27 Fevereiro 2025
Grande importância ambiental da região e altos riscos de desastres, como vazamentos de petróleo, são as principais razões apontadas para não aprovar exploração da foz.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 27-02-2025.
A narrativa da Petrobras e do Ministério de Minas e Energia (MME) – reforçada nas últimas semanas pelo presidente Lula –, segundo a qual a exploração de petróleo na foz do Amazonas é “segura” e “necessária” para o desenvolvimento do país e a geração de riquezas não convenceu a população. E mais: seguir com a atividade, pressionando o IBAMA para liberar a licença para a petroleira, pode atingir ainda mais a já combalida popularidade de Lula.
Este é um dos achados da 163ª Pesquisa CNT de Opinião feita pelo Instituto MDA entre 19 e 23 de fevereiro e divulgada na 3ª feira (25/2), que avalia o governo. Segundo o levantamento, metade da população (49,7%) é contra explorar combustíveis fósseis na foz, ante 20,8% a favor. Para 16,5% é indiferente a Petrobras atuar ou não na região. E 13% não sabiam ou não responderam.
Entre os contrários à exploração, 43% creem que a região é de grande importância ambiental e deve ser preservada a todo custo. Para 25,6%, há riscos altos de desastres ambientais, como vazamentos de óleo; 13,5% dizem que o Brasil pode explorar petróleo em áreas menos sensíveis ambientalmente; 11,1% afirmam que a exploração não vai baixar o preço dos combustíveis; e 2,3% opinam que o número de empregos gerados pode ser insuficiente para justificar os impactos, detalha o UOL.
Já entre os favoráveis, 37,2% dizem que a exploração pode gerar empregos e movimentar as economias local e nacional; 20,4% dizem que o petróleo é um recurso energético estratégico para o desenvolvimento do país; 18% creem que o Brasil tem tecnologia para explorar com segurança e responsabilidade ambiental; 17,5% veem que a exploração pode contribuir para reduzir o preço dos combustíveis; e 5,5% dizem que outros países já exploram petróleo em áreas próximas (leia-se Guiana, a 1.000 km de distância ou a distância entre Salvador e Recife).
É evidente que a imensa reprovação popular à exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas precisa ser considerada por um governo que daqui a oito meses quer fazer da COP30 o palco para mostrar liderança na agenda climática global. A contradição entre o discurso para a conferência e a ação pró-petróleo na Amazônia é apontada por várias organizações da sociedade civil. Não à toa o Observatório do Clima (OC) provocou o presidente com a expressão “Drill, Lula, drill”, comparando sua defesa do petróleo na região e seus ataques ao IBAMA ao lema “Drill, baby, drill” usado por Donald Trump na campanha eleitoral dos Estados Unidos, lembra a Folha.
Analisando a pesquisa, Vinicius Torres Freire destaca na Folha que Lula tem procurado “falar ainda mais nas escolas, nas ruas, campos, construções, em rede nacional ou em rádios locais”. Foi em entrevistas para rádios, por exemplo, que o presidente defendeu explorar petróleo na foz. No entanto, para 60,1%, seus discursos são “desatualizados e repetitivos”. Para 62%, o governo “está no rumo errado”. E para 64,8%, Lula “não merece” um quarto mandato. No geral, 44% acham o governo ruim ou péssimo, contra 29% de ótimo/bom.
Não significa que a exploração de petróleo na Amazônia é o que mais desagrada. A inflação incomoda mais. Mas boa parte da explosão inflacionária está relacionada com eventos climáticos relacionados às mudanças do clima, causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis.
Ainda que tal conexão não seja percebida pela maioria, o sinal de alerta já deveria estar no radar de Lula. Sob o risco de prometer “riqueza” com o petróleo da foz, mas entregar comida cara e cidades arrasadas por eventos extremos. Sem falar nas perdas de vidas humanas e da biodiversidade.
“Além de tudo, a exploração de petróleo na foz sequer será viável a longo prazo. Os primeiros poços só devem entrar em operação em cinco anos, quando o mundo precisará acelerar a transição para energias renováveis e abandonar os combustíveis fósseis para evitar o colapso climático. Enquanto isso, espécies comuns da Amazônia já estão em declínio pela crise climática. Os planos do governo apenas aprofundam a perda de biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistêmicos, com impactos diretos para o Brasil, incluindo o aumento de pragas agrícolas e o surgimento de novas doenças”, destaca o pesquisador da USP e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Lucas Ferrante, na Agência Cenarium.
Investidor10, Jornal do Comércio e Amazonas Atual também repercutiram os resultados da pesquisa sobre a exploração petrolífera na foz do Amazonas.