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Como o Diabo Gosta: o pânico moral como estratégia diabólica de divisão. Artigo de Luís Alberto Bassoli

Foto: Unsplash

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09 Outubro 2025

"A ideia central e original do texto, a meu ver, é a trinca na unidade que o pânico moral provoca se utilizando da questão sexual. A instrumentalização do pânico moral busca desracionalizar o comportamento por interesse político. Manipula da Doutrina afim de quebrar a comunhão", escreve Luís Alberto Bassoli, formado em Pedagogia (Centro Universitário Sumaré) e Filosofia (PUC Minas). Com décadas de apostolado na Igreja Católica através da Renovação Carismática Católica, atualmente é graduando em Teologia pela UCB, em comentário sobre o livro "Extrema Direita Católica: História, Teologia e Liturgia" (CRV, 2025), organizado por Ney de Souza.

Eis o artigo.

Em 2018 o pânico moral foi decisivo nas eleições brasileiras e suas ondas de energia se quebraram sobre ‘as minorias que teriam que se submeter às maiorias’, no discurso neofascista. No conjunto das fake news, destacou-se uma fictícia sexualização das crianças, com a ênfase em levá-las a se tornarem homossexuais ou depravadas.

Lendo assim, parece ridículo. E é. Porém, Donald Trump repetiu isso no ano passado. Um deputado de extrema-direita faz o mesmo aqui. Isto era em 2018 e até os dias de hoje.

O Livro

Isto vem à tona ao ler o capítulo final do livro Extrema Direita Católica: História, Teologia e Liturgia (CRV, 2025), organizado por Ney de Souza.

Livro "Extrema Direita Católica: História, Teologia e Liturgia" de Ney de Souza

O livro surgiu como aprofundamento da Jornada de Estudos do Grupo de Pesquisa Religião e Política no Brasil Contemporâneo (PUC-SP, CNPq), no 2º Semestre de 2024. Aborda questões teológicas, litúrgicas, as fake news, leitura fundamentalista, machismo, os influencers digitais, sedevacantismo, integralismo no século XX, oposição de padres\bispos à Campanha da Fraternidade, violência simbólica e pânico moral.

Abrange itens que passam ao redor da reflexão sobre pânico moral. Fake news e gênese psicossocial do medo, por exemplo. Não sendo abordados neste texto, é bom lembrá-los.

O pânico moral com divisão diabólica

O capítulo final trata da instrumentalização do pânico moral como arma política sobre grupos religiosos, especialmente no contexto das eleições de 2018 e 22.

Como o Diabo Gosta: o pânico moral como estratégia diabólica de divisão, do sacerdote salesiano Ronaldo Zacharias, utiliza-se do título irônico para explorar o fenômeno que, ao final, se prova mesmo diabólico. Não o objeto do pânico (sexualidade), mas sua instrumentalização.

Cristãos conservadores e se reconhecendo ‘pessoas de bem’ abraçaram no processo eleitoral valores que vão na contramão do Jesus do Evangelho, acreditando o oposto, ou seja, que os contravalores seriam os do Evangelho. Uma inversão ‘diabólica’.

A reflexão se divide em três partes: o que é o pânico moral; como a moral sexual é utilizada para manipular; as bases para a vivência moral no seguimento de Jesus.

O pânico moral

Utilizando-se de ampla bibliografia, o pânico moral é apresentado como preocupação ansiosa e desproporcional sobre uma conduta que gera hostilidade para com seus supostos praticantes por parte da sociedade, que se sente ameaçada em seus valores.

Embora existam pânicos reais (ex.: uma cidade que passa por uma onda de violência), o pânico moral manipula a sociedade apresentando de forma desproporcional algo que aparentemente irá abalar ou ao menos ultrapassar algum parâmetro social.

Após a distinção de algumas espécies de pânico moral, observa-se que (p. 237)

(…) os alvos são bodes expiatórios que se comportam de uma determinada modo que aterroriza os demais, precisamente pelo fato de suas condutas se relacionarem com medos pessoais e desejos inconscientes.

O pânico moral excita e libera energia, e nisso está seu poder de disseminação pela mídia. Com as novas tecnologias, tempestades virtuais parecem ser mais eficazes, como visto no escândalo Cambridge Analytica. E ainda não percebemos a gravidade disso na dimensão que merece.

A sexualidade: arma estratégica para o pânico moral

O pânico moral é, na verdade, um mecanismo de resistência e controle de transformação social, que busca manter o ‘status quo’ de um determinado grupo que se afirma, no caso, pela sua sexualidade, como ser superior. Tal mecanismo tem sido utilizado por políticos católicos e evangélicos como mobilização, e consequentemente, voto. Porém, e aí que está o enrosco (p. 239):

(...) bispos, padres, religiosos e religiosas, leigos e leigas, agentes de pastoral, seminaristas, formandos e formandas, influenciadores digitais católicos (...) também aderem a tais ‘pautas’ e ‘agendas’.

Quem deveria defender os mais fracos e excluídos, se colocar no lugar dos últimos, como Jesus fez, e como Ele envolverem-se de compaixão, misericórdia, ternura e humanidade, montam no touro bravo da intolerância e do discurso discriminatório. Como se pudessem se sentar sobre a Besta do Apocalipse (capítulo 17) sem ser por ela devorados.

Para Zacharias (p. 240), a principal dificuldade - e que explica a escolha do bode expiatório - é de aceitar a afirmação da dignidade de diferentes formas de se viver a sexualidade, porque esta é: 

  • uma questão ideológica, que garante privilégios a uns e punições a quem não se conforma a um padrão único, válido para todos, independente do contexto.
  • uma questão política, já que no neoliberalismo o usufruto pleno é privilégio de classe, e em ditatoriais, exerce-se controle estatal sobre os corpos e desejos.
  • uma arma religiosa, já que é instrumentalizada para uma forma de afirmação social (por meio da sexualidade) quase que exclusiva e excludente. O exemplo é meu: o Evangelho é muito menos objetivo sobre a questão homossexual do que o princípio de que os cristãos e a sociedade devem distribuir seus bens. Mas isso é menos enfatizado que a preocupação com o casamento ‘gay’.

Nas palavras do Doutor em Teologia Moral, Eduardo L. Azpitarte (Ética Sexual, São Paulo, Paulinas, 1991, p. 34).

Se houvéssemos levado a sério as repetidas afirmações de Cristo sobre o perigo das riquezas, bem como as experiências históricas de tantas injustiças cometidas com base no dinheiro, talvez a nossa moral econômica fosse hoje muito mais rigorista do que a ética sexual.

Neste contexto, Zacharias apresenta a importância de se afirmar a cidadania sexual, ou seja, todas as pessoas têm direito a uma vida autônoma, tanto pública quanto privada, gozando plenamente de seus direitos, independente de sua orientação sexual.

Consequentemente, é necessário ‘desmoralizar’ a cidadania, ou seja, alguém é cidadão por ser pessoa, independente da forma de sua vivência sexual.

Do pânico moral ao amor em ação

O autor realça que a internet abriu espaço para ampla produção de conteúdos teológicos, e inúmeros utilizam-se do pânico moral. Não apenas aqui na rede: nas homilias aparecem uma infinidade de (a ironia escorre entre as letras).

‘sexólogos, educadores e terapeutas sexuais. O fato de não terem qualquer formação específica pouco importa’

Curiosamente, tais pregações enfatizam apenas questões sexuais, como se estas fossem as únicas que obscurecem a vida que o Bom Pastor veio trazer em plenitude. Para alguns, parece não existir pobreza, ausência do sentido da vida, massacre no mundo do trabalho, filas no SUS, destruição ambiental ou consumismo inútil: o problema da humanidade seria se as pessoas estão um perfil sexual aceitável. Isso em contexto de clericalismo e afastamento da ideia da Igreja como servidora, em busca de uma hegemonia perdida.

Daí, o autor nos traz algumas verdades incômodas:

Jesus não veio nos oferecer um manual de moralidade e muito menos de moral sexual. Ele veio nos revelar uma maneira de viver completamente enraizada no amor. (…) Ou seja, o esforço contínuo para discernir de cada momento histórico e em cada situação concreta, as exigências que derivam do amor.

O amor de Jesus incluía e privilegiava os discriminados de seu tempo. Por que pensamos que hoje seria diferente, considerando que os que não estão no padrão social de sexualidade são perseguidos (e mesmo mortos)?

Assim, precisamos entender que nem sempre há respostas prontas para questões que os escritores sagrados não se propuseram a responder. Também que vida moral não é apenas viver esta ou aquela prática, mas como se vive em todas as práticas.

Também não podemos descontextualizar textos bíblicos para justificar posições.

