15 Fevereiro 2023
A história nos fez conhecer pequenos ou grandes patriarcas, bem divididos e zelosos de suas prerrogativas, de reformadores em guerras (agora esquecidas) entre si, de pequenos iniciadores de comunidades domésticas, ciumentos de sua exclusividade: penso aos tantos que, muitas vezes migrantes de retorno, deram vida a comunidades reunidos em torno da leitura da Bíblia, mas também armados de polêmicas.
É triste admitir, mas não serão nem Pedro nem os pequenos Pedros que construirão a igreja do futuro.
O comentário é de Salvatore Rapisarda, pastor da Igreja Valdense, publicado por Riforma, revista das Igrejas Evangélicas Batistas, Metodistas e Valdenses, 10-02-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois que se multiplicaram os cumprimentos de aniversário a Paolo Ricca (19 de janeiro), gostaria de falar, ainda que brevemente, com ele sobre uma questão que recebeu a aprovação de várias partes, mas que merece um aprofundamento franco e fraterno para ser compartilhada e não só anunciada. Refiro-me ao seu discurso no Vaticano em 22 de novembro de 2022, no quadro da Lectio Petri realizada por vários palestrantes [v. Riforma n. 46/2022, p. 8]. É apreciável a interação entre “Tu es Petrus" e "Tu es Christus" que, como ressalta Ricca, é o fundamento da igreja.
Entre outras coisas, Ricca afirma que a Igreja precisa de "tantos pequenos Pedros", porque um só Pedro não basta (foi preciso coragem para dizê-lo no Vaticano!), de fato, continua ele, o NT dá-nos a conhecer outros apóstolos que deram vida a igrejas, igrejas domésticas. Porém me parece ambígua a expressão “pequenas pedras domésticas sobre as quais ele, Jesus, quer edificar a sua Igreja”.
Ambígua porque a pedra é Cristo e não Pedro ou os vários Pedros. Nunca Paulo, que é ventilado como outro Pedro, foi proposto como fundamento da Igreja, aliás, em comparação com Apolo ou com Pedro (Cefas) enfatiza Cristo como o único fundamento (I Cor 1,11ss). Mas Ricca conhece bem essa lição do Apóstolo Paulo.
Lançar a ideia de que um novo tempo ecumênico poderia nascer do Vaticano parece um sonho, mas o Vaticano não parece lugar para tais sonhos, porque sua história é a história de hegemonias e no presente é história de conflitos mais que de harmonia. Gostaria de ver Genebra, com suas tentativas de reunir várias vozes, como lugar para uma nova temporada de sinodalidade conciliar que abarque todas as igrejas. Que de uma conferência no Vaticano possa surgir uma nova temporada ecumênica, com a manifestação de uma Igreja que se precisa de tantos pequenos Pedros na realidade permanece una em Cristo é o sonho do ecumenismo, muitas vezes frustrado, porque o ponto de partida precisa ser revisto. A história nos fez conhecer pequenos ou grandes Patriarcas, bem divididos e zelosos de suas prerrogativas, de Reformadores em guerras (agora esquecidas) entre si, de pequenos iniciadores de comunidades domésticas, ciumentos de sua exclusividade: penso aos tantos que, muitas vezes migrantes de retorno, deram vida a comunidades reunidos em torno da leitura da Bíblia, mas também armados de polêmicas.
É triste admitir, mas não será nem Pedro nem os pequenos Pedros que construirão a igreja do futuro.
Acredito que seja hora de elevar o olhar e olharmos por cima de nossas cercas, e conheço lugares onde uma superação das cercas de denominação está abrindo o seu caminho. O apelo é confiar no Espírito de Deus que, se e quando quiser, abrirá uma nova temporada em que não se falará nem de Pedro, nem de Paulo, nem de Apolo, nem de igrejas, nem de confissões ou denominações, mas apenas de Cristo. Essa é a imagem da igreja do fim dos tempos, como aparece no livro de Apocalipse. Ali, santos e anciãos, lançarão suas coroas aos pés do cordeiro (se despojarão de sua autoridade) e humildemente adorarão a Cristo (Ap 4, 9ss) e o Cordeiro reinará sobre tudo e todos.
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A Igreja do fim dos tempos. Artigo Salvatore Rapisarda, pastor - Instituto Humanitas Unisinos - IHU