20 Mai 2025
Ministro diz que é favorável a pesquisas sobre reservas na Margem Equatorial, mas ressalta que petróleo não pode atrasar transição energética.
A informação é publicada por ClimaInfo, 19-05-2025.
Como a ciência já comprovou diversas vezes, a queima de combustíveis fósseis é a principal causa das mudanças climáticas. Ainda assim, há integrantes do governo, liderados pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, que insistem em explorar petróleo no Brasil “até a última gota”. Esta, porém, não é a visão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que lidera o Plano de Transformação Ecológica.
Em entrevista a André Trigueiro no programa “Cidades e Soluções”, na Globonews, Haddad deixou claro que o mundo precisa abrir mão do petróleo o quanto antes. O ministro sabe que somente assim será possível se conter a crise climática que provoca eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos. Caso da catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul em maio do ano passado e fez o governo federal desembolsar cerca de R$ 100 bilhões para cobrir parte dos prejuízos – contas que recaem sobre a pasta de Haddad.
A Margem Equatorial, em particular a bacia da foz do Amazonas, é o alvo da ala pró-petróleo no Brasil. Haddad defende que haja pesquisas para saber se há mesmo combustíveis fósseis na região, e, se houver, em que quantidade. Mas ressalta que a descoberta, se acontecer, não pode ser uma desculpa para o país atrasar a transição energética. Que, aliás, até agora não tem um plano – tarefa que é responsabilidade do Ministério de Minas e Energia (MME).
“Temos que o quanto antes prescindir do petróleo. Não temos condição de usar petróleo sem emitir carbono. Isso se faz com investimento em fontes renováveis, e o Brasil lidera esse processo há décadas. Saber o que tem na Margem Equatorial é importante, sou a favor da pesquisa. Mas o petróleo que eventualmente possa estar lá não pode ser pretexto para atrasarmos a nossa transição energética. Porque aí nós vamos ter que usar e vamos ter a desculpa de não ter outra fonte de energia. Aí não dá”, disse Haddad.
Além de reforçar a necessidade da transição energética no país, Haddad falou de algumas ações de sua pasta para a COP30. Entre elas está a formatação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que pretende captar US$ 125 bilhões. Segundo o ministro, o desenho do TFFF está adiantado e atrai muitos entusiastas, mas ainda sem manifestações de interesse por parte da China e dos EUA.
“As duas grandes potências ainda não deram sinal verde, mas tem um conjunto de países europeus querendo aportar recursos”, afirmou Haddad. “Mas não vejo por que alguém recusaria uma proposta dessa, não consigo entender um bom argumento para não salvar as nossas florestas, que respondem hoje por uma parte da limpeza que se faz do carbono na atmosfera”.
Apesar do silêncio da China sobre o TFFF, o ministro acredita que o país pode se tornar um “grande parceiro global” na ação climática. “A China é o maior produtor de painéis solares, está fazendo sua transição automotiva na maior velocidade possível e já produz os carros elétricos mais baratos. É um grande emissor. Mas uma coisa é a pessoa emitir, outra é não fazer nada. E eles têm tecnologia. Não é só dinheiro”, afirmou.
A entrevista de Haddad teve grande repercussão, com matérias no Brasil 247, Estadão, InfoMoney, O Globo, MoneyTimes, O Tempo, Poder360, UOL e Valor.
O IBAMA aprovou na 2ª feira (19/5) o conceito do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada (PPAF) apresentado pela Petrobras como parte do Plano de Emergência Individual (PEI) no licenciamento do poço que a petroleira quer perfurar no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas. A aprovação indica que o plano atendeu aos requisitos técnicos exigidos em seus aspectos teóricos e metodológicos e está apto para a etapa de realização de vistorias e simulações de resgate de animais da fauna oleada, que testarão, na prática, a capacidade de resposta em caso de vazamentos de óleo. O IBAMA esclarece que a aprovação do PPAF não é a licença para a Petrobras perfurar o poço, que ainda depende da verificação em campo da viabilidade operacional do PEI. Para isso, o IBAMA definirá, com a Petrobras, um cronograma para a Avaliação Pré-Operacional (APO), que verificará, por vistorias e simulações, a efetividade do Plano de Emergência Individual proposto.