Nós, os discípulos de Jesus, somos chamados a viver a própria sexualidade primeiro como discípulos, dispostos a evitar a imoralidade e buscar a santidade. Portanto, não em relações de poder, dominação e exclusão, mas por compaixão, solidariedade e inclusão.

Daí vem a ideia central do capítulo (p. 247)

A participação da comunhão de vida e amor da Trindade não é prerrogativa dessa ou daquela identidade de gênero, dessa ou daquela orientação afetivo-sexual.

Segundo ele, para que o anúncio de uma proposta moral de vivência da sexualidade seja inclusivo são necessárias algumas implicações:

  • compreender a necessidade de um olhar que considere as várias ciências para o fenômeno da sexualidade.
  • ter uma concepção integral da identidade sexual, que envolve o sexo biológico, a constituição social do gênero e a orientação afetivo-sexual.

A moralidade da vivência sexual deve se basear na centralidade da pessoa e seus relacionamentos, e são estes mesmos o objeto da reflexão moral.

A sexualidade precisa ser integrada à vida completa da pessoa. Aspectos positivos (amor, fidelidade, cumplicidade) e negativos (ódio, posse, abuso) estão em relações heteroconjugais abertas à procriação como também no celibato ou voto de castidade. Ela será autenticamente humana apenas quando “orientada, elevada e integrada pelo amor”. Ao enfatizar um padrão normativo e demonizar os demais, o pânico moral condena ao pecaminoso todo o resto, não considerando a vivência moral possível.

A castidade é uma boa nova possível a todos e todas, definida assim pelo CIC:

2337. A castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual.
Assim, a castidade não é a negação da sexualidade, mas o empenho em assumi-la de forma amorosa, livre e libertadora. Considerando os limites e as possibilidades de amadurecimento do ser humano, o pânico moral, que transforma tudo que não é um suposto espelho como pecado, acaba impedindo a vivência da castidade para todos.

Como o diabo gosta

Antes de irmos para a parte final do capítulo, algumas considerações.

O ataque à unidade

A ideia central e original do texto, a meu ver, é a trinca na unidade que o pânico moral provoca se utilizando da questão sexual. A instrumentalização do pânico moral busca desracionalizar o comportamento por interesse político. Manipula da Doutrina afim de quebrar a comunhão.

A Igreja Católica se percebeu durante séculos, refletiu no Concílio Vaticano II e se retomou na última década como Sinodal. É onde ela é toda. Universal, católica, se constituindo na comunhão dos ‘santos’, os do céu e da terra. O Corpo de Cristo se visualiza no Povo de Deus, tendo à frente seus Pastores em colegiado, à frente o sucessor de Pedro para unir e fortalecer a fé e comunhão. O único critério definitivo de se ser católico é a catolicidade apostólica, ou seja, estar em comunhão com a Igreja como um todo, unidos aos bispos e Papa. O atual, não o da preferência dos sommerlies de Papa.

Estar em comunhão não significa concordar em tudo com os Pastores, mas respeitá-los como elemento de comunhão. O atual movimento da extrema-direita católica, mesmo quando não abraça o sedevacantismo (que não reconhece os papas após o ‘herético’ Concílio Vaticano II) não tem NENHUM apreço pela comunhão na Igreja. Pelo contrário.

A falácia mais usada pela extrema-direita é que ‘a CNBB não é a Igreja’. Se de fato o pastoreio de uma Diocese é responsabilidade do Bispo, e este responde à Pedro, este serviço deve estar em comunhão com os demais. Só assim a Igreja é católica apostólica.

A retomada da sinodalidade, nos termos do Concílio Vaticano II, reflete a trajetória do Povo de Deus, que teve na sua história acima de tudo o valor da comunhão.

Na Igreja não é proibido divergir. É mesmo uma ‘Arca de Noé’. Não se pode é dividir.

A diabólica divisão

A ironia do título do capítulo (Como o Diabo Gosta) está na etimologia do termo ‘diabólico’. Embora não de forma unânime, estudiosos veem este termo originado no grego como ‘aquilo que se coloca entre’, ou seja, o que divide.

‘Símbolo’ seria seu antônimo, ou seja, ‘aquilo que une’, e é fácil de entendermos. Uma aliança no dedo ‘simboliza’ uma união entre um casal. Ou seja, ao se ver o objeto, se remete à uma realidade que transcende a ele. Vê-se a união representada no símbolo. ‘Diabo(lo)’ é a marca da divisão, da criação da barreira, do muro no lugar da ponte. Diabólico, portanto, é o que divide. Quando se luta CONTRA alguém na Igreja, está se dividindo o Corpo de Cristo. Quando se está lutando CONTRA algum excluído, está se excluindo o próprio Cristo.

Fogo amigo

Sobre a questão da pessoa homoafetiva, o próprio texto do Catecismo da Igreja Católica tem algumas pontas soltas que favorecem o uso para o pânico moral.

Reconhece a dignidade da pessoa homoafetiva, reconhece que o fenômeno não tem explicação, reconhece que é uma tendência da qual a pessoa não tem controle (atração), porém também fala em depravação (CIC 2357-2359).

Reconhece a dignidade, mas considera com definições da moralidade condições que nesta não se enquadram (devido ao fato de a condição não ser voluntária. O ato moral deve ser voluntário).

Isso não é coerente. Prevalece apenas a doutrina (que também tem lá suas pontas soltas) de se dizer que o ato sexual lícito é apenas entre pessoas do mesmo sexo, aberto à vida. Porém esbarra na própria doutrina da Igreja sobre o ato moral. São pontas soltas que terão que ser respondidas em algum momento pelo Magistério.

Mas independente desta pendência, o Catecismo diz que devemos ter um respeito profundo pelas pessoas homoafetivas, não discriminando-as, até porque a gênese do fenômeno não é compreendido e é enraizado. Diz que as pessoas homoafetivas podem e devem aproximar-se da perfeição cristã.

Uma simples leitura do texto nos guia EXPLICITAMENTE por princípios de acolhida, respeito, compaixão e delicadeza. Oposto ao pânico moral.

A doutrina que divide ou que une

O pânico moral disseminado no dúbio ecumenismo entre grupos cristãos e políticos de extrema-direita, explora visão distorcida sobre a sexualidade, como destaca Zacharias.
Destaco em quatro pontos: científico, moral, vida na Graça e pastoral.

a) Científico: Embora os estudos da ciência em geral sejam aceitos em várias abordagens pastorais e teológicas, na questão sexual parecem ser recebidos com estranha prevenção em ambiente eclesial, laico ou eclesiástico.

Curiosamente, ao descrever a homoafetividade como um fenômeno de gênese psíquica em grande parte por explicar, o Catecismo impede (ou deveria impedir) a rotulação tão comum e simplória da homoafetividade em certos meios, a de que seja originada em um trauma (doença) ou como uma ação do cramulhão (espiritual).

Sem em nenhum momento absolutizar a ciência (que como sabemos tem seus conhecimentos temporários e limitados), precisamos sim ouvi-la para tatear na compreensão do fenômeno da sexualidade em geral e da homoafetividade em particular.

b) No campo moral, como demonstra o autor, a moralidade não está no ‘lugar’, mas na ‘escolha’. Assim, cabe aqui o ensinamento do ‘bem possível’. Precisamos valorizar o esforço em uma vivência moral que reconhece seus limites pessoais, sociais ou culturais. Tal perspectiva é remédio ao pânico moral, que absolutiza comportamentos como pecaminosos e imorais, desconsiderando a pessoa em sua realidade e dilemas.

Como explicitado pelo mesmo Catecismo da Igreja Católica (1735):

"A imputabilidade e responsabilidade dum ato podem ser diminuídas, e até anuladas, pela ignorância, a inadvertência, a violência, o medo, os hábitos, as afeições desordenadas e outros fatores psíquicos ou sociais".

Os rigoristas veem nisso uma espécie de ‘graça barata’. Sim, um ‘relaxado’ poderia até achar que a vida do discípulo seja sem sacrifícios. Mas no seguimento de Jesus não estamos falando em uma troca de dores, mas de amores. É pelo Amor recebido e correspondido que devemos segui-Lo, não pelo cumprimento rígido de normas. O pânico moral rotula e discrimina a pessoa homoafetiva como pervertida e pecadora. A Igreja, não. Os atos serem desordenados não implica a exclusão da acolhida à pessoa.

c) Na espiritualidade e a vida na Graça:

Se a Igreja entende que uma pessoa não escolhe ser homoafetiva ou não, como se dá sua vida na Graça?
O autor afirma (p. 247):

A participação da comunhão de vida e amor da Trindade não é prerrogativa dessa ou daquela identidade de gênero, dessa ou daquela orientação afetivo-sexual.

Incontáveis pessoas homoafetivas continuam todos os dias na vida da Igreja, servindo e recebendo os sacramentos. Comenta-se que um dos maiores artistas católicos brasileiros, com obras espalhadas por igrejas Brasil afora, tenha tido ele também a condição homoafetiva, mesmo não sendo pública.

O CIC apresenta a castidade como o caminho aos homoafetivos (2359). O texto não fala em celibato. São definições diferentes. Mas concluímos pela imposição do celibato, já que o amor matrimonial, pelo Magistério, só é possível entre um homem e uma mulher.

Como seria possível que TODOS os homoafetivos e homoafetivas fossem chamados e chamadas a um estado (celibato) que na Igreja é esperado apenas de um grupo de consagrados e consagradas ao serviço divino, se não há nenhuma ligação entre as duas coisas? O único espaço para os e as gays seria o sacerdócio ou a vida religiosa?

Repito, o Magistério terá de um dia responder à estas perguntas. Mas ele já afirma que um católico LGBT ou um LGBT católico não pode ser rotulado de ‘estar em pecado’ por ser pessoa homoafetiva, mesmo em atos desordenados, pelos quais não teria ‘liberdade’. Este julgamento deveria pertencer a Deus, a orientação pertencer ao confessor. O pânico moral que estamos abordando se baseia em uma distorção teológica  pastoral.

d) No campo pastoral: na prática de sua vida e de seu ensinamento, Jesus condicionou as pessoas para serem amadas ou superou as normas sociais de seu tempo, a imensa maioria baseada nas Escrituras? Quando o jovem rico vai embora, Jesus deixa de amá-lo? Quando os judeus recusam o discurso do Pão da Vida, Jesus os declara anátemas? Ele autoriza jogar raios sobre os que se recusaram a recebê-lo? Ele toca ou rejeita o leproso?

Nos dias de hoje, Jesus agiria de acordo com normas morais que excluem, e faria campanha contra certos comportamentos? Anunciaria o Reino como encontro com o Amor, ou que devemos lutar para combater alguns grupos e aqueles que o defendem?

O discurso reacionário no sentido de uma pastoral ‘de domínio’ sobre a sociedade quer uma Igreja hegemônica, um verdadeiro retorno à cristandade, apresentando um discurso de hegemonia moral que se encontra em perigo. Este é um dos pilares do pânico moral.

Mas este é o caminho da Igreja? Não, segundo um Cardeal alemão, ainda em 1968:

“Da crise atual surgirá uma Igreja que terá perdido muito. Será menor e terá que recomeçar mais ou menos do início. Já não será capaz de habitar os edifícios que construiu em tempos de prosperidade. Com a diminuição de seus fiéis, também perderá grande parte dos privilégios sociais”. Recomeçará com pequenos grupos, com movimentos, e isto graças a uma minoria que terá a fé como centro da experiência. “Será uma Igreja mais espiritual, que não subscreverá um mandato político cortejando seja a Esquerda, seja a Direita. Será pobre e se converterá na Igreja dos indigentes”.

Identifica-se esta busca a um ‘mundo perfeito perdido’ claramente quando vemos perfis com saudades e estéticas medievais. Não chegam à Igreja Primitiva em suas saudades.

Precisamos andar bastante se queremos viver o que nos ensinou o Concílio Vaticano II (CONSTITUIÇÃO PASTORAL GAUDIUM ET SPES, 1):

As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração.

Pode parecer o óbvio, mas o óbvio precisa ser dito e repetido quando o pânico moral quer ditar os nossos rumos: o sofrimento e os desafios dos que não estão em um padrão de sexualidade aceito pela sociedade são também os da Igreja.

Conclusão

Empobrecerei pela arte do resumo todas as considerações finais, pois são poéticas na arte de João Guimarães Rosa, citando Riobaldo de Grande Sertão: Veredas.

Pânico moral é dia-bólico porque com ele as pessoas: perdem a capacidade de ver a realidade como ela é e de ver Deus nas pessoas e situações; ficam com medo do novo, o que retira a esperança e o esperançar; veem o outro com desconfiança, tirando o respeito mútuo; deixam de ver os reais problemas, esfriando o amor pela dor do outro e do mundo; são levadas a arquitetar o mal para o outro; se dividem e dividem o Povo de Deus.

Felizmente, podemos encerrar com a Esperança de que Os pânicos morais podem ser diabólicos, mas não há ‘diabo’ que resista ou se imponha à verdade que liberta e ao Espírito que conduz a ela.

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