10 Setembro 2025
Abdel Karim El Khamlichi, de origem marroquina e residente no País Basco, está em um dos navios da chamada Flotilha da Liberdade, que busca romper o bloqueio israelense.
A reportagem é de Mikel Bejarano, publicada por El Salto, 09-09-2025.
Oito dias após zarpar pela primeira vez do cais de Barcelona, Abdel Karim El Khamlichi, a bordo de um pequeno barco, mantém os olhos fixos no mar, onde seu objetivo há muito almejado é romper o bloqueio genocida que mata de fome e leva o povo palestino à extinção. O corredor humanitário, sonho dos mais de 300 voluntários a bordo da flotilha, também é a luta de "Karim".
Várias organizações políticas, ONGs e ativistas formaram a flotilha, que partiu do Moll de la Fusta, em Barcelona. Forças de 44 países diferentes convergirão no mar. É por isso que ela é chamada de Flotilha Global Sumud. Seu nome vem do árabe ṣumūd (perseverança, constância), em homenagem à resistência palestina contra a ocupação israelense. A missão carrega um enorme peso simbólico, planejada em terra, arriscada no mar.
Dos mares tunisianos, Karim conta a Hordago sua indignação com a inação e a colaboração dos governos ocidentais no genocídio palestino. Ele é de origem marroquina e vive no País Basco há duas décadas. É membro da Gazarako Mugimendu Globala, uma organização que recentemente expressou sua solidariedade à Palestina com um exercício de jejum em Vitoria-Gasteiz.
Esta não é a primeira vez que Karim se aventura em uma missão dessa natureza. Em junho passado, ele participou da Marcha Mundial para Gaza, realizada no Cairo. Mais de 3 mil ativistas de quase 50 países tentaram romper o bloqueio no Egito, mas foram duramente reprimidos pelas autoridades. Muitos deles foram deportados.
“A partida de Barcelona foi incrivelmente emocionante; senti-me verdadeiramente orgulhoso e muitos dos meus colegas nem conseguiam olhar”, diz ele, referindo-se às primeiras horas e à onda de apoio que se viu antes da partida da flotilha.
É uma longa jornada, e espera-se que as autoridades israelenses intervenham e "ataquem" a flotilha, como aconteceu na tentativa anterior. O ministro da Segurança Nacional israelense, Ben Gvir, propôs tratar a ação humanitária como terrorista, o que significaria que os tripulantes seriam levados para prisões de segurança máxima e possivelmente submetidos a maus-tratos. Karim afirma não ter medo, nem ele nem nenhum dos tripulantes da expedição: "Se eles pararem a flotilha, não haverá apenas uma, haverá milhares em todo o mundo." Ele repete: "Não temos medo de assassinos, não temos medo daqueles que massacram um povo inteiro."
A maioria dos barcos da Flotilha é pequena, e a convivência é um pouco mais difícil devido ao espaço limitado. Mesmo assim, Karim também nos conta sobre a rotina diária de uma viagem que já dura mais de uma semana: "Temos um ótimo relacionamento no barco; não nos falta nada e é muito bem organizado."
A Flotilha não é composta apenas por tripulantes e navios no Mediterrâneo; por trás dela, centenas de ativistas estão tecendo uma aliança logística, midiática e de solidariedade com a expedição em terra. Por exemplo, Reem Dandan, professora e cientista política com raízes na cidade de Aqraba, na Cisjordânia, e participante da Marcha Global para Gaza, está em terra coordenando entrevistas para a mídia e realizando diversas atividades logísticas. "É importante", diz ela.
Reem acredita que a Flotilha rompe com os métodos de mobilização atuais, que se concentram exclusivamente em denunciar o genocídio palestino. "Colocar nossos corpos na linha de frente e ir além é necessário; não devemos ter medo deles."
Tanto Karim quanto Reem agradecem o apoio dos ativistas que se manifestaram contra a participação da equipe israelense na Vuelta. O genocídio em Gaza e na Palestina ocupada continua inabalável, com dezenas e centenas de mortes todos os dias. Não há tempo a perder. A pressão da mídia contra o Estado de Israel e seus interesses políticos e econômicos se intensifica a cada dia.
Impulsionada por uma força global, a flotilha avança em direção às águas palestinas. A bordo, rezam por ventos favoráveis e mares tranquilos. Da terra, firmeza, ṣumūd.
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