nossa fraternidade, e disso não podemos nos isentar. Da parte da Igreja Católica, peço-lhes perdão. Peço-lhes perdão pelas atitudes e pelos comportamentos não cristãos, até mesmo não humanos, que, na história, tivemos contra vocês. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoem-nos."
O Papa Francisco não tem palavras suaves, quando, no silêncio da Igreja Valdense de Turim repleta de pessoas, pede perdão pelas violências e pelas perseguições do passado. Nenhum desconto para a Igreja Católica, que foi culpada por atos não apenas não cristãos, mas até mesmo "não humanos".
Um reconhecimento formal que ainda soa mais solene pelo lugar em que foi pronunciado e que o moderador da Mesa Valdense, Eugenio Bernardini, comentou positivamente ao término do encontro: "O seu pedido de perdão nos tocou profundamente e o acolhemos com alegria", disse. "Naturalmente, não se pode mudar o passado, mas há palavras que, em certo ponto, é preciso dizer, e o papa teve a coragem e a sensibilidade para dizer a palavra certa."
De fato, é a primeira vez que um papa entra em uma igreja valdense: acompanhado pelo moderador, o bispo de Roma cruzou o limiar do templo de Turim – o primeiro construído depois da concessão dos direitos civis aos valdenses com as Patentes de Graça de 1848 –, depois de 800 anos que iniciaram com a excomunhão e a consequente repressão do movimento valdense por parte da Igreja Católica; oito séculos caracterizados por divisões e divergências teológicas, mas também, mais recentemente, por um caminho ecumênico que deu grandes passos para aproximar as duas Igrejas cristãs.
A fraternidade comum em Cristo, recordou depois o papa, "nos permite compreender o profundo vínculo que já nos une, apesar das nossas diferenças". Uma comunhão ainda em caminho, mas que precede as divergências antropológicas, éticas e teológicas que caracterizam as Igrejas e que encorajam a continuar juntos o percurso, a ir ao encontro de homens e mulheres para testemunhar a alegria do Evangelho.
Um desejo compartilhado pelo moderador que, no seu discurso de boas-vindas ao Papa Bergoglio, retomou passagens da exortação apostólica Evangelii gaudium, para dizer como a unidade cristã pode e deve ser concebida como "diversidade reconciliada": é preciso buscar nas Igrejas diferentes da nossa, disse o pastor Bernardini, "não os defeitos e as falhas – que, sem dúvida, existem –, mas o que o Espírito Santo ali semeou como um dom também para nós".
"Justamente isso é o ecumenismo: o fim da autossuficiência das Igrejas – acrescentou –, cada Igreja precisa das outras para realizar a própria vocação."
O moderador lembrou, depois, que, hoje, assim como na Idade Média, os valdenses querem pregar livremente, pregar na liberdade do Evangelho de Cristo, e também quis nomear dois dos nós que ainda nos dividem: a definição das Igrejas Evangélicas como "comunidades eclesiais", data pelo Concílio Vaticano II, e a questão da hospitalidade eucarística: "O que une os cristãos reunidos em torno da mesa de Jesus – disse Bernardini – são o pão e o vinho que Ele nos oferece e as Suas palavras, não as nossas interpretações que não fazem parte do Evangelho".
Mas o que consubstancia um verdadeiro caminho ecumênico, além da pregação, é o compromisso e a solicitude com relação aos sofrimentos do mundo. Ser operadores e operadoras de paz, exortou o moderador, "não é um ornamento retórico da nossa fé, mas o coração do amor e da reconciliação desejada por Jesus Cristo". Por isso, é fundamental consumir-se para intensificar o diálogo inter-religioso e continuar o testemunho em favor dos refugiados e dos pobres que batem à nossa porta.
O Papa Francisco usou quase as mesmas palavras, na preocupação por quem vive em dificuldade: "Da obra libertadora da graça em cada um de nós, deriva a exigência de testemunhar o rosto misericordioso de Deus que cuida de todos e, em particular, de quem se encontra na necessidade. A opção pelos pobres, pelos últimos, por aqueles que a sociedade exclui nos aproxima do próprio coração de Deus".
Para acolher o Papa Francisco no templo, também estavam presentes o pastor Paolo Ribet e o presidente do Consistório, Sergio Velluto, que transmitiram a saudação da Igreja de Turim, e o moderador da Iglesia Valdense del Río de la Plata, Oscar Oudri, que exortou as Igrejas a continuarem no caminho ecumênico, sem tentações de proselitismo, para realizar o mandato de João: "Sejam um para que o mundo creia".
Quem encerrou o encontro foi a presidente do Comitê Permanente da Obra Metodista, Alessandra Trotta, que enfatizou que a Palavra e o amor de Deus devem estimular os cristãos a derrubar cada vez mais o muro dos egoísmos, das divisões e das solidões. "Continuemos juntos o caminho – resumiu Trotta –, porque lá fora há muito a se fazer."
A visita do papa terminou com a oração do Pai Nosso na versão ecumênica, a troca de presentes – uma reprodução da primeira Bíblia traduzida para o francês em 1535 e as medalhas do pontificado – e o acompanhamento do Coro Semincanto e do Coro Valdese de Turim.
A calorosa saudação dos participantes na cerimônia, que apreciaram a simplicidade e a sobriedade do "irmão em Cristo" Francisco, confirmou a partilha comunitária de um encontro histórico, que reitera a intenção de reforçar um percurso ecumênico fundamental para a evangelização e o testemunho da mensagem cristã, a beleza do amor salvífico de Deus.
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Papa Francisco aos valdenses: ''Da parte da Igreja Católica, peço-lhes perdão'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU