29 Abril 2025
"A escolha do nome, a escolha da residência pessoal e as primeiras palavras ao “povo de Deus” e ao mundo serão o melhor teste para ler a passagem de um papado para outro. A crônica não serve para isso, é preciso a história, bem diferente da crônica", escreve Luis Badilla, jornalista, em artigo publicado por Domani, 25-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O momento de fazer um balanço do pontificado de Bergoglio ainda não chegou. São necessários alguns anos, não muitos, mas são necessários. São os tempos da História e não os da crônica que realmente ajudam. Por enquanto, tudo o que é visto e ouvido, especialmente em alguns países europeus, tem apenas o mérito da atualidade. Fatos e fontes, testemunhos e pesquisas são dinamismos que estão lentamente começando a girar, à espera das verdadeiras perguntas. A tarefa que muitos especialistas terão que encarar no mundo acadêmico e dentro da Igreja Católica - e que deveria levar ao verdadeiro rosto do papa - é complexa e muito difícil, enquanto o que a crônica vem relatando há doze anos é fácil e simples. Francisco agora sai da crônica e entra na História.
Quando o túmulo em Santa Maria Maggiore for fechado, será a hora da verdade sobre um papa muito amado e aplaudido, admirado e celebrado, mas ao mesmo tempo polêmico, gerador de divisão e controverso. O Papa Francisco ainda é, e será, um enigma, e não apenas porque todo o seu pontificado foi pouco transparente - especialmente em determinados momentos e eventos - mas também porque a personalidade de Jorge Mario Bergoglio Sivori ainda está para ser decifrada. Personalidade e trabalho estão fortemente entrelaçadas. Não poucos atos de governo do papa são inexplicáveis se não forem levados em conta sua personalidade e caráter.
A tudo isso, nesses dias de morte e de preparativos do funeral, somaram-se - previsivelmente - tentativas sem sentido de alistar seu magistério à esquerda e à direita, algo impensável só poucos dias atrás. Lendo as mídias internacionais mais autorizadas, aparece um papa inédito, decididamente reformista, mas ao mesmo tempo conservador férreo.
É interessante que essas leituras de Bergoglio desconsideram completamente o fato central: o papa argentino era o líder dos católicos como bispo de Roma, mas parece que o papel religioso de Francisco não tinha nada a ver com a razão última pela qual ocupava a Cátedra de Pedro.
Todo mundo tira do pontífice a parte de que precisa no momento e, com acrobacias variadas, algumas surpreendentes, Francisco se torna um ícone da conservação e da tradição, mas também da revolução e do reformismo. Os primeiros nessa operação são os católicos e a imprensa católica e, paradoxalmente, parcelas da nomenclatura católica também estão participando. Sobre o papa falecido que veio do “fim do mundo”, finis terrae, caiu, assim, um pesado duplo capuz: uma leitura secularista que focaliza tudo na narrativa biográfica ou no perfil de um líder do povo, quase um Masaniello da fé cristã. Mesmo que o clima midiático seja digno de imprensa soviética, contrário e ofensivo à humildade e à mansidão com que a mesma imprensa imortaliza o papa falecido, todas as operações realizadas já estão destinadas a desaparecer após a eleição do novo bispo de Roma, cujo nome e sobrenome nos dirão imediatamente como a Igreja Católica viveu esses doze anos de papado bergogliano.
A escolha do nome, a escolha da residência pessoal e as primeiras palavras ao “povo de Deus” e ao mundo serão o melhor teste para ler a passagem de um papado para outro. A crônica não serve para isso, é preciso a história, bem diferente da crônica.
O grande problema é que o Papa Francisco foi um pontífice enigmático poliédrico e, portanto, assim também serão os balanços. Bergoglio teve e apresentou várias faces: o papa midiático, mas também institucional, o da opinião pública e dos grandes encontros - “da Praça”, teria dito antes de morrer - e o soberano do Estado da Cidade do Vaticano, o reformista, mas também o conservador ortodoxo da doutrina. De acordo com os pontos de vista ou os lados do poliedro, teremos balanços diferentes e contrastantes, assim como haverá as mesmas variações com relação à personalidade do jesuíta argentino eleito em 2013. A decantação histórica acabará limpando e separando os ingredientes de uma mistura que hoje deixa a vista turva.