17 Novembro 2018
Jovens, mundo digital, prevenção dos abusos sexuais e redimensionamento das igrejas foram os temas no centro do Sínodo da Igreja Evangélica na Alemanha que se realizou esta semana em Wurzburgo.
A reportagem é de Sara Tourn, publicada por Riforma, 13-11-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Nunca mais guerras, nunca mais nacionalismo", não poderiam ser diferentes destas as palavras evocadas pelo bispo luterano Heinrich Bedford-Strohm, presidente do Conselho da EKD, a Igreja evangélica na Alemanha, na abertura de seu Sínodo anual (ou melhor, da 5ª sessão do seu 12º Sínodo, no cargo há seis anos), no último domingo em Wurzburgo.
No dia em que toda a Europa comemora o centenário do fim da Primeira Guerra Mundial, Bedford-Strohm falou da importância da memória, lembrando que há cem anos, a Europa era (de acordo com um comunicado de imprensa emitido pela EKD) "um campo semeado de cadáveres porque jovens impelidos por interesses nacionais tinham se lançado uns contra os outros, e também porque as igrejas tinham ase unido acriticamente ao frenesi do entusiasmo nacionalista e abençoado as armas dessa guerra inenarrável".
Como cristãos, ressaltou Bedford-Strohm, "vamos nos garantir de que as lições da história não sejam jogadas fora, e que a reconciliação internacional continue a ser o mais alto objetivo da nossa ação social e de estado." É central, para Bedford-Strohm, o papel da memória coletiva das instituições (e, portanto, também das igrejas): “uma comunidade que lembra o sofrimento de Jesus Cristo, como parte de sua identidade, não pode ser insensível ao sofrimento das pessoas, de ontem e de hoje”.
"Mas o sínodo da EKD, que termina nesta semana, não se limitou à evocação do passado, aliás, sua projeção para o futuro é clara, dado o tema escolhido, "A fé dos jovens".
Como declarou o Presidente do Sínodo Irmgard Schwaetzer no segundo comunicado divulgado no dia da abertura neste Sínodo "vemos claramente o rosto da Igreja do futuro": o objetivo é "potencializar o papel dos jovens na igreja", envolvendo-os mais e aproximando-a da realidade que eles vivem todos os dias. Por esta razão, foi importante a oportunidade para o diálogo com cerca de sessenta jovens (18-26 anos) em Wurzburgo para discutir tais questões, em duas ocasiões durante a semana.
Três outras, de acordo com Irmgard Schwaetzer, foram as questões sobre as quais foram chamados a discutir os 120 membros, 20 eleitos pelo Conselho e 100 pelos Sínodos das 20 igrejas regionais membros da EKD (Luterana, Reformadas e Unidas, representando cerca de 21,5 milhões dos alemães).
Em primeiro lugar, a gestão de violência e dos abusos sexuais dentro da igreja, um tema já abordado na apresentação e introduzido pelo seu presidente Heinrich Bedford-Strohm, falando sobre o pedido de perdão, mas também de prevenção, intervenção e assistência às vítimas. Schwaetzer reconheceu a culpa da Igreja, que não fez o suficiente para criar "espaços seguros para as crianças a nos confiadas”, considerando importante preencher essa lacuna.
O segundo tema, estreitamente ligado ao dos jovens, e é a posição da Igreja na transformação digital: em particular, Schwaetzer destacou a importância "de estar nos lugares e contextos onde os jovens se encontram e vivem sua vida social, levando em conta as modificações dos comportamentos da jovem geração em relação à comunicação e informação". Até mesmo o presidente Heinrich Bedford-Strohm defendeu enfaticamente tal aspecto, exortando as igrejas para não se fecharem ao mundo digital por sua "ambivalência ética", mas sim expandir suas atividades nesse contexto, pois "a presença no mundo digital não diminui a importância de trabalhar cara a cara” com as pessoas.
Um tema que interessa muito de perto também as igrejas irmãs protestantes italianas, assim como o terceiro, que pode ser resumido com um slogan que parece contraditório: "crescer menores". O número de membros da igreja vai continuar a diminuir, em parte por causa da mudança demográfica, e "a Igreja tem que se acostumar com essa ideia", foi o comentário do presidente Schwaetzer. A questão central é rever as próprias prioridades, "dizendo adeus ao que era familiar".
Mas isso não deve desmotivar, aliás, o convite foi de trazer experiências e ideias encorajadores, na esteira do versículo escolhido para o encontro, ditas por Jesus aos seus discípulos após a Ressurreição: "...mas eu os verei outra vez, e vocês se alegrarão..." (João 16,22)
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"O rosto da igreja do futuro" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU