05 Dezembro 2025
O que mais surpreende e dói é a incapacidade de ouvir. Há anos, muitas mulheres — teólogas, consagradas, leigas comprometidas e educadoras — vêm dizendo claramente: "Essa maneira de falar sobre nós mesmas não reflete quem somos. Nos machuca. Não descreve nossa experiência de fé nem nossa subjetividade eclesial."
O artigo é de Linda Pocher, publicada por Come se non, 05-12-2025.
Irmã Linda Pocher é teóloga salesiana, foi encarregada pelo Papa Francisco de organizar encontros com os seus nove cardeais conselheiros, o chamado C9, para dissecar os nós do papel das mulheres na Igreja.
Eis o artigo.
Algumas ideias reaparecem ciclicamente, como certas estações do ano. Pensamos que foram arquivadas, superadas pela trajetória sinodal da Igreja, mas eis que ressurgem em textos oficiais. Embora o número 60 do Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade parecesse ter transcendido a lógica e a linguagem do "gênio feminino" e do "princípio mariano", nos últimos meses, ao lermos o relatório provisório do Grupo 5, o documento Mater Populi Fidelis e a carta do grupo de estudos sobre o diaconato, testemunhamos o retorno insidioso dessa mesma estrutura teológica, que agora conhecemos bem. O relatório provisório do Grupo 5 menciona não apenas as limitações, mas também a relevância desse pensamento. Em Mater Populi Fidelis, a referência é mais sutil, mas presente quando se refere à mediação sacerdotal de Cristo e à mediação materna de Maria. Na carta sobre o diaconato, a insistência na masculinidade de Cristo é claramente de origem balthasariana, assim como o convite para explorar o princípio mariano. Trata-se, sem dúvida, de um excelente quadro conceitual, desenvolvido por um grande teólogo do século XX, mas — tal como é apresentado hoje — parece incapaz de acompanhar verdadeiramente a escuta da vida concreta das mulheres na Igreja.
O problema, porém, não é Balthasar. O problema reside no uso instrumental e defensivo que muitas vezes se faz de sua teologia. Como se essa estrutura, nascida em um contexto cultural específico, pudesse ser reapresentada hoje sem questionamento, sem atualização, quase como uma barreira aos processos sinodais. Em documentos recentes, aliás, o princípio mariano-petrino reaparece como uma forma elegante de salvaguardar, com linguagem pomposa, o que é considerado "precioso": a reserva masculina do ministério ordenado. Mas quando um conceito é invocado apenas para defender o status quo, ele se torna frágil. E revela a dificuldade de encontrar novos argumentos para abordar questões pastorais e teológicas que realmente desafiem todo o povo de Deus.
O que mais surpreende e dói é a incapacidade de ouvir. Há anos, muitas mulheres — teólogas, consagradas, leigas comprometidas e educadoras — vêm dizendo claramente: "Essa maneira de falar sobre nós mesmas não reflete quem somos. Nos machuca. Não descreve nossa experiência de fé nem nossa subjetividade eclesial." Em um relacionamento saudável, equilibrado e não tóxico, quando um parceiro diz ao outro: "Essa maneira de falar me machuca", o outro escuta. Não porque esteja errado ou precise negar tudo, mas porque ama o suficiente para buscar outras formas, outras linguagens, outros caminhos para realmente encontrar o outro.
Em relacionamentos tóxicos, porém, a mensagem é ignorada. A resposta é que a outra pessoa não entende, que é hipersensível, que as categorias são o que são e que não podem ser evitadas. Uma posição de poder é usada para manter aquilo que não se quer questionar. Quando isso acontece na Igreja, é um sinal preocupante: significa que a assimetria de poder é mantida e justificada teologicamente, em vez de ser convertida em um espaço para verdadeira comunhão.
Não se trata de rejeitar a teologia de Balthasar — ele permanece, e permanecerá, uma das vozes mais profundas e criativas do século XX. Trata-se de não usá-la como um tampão de ouvido de prata: refinado e precioso, continua sendo um tampão, um dispositivo que fecha e, ao impedir a escuta, corta o relacionamento com os outros. Paradoxalmente, em Balthasar encontramos também um forte apelo à abertura ao sopro do Espírito, na consciência de que toda forma eclesial deve permanecer aberta às suas surpresas, capaz de reconhecer os "sinais" que Deus semeia ao longo da história. Hoje, um desses sinais é a voz das mulheres que exigem, antes e depois do acesso à ordenação, reconhecimento e respeito por suas sensibilidades: como sujeitos sociais, teológicos e espirituais maduros, não como símbolos ou funções dentro de uma estrutura que muitos não reconhecem como suas.
"Às vezes eles voltam", sim. E cada vez, cada retorno é uma nova oportunidade para perceber que certos conceitos já tiveram seu tempo e precisam ser purificados, repensados, reposicionados. Se a oportunidade for ignorada, o retorno se torna um obstáculo. Mas se o retorno se transformar em um novo caminho, então, apesar de tudo, ainda pode fazer bem.
O Sínodo nos convida a uma conversão relacional, e não doutrinal: a aprender a reconhecer qual linguagem constrói comunhão e qual fere; qual teologia abre e qual fecha; qual iconografia sustenta o protagonismo de todos os batizados e qual perpetua a exclusão. O futuro não se constrói defendendo posições, mas buscando juntos — mulheres e homens — as palavras que podem verdadeiramente salvaguardar o que é precioso hoje: não uma "reserva", mas o Evangelho.
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