02 Setembro 2020
De acordo com um membro da comissão do Papa Francisco para um mundo pós-covid-19, existe a necessidade de uma resposta radical para uma “crise radical”.
“A pandemia de covid-19 está levando o mundo para um cenário diferente”, disse o padre argentino Augusto Zampini, secretário adjunto do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e membro da comissão vaticana para a covid-19. “Necessariamente isso vai gerar mudanças, como diz o Papa Francisco, sairemos diferentes, e precisamos decidir se para melhor ou para pior”.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 01-09-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Porque a Igreja está no mundo, não somos estranhos a esse desafio”, disse. “A Igreja precisa responder a esta crise de um modo radical porque é uma crise radical”.
Zampini notou que, mesmo com a situação de emergência atual, é preciso pensar soluções de longo prazo. “A covid-19 está também levando a Igreja a refinar a sua missão”, disse.
“É algo que precisamos responder com urgência. É muito complexo, mas requer simplicidade na solução. A Igreja sempre busca responder à realidade seguindo sua tradição: Como responderemos a este minúsculo vírus que tem tornado mais visíveis todos os grandes vírus que temos?”
Em seguida, o religioso listou várias coisas como “grandes vírus”: desde a necessidade de um cuidado com a “casa comum” até a pobreza, a desigualdade e outros.
Zampini falou que acredita que a crise de covid-19 vai acelerar algumas das reformas que o Papa Francisco vem propondo ao mundo: “O que significa amar o próximo e os inimigos? O que significa criar uma cultura do encontro e da paz?”
“Não podemos ser uma mesma instituição num mundo diferente”, disse. “Precisamos ser capazes de dizer algo novo, porque a Palavra de Deus é sempre nova”.
Zampini participou de um painel na última segunda-feira intitulado “O Papa Francisco e a Reforma da Igreja”, evento organizado pela Universidade de Georgetown e pela revista La Civiltà Cattolica, e promovido pela Iniciativa para o Pensamento Social Católico na Vida Pública e pelo Centro Berkley para Religião, Paz e Assuntos Mundiais.
O painel contou com o biógrafo papal Austen Ivereigh, cofundador do Catholic Voices, e Paul Elie, pesquisador do Centro Berkley para Religão, Paz e Assuntos Mundiais.
O evento teve a participação do padre jesuíta italiano Antonio Spadaro, diretor da La Civiltà Cattolica. A moderadora foi Debora Tonelli, representante em Roma da Universidade de Georgetown.
“Reformar significa começar abrir processos e não ‘cortar cabeças’ ou conquistar espaços de poder”, disse Spadaro, antes de definir o Papa Francisco como um papa dos “processos”.
“O papa vive uma dinâmica constante de discernimento, o que o abre para o futuro”, afirmou. “Abre-o também para o futuro da reforma da Igreja”.
Spadaro disse acreditar que, para Francisco, a transformação das estruturas não resultará de uma revisão do “fluxograma organizacional”, porque isso o mesmo que uma “reorganização inerte”.
“Uma transformação deve estar ligada com a dinâmica do trabalho missionário, ela deve estar ligada aos desafios atuais”, disse o padre. “A reforma da Igreja precisa ser uma transformação missionária radical da Igreja”.
Ivereigh disse que Francisco tem buscado mudar uma cultura e uma mentalidade.
“Ele está tentando pegar uma cultura e uma burocracia que, de várias formas, foram construídas para se defender do mundo e colocá-las a serviço do mundo”, disse, acrescentando que a abordagem do papa é uma “abordagem de longo prazo”, que “planta as sementes que outros papas provavelmente irão colher”.
Zampini falou que não se pode ver a crise, atualmente em curso, como algo isolado.
“Queremos unir forças, criar sinergia a fim de criar um futuro mais sustentável, que crie as possibilidades de encontros reais e que tenha uma opção preferencial pelos pobres”, disse. “Uma sociedade que cria as condições nas quais podemos ter uma economia saudável que não apresente a falsa dicotomia de ter que escolher entre a saúde e a economia”.
Falando especificamente da comissão vaticana para a covid-19, Zampini observou que não é tarefa do grupo “encontrar soluções” para os problemas acentuados da pandemia. O objetivo é ajudar aqueles que precisam tomar decisões, “garantir que façam as melhores escolhas possíveis”, em diálogo com uma variedade de campos – incluindo as ciências –, mas trazendo “a criatividade que a fé oferece”.
Como exemplo, ele notou que a comissão tem trabalhado com as paróquias e os bispos para entender o impacto que a pandemia vem causando na celebração dos sacramentos. Será que a missa “virtual” assim celebrada significa que ela não é real? O que acontece com a Eucaristia quando não se pode celebrá-la na comunidade? Como construir a comunhão num mundo que exige um distanciamento social para manter as pessoas em segurança?
“Pelo menos no futuro próximo, teremos de promover a comunhão e a comunidade num mundo que precisa do distanciamento a fim de preservar a nossa saúde”, disse ele. “Temos trabalhado nesse sentido, em diálogo com as igrejas locais, com cientistas, governos locais e instituições internacionais”.
“Descobrimos que ninguém tem a solução, mas que todo mundo quer que a Igreja participe, porque acreditamos que, com a nossa espiritualidade, temos uma contribuição importante a dar”, disse Zampini.
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Autoridade vaticana: Resposta ‘‘radical’’ para uma crise ‘‘radical’’ de covid-19 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU