26 Mai 2014
Papa Bergoglio exprime a vontade de discutir o primado petrino. “Entre as Igrejas permanecem as divisões mesmo após os abraços, os cristãos são perseguidos, existe o ecumenismo do sofrimento. Como a pedra do Sepulcro, devemos remover os obstáculos entre os cristãos”.
Francisco e Bartolomeu I se abraçaram no mesmo lugar onde, há 50 anos, aconteceu o abraço histórico entre Paulo VI e Atenagora I. Depois o almoço com os pobres no pensionato “Casanova”, papa Francisco encontrou na Delegação Apostólica de Jerusalém o patriarca ecumênico de Constantinopla.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada por Vatican Insider, 25-05-2014. A tradução é da IHU On-Line.
No importante encontro estiveram presentes também o secretário de Estado Pietro Parolin e o presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Kurt Koch. Depois da troca de presentes e o momento do encontro privado, o Papa e o Patriarca ecumênico firmaram uma Declaração conjunta.
O que aconteceu hoje, afirmaram na declaração conjunta, “foi um novo, necessário passo do caminho para a unidade”. E se “o abraço entre o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenagora depois de muitos séculos de silêncio prepara a estrada para um gesto de extraordinário valor, a remoção da memória e do meio da Igreja das sentenças de excomunhão recíproca de 1054”, o novo abraço serviu para “reiterar – explicam os dois chefes religiosos – o nosso compromisso de continuar a caminhar juntos para a unidade”.
“Anelamos – declaram conjuntamente o Papa e o Patriarca – o dia em que finalmente participaremos juntos do banquete eucarístico”. “Um objetivo para o qual orientamos as nossas esperanças, manifestaremos ante o mundo o amor de Deus e, de tal modo, seremos reconhecidos como verdadeiros discípulos de Jesus Cristo”.
No início, chegando ao Santo Sepulcro, vindos de duas portas diferentes da basílica, os dois chefes religiosos se abraçaram.
Os dois, conjuntamente, entraram na Basílica. Juntos veneraram a “Pedra da unção”, inclinando a cabeça e a beijaram.
“Desejo renovar o desejo já expresso por meus Predecessores, de manter um diálogo com todos os irmãos em Cristo para encontrar uma forma de exercício do ministério do Bispo de Roma que, em conformidade com a sua missão, se abra para uma situação nova e possa ser, no contexto atual, um serviço de amor e de comunhão, reconhecido por todos”, evidencia papa Bergoglio.
"Devemos crer que, como foi removida a pedra do sepulcro, assim possam ser removidos todos os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre nós. Será uma graça da ressurreição, que já degustamos hoje', afirma Francisco.
"Quando cristãos de diferentes confissões sofrem juntos, uns ao lado dos outros, e quando se ajudam mutuamente com caridade fraterna, realiza-se um eccumenismo do sofrimento, se realiza o ecumenismo de sangue, que possui uma eficácia particular não somente para os contextos onde isto acontece, mas, em virtude da comunhão dos santos, também para toda a Igreja", acrescta Francisco.
E, de improviso, especifica: "Aqueles que matam os cristãos por causa do ódio à fé não se perguntam se se trata de católicos ou ortodoxos. Matam e derramam sangue cristão".
Voltando-se para o patriarca Bartolomeu, o Pontífice recomendou:
“Santidade, amado Irmão, caríssimos irmãos, coloquemos de lado as hesitações que trouxemos do passado e abramos o nosso coração à ação do Espírito Santo, o Espírito do Amor e da Verdade, para caminhar juntos para o abençoado dia da nossa plena comunhão”.
De fato, “não podemos negar as divisões que ainda existem entre nós, discípulos de Jesus: este lugar sagrado nos permite ver o drama do maior sofrimento”.
Para Francisco, portanto, “é preciso percorrer, agora, outra estrada para chegar àquela plena comunhão que possa exprimir-se também na participação da mesa eucarística, que ardentemente desejamos”. “Mas as divergências – encoraja o Papa – não devem nos assustar e paralisar os nosso caminho. Devemos crer que, como foi retirada a pedra do sepulcro, assim possam ser removidos todos os obstáculos que ainda impedem a plena comunhão entre nós”.
“Será – ao contrário – uma graça de ressurreição, que podemos já, hoje, degustar”. “Toda vez que pedimos perdão uns aos outros pelos pecados cometidos nos confrontos com outros cristãos, e cada vez que temos a coragem de conceder e de receber este perdão, nós – assegura – fazemos a experiência da ressurreição! Toda vez que, superados antigos juízos e julgamentos, temos a coragem de promover novas relações fraternas, nós confessamos que Cristo é verdadeiramente Ressuscitado! Cada vez que pensamos o futuro da Igreja a partir da sua vocação à unidade, brilha a luz da manhã de Páscoa!”.
E, de improviso, o Papa concluiu: “Quando a desunião nos torna pessimistas, pouco corajosos, devemos nos recordar que todos estamos sob o manto da Santa Mãe de Deus. Somente sob o seu manto encontraremos a paz. Que Ela nos ajude a prosseguir neste caminho”.
Concluídos os discursos, os dois chefes religiosos rezaram juntos, pela primeira vez em público, o Pai Nosso.
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Francisco: “Estou pronto para discutir o primado petrino” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU