06 Setembro 2025
"O caminho para a reconciliação entre a Igreja e as pessoas LGBTIAQ+ ainda é longo, mas escolhemos dialogar."
O artigo é de Rosario Lo Negro, publicado por Avvenire, 03-09-2025. A tradução Luisa Rabolini.
Eis o artigo.
O que emergiu durante o Caminho Sinodal das Igrejas na Itália foi descrito como o vento de Pentecostes, que revira tudo. Cada pessoa falou sua própria língua, a da diocese ou do grupo que representava. E, no entanto, nos entendemos. Quando falamos da Igreja como “família” ou “comunidade”, vamos além do simples fato – como no caso dos laços de sangue ou do local de nascimento.
A inevitabilidade de um destino que não escolhemos dá lugar à dimensão eletiva que é própria de um compromisso consciente de corresponsabilidade. A pluralidade de pessoas, experiências, ideias, regras que constitui a comunidade exige, de fato, um empenho conjunto e uma mediação constante que possa harmonizar as diferenças, as aproxime e favoreça o diálogo construtivo.
Existem alguns casos em que essa mediação e harmonização é mais difícil, devido a uma multiplicidade de fatores que vão desde as normas compartilhadas até o fluxo da história, frequentemente marcado por oposições, às vezes violentas e ideológicas. Um desses casos é o nosso, pessoas cristãs LGBTIAQ+. Viver a contradição na própria pele é difícil: ninguém gostaria de deixar a comunidade à qual pertence por causa de sua identidade ou das relações afetivas. No entanto, a falta de entendimento entre a Igreja e as pessoas LGBTIAQ+ tem frequentemente tornado esse distanciamento uma necessidade, dando origem, em muitos casos, a dinâmicas discriminatórias, por um lado, e a relações blindadas, por outro.
Mas a história, em seu dinamismo intrínseco, exige e traz consigo a mudança.
A experiência da Igreja vivida na segunda assembleia sinodal demonstrou precisamente isso: as comunidades não têm medo de mudar, graças a novas consciências, a novos sujeitos envolvidos, a novos conhecimentos e a novas experiências de vida que começam a emergir da escuridão do armário onde ficavam trancadas. Isso também se deve a novas formas de tomar decisões, juntos, com a contribuição corresponsável, preciosa e insubstituível de cada pessoa.
Também nós, pessoas LGBTIAQ+, nossos pais, familiares e agentes pastorais — nossos companheiros de viagem — participamos do caminho sinodal, trazendo a realidade de nossas vidas e fazendo nossas vozes ressoarem. Pois não somos uma anomalia, mas parte da cotidianidade de muitas comunidades e grupos eclesiais. Não somos "jogados" ao mundo, sem sentido e apenas para sofrer por nossa "situação particular", mas somos "chamados" ao mundo para contribuir ativamente na construção do Reino do Amor. Nossa invisibilidade foi transfigurada em dignidade. É o "milagre" da reconciliação, um sacramento que transcende a dimensão individual e comunitária para tocar as feridas da história. Não se trata de padronizar os pensamentos, mas de reconhecer e acolher a beleza da diversidade de experiências e existências que compõem a Igreja e o mundo. Reconhecer e participar. Todas, todos, todas as pessoas estamos engajadas no que várias vezes chamamos de "sonho de Deus".
O diálogo é uma escolha compartilhada, assim como a paz.
O caminho para a reconciliação entre a Igreja e as pessoas LGBTIAQ+ ainda é longo, mas escolhemos dialogar.
